Britânica diz que alunos brasileiros seriam “vacas leiteiras”

Sindicato das universidades do Reino Unido acusa instituições de atrair 10 mil estudantes do Brasil para pagar rombo no orçamento

Autoridades do meio universitário britânico estão sendo acusadas de tentar sanar um rombo no financiamento de instituições britânicas atraindo 10 mil alunos brasileiros para universidades particulares locais, segundo reportagem publicada neste domingo pelo jornal The Observer. Os estudantes iriam com bolsas do governo brasileiro que seriam pagas às instituições.

No mês passado, o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, anunciaram que um projeto para oferecer 75 mil bolsas no exterior seria apresentado à presidenta Dilma Rousseff nos dias seguintes.

Segundo o Observer, a tentativa de acordo entre Grã-Bretanha e Brasil foi iniciada no mês passado, quando o ministro das Universidades britânico, David Willetts, esteve no Brasil. O jornal diz que o plano é de que o governo brasileiro destinasse um total de 18.700 libras para cada estudante (cerca de R$ 47 mil).

De acordo com o jornal, o projeto recebeu críticas por parte da secretária-geral do Sindicato de Universidades e Faculdades, Sally Hunt. Em entrevista ao Observer, Sally Hunt afirmou que a Grã-Bretanha ”se beneficia enormemente com a vinda de estudantes e funcionários de todo o mundo. Mas o governo não deveria usar estudantes estrangeiros como ‘vacas leiteiras’ e como forma de pagar pelo seu fracassado plano de financiamento universitário”.

Universidades brasileiras fora do ranking
O jornal lembra que o Brasil não possui nenhuma instituição de ensino no tradicional ranking publicado anualmente pelo jornal britânico The Times, o Times Higher Education Supplement, que lista as 200 mais importantes universidades mundiais.

O Universities UK, órgão que representa universidades britânicas, elogiou o plano, dizendo que ele promete “beneficiar estudantes dos dois países e suas economias” e que as bolsas destinadas a brasileiros seriam para períodos de estudos inferiores a um ano. Um porta-voz do governo britânico informou ao Observer que as conversas com o Brasil ainda estão em estágio inicial.

Cortes de gastos
O Observer cita que a tentativa de acordo bilateral se segue a um corte de 200 milhões de libras (R$ 500 milhões) do financiamento estatal da educação superior na Grã-Bretanha, num momento em que a coalizão governista tenta conter o deficit público do país. Isso deve significar, segundo o jornal, 24 mil vagas a menos para estudantes britânicos e da União Europeia.

Cortes nas verbas do ensino superior desencadearam uma onda de protestos estudantis na Grã-Bretanha no final do ano passado. “Ainda que os brasileiros não ocupem lugares que, de outra forma, estariam disponíveis para estudantes britânicos e europeus, a preocupação é de que o modelo de financiamento do governo para a educação superior fique cada vez mais dependente de atrair (estudantes) estrangeiros que, se tivessem nascido na Grã-Bretanha, talvez tivessem dificuldades em obter uma vaga na universidade”, afirma o Observer.

* com informações da BBC