Conheça Caltech, a universidade que bateu Harvard em ranking

Com 31 vencedores do Nobel, instituto nos EUA é importante centro de pesquisa. Saiba quem são os brasileiros que estudam na universidade

Disparada a menor universidade entre as avaliadas pelo ranking britânico Times Higher Education das 200 melhores do mundo, a norte-americana Caltech (Califórnia Institute of Tecnology) conseguiu tirar a mais antiga instituição dos Estados Unidos do topo da lista pela primeira vez em oito anos. Com ares de colégio, o instituto localizado em Pasadena, a 11 quilômetros de Los Angeles, tem cerca de 900 alunos de graduação e 1.200 de pós-graduação, mas um trunfo que desbancou Harvard: investimento em pesquisa.

Fundada em 1891, a Caltech tem seis divisões acadêmicas com forte ênfase em Ciência e Engenharia. Com uma proporção de três alunos para cada professor, 31 de seus pesquisadores já ganharam o prêmio Nobel. Além disso, muitos membros do corpo docente são associados a instituições como a Howard Hughes Medical Institute (HHMI) – uma das maiores de pesquisa médica dos EUA – e a NASA.

O recifense Pedro Coelho, de 24 anos, é um dos cinco brasileiros que atualmente estudam no Instituto. Formado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, onde também fez mestrado na área de Química, está no terceiro ano do doutorado em Bioquímica. “Eu optei pela Caltech na semana em que vim conhecer o campus. Eu fiquei muito impressionado com as pessoas, com o ambiente, com o clima. Como só tem Ciência, o lugar respira Ciência, então as pessoas estão o tempo todo falando dos experimentos, tirando dúvidas, para um cientista é um ambiente único”, declara.

O fato de ser uma universidade especializada também motivou o carioca Thiago Gonçalves, de 30 anos, a se candidatar a uma vaga de pós-graduação. O brasileiro, que acabou de concluir o doutorado em Astrofísica, tinha sido na também reconhecida Princeton, mas optou pela Caltech porque oferecia mais recursos em astrofísica observacional. “Eu tinha computador de ponta, laptop, todas as conferências pagas, e passava 10 noites por ano no Havaí observando no telescópio Keck, atualmente o maior do mundo. Isso é mais ou menos a metade do tempo que o Brasil inteiro tem em um telescópio semelhante, o Gemini, e era dedicado exclusivamente para o meu projeto de tese”, explica. “Na verdade, tudo isso, incluindo meu salário, era pago pela NASA, que financiava o trabalho do meu orientador lá. Na Caltech a disponibilidade de verbas para pesquisadores é monstruosa, e isso é um tremendo diferencial”, completa.

Como só tem Ciência, o lugar respira Ciência, então as pessoas estão o tempo todo falando dos experimentos, tirando dúvidas, para um cientista é um ambiente único

Outro estudante brasileiro que foi atraído pela infraestrutura do instituto de Pasadena é o paulistano Ariel Settom, de 18 anos, que tinha sido aceito nas universidades de Princeton e Columbia.”Optei pela Caltech porque tinha mais a ver com os meus interesses profissionais. Aqui na universidade os recursos são muito amplos. Há várias bibliotecas que você pode usar e o acesso aos laboratórios não é restrito, o que é uma característica daqui mesmo. Outro diferencial que é muito importante é que os estudantes de graduação podem fazer pesquisa ajudando algum professor desde o comecinho do curso”, declara. Ariel está na universidade há um mês, mas já se inscreveu para o programa Surf – Summer Undergraduate Research Fellowships, desenvolvido durante o verão com o objetivo de introduzir os estudantes ao processo de pesquisa em laboratório com a orientação de experts da Caltech. Os selecionados recebem um salário de U$S 5 mil por 2 meses.

Investimento em pesquisa foi diferencial para conquista do primeiro lugar no ranking Times Higher Education

Investimento em pesquisas em alta
O incremento em pesquisas, aliás, foi o fator decisivo para a determinação do primeiro lugar no ranking britânico. De acordo com Phil Baty, editor do Times Higher Education World University Ranking, apenas alguns décimos separaram o primeiro do segundo lugar da lista. “A diferença entre Harvard e a Caltech no ano passado foi minúscula. O que aconteceu este ano foi que a Caltech teve um aumento de 16% em sua receita de pesquisa. Harvard também teve um aumento, mas foi mais discreto, no mesmo patamar das demais universidades”, explicou.

Para o presidente da Caltech, Jean-Lou Chameau, essa ampliação dos investimentos só foi possível graças aos doadores. “Esse apoio dá à Caltech a capacidade de investir em novas ideias muito antes que elas sejam elegíveis para as oportunidades de financiamento público. E esse modelo de parceria público-privada faz com que os nossos fundos de pesquisa possam ir mais longe”, disse em nota oficial. A Caltech está na lista das 10 universidades norte-americanas com mais dinheiro em caixa, com U$S 1,7 bilhão.

Como estudar na Caltech
Segundo estimativas da própria universidade, apenas 13% do total de estudantes que se candidatam a uma vaga são aceitos pela Caltech. Aproximadamente 12% dos alunos de pós e 37% dos de graduação são estrangeiros.

O processo para os brasileiros começou através do site da universidade, onde eles preencheram a ficha de inscrição, e é composto por diversas fases que incluem análise de currículos e entrevistas presenciais em algumas cidades do Brasil como Rio de Janeiro e São Paulo. Para os candidatos a doutorando, depois de uma pré-seleção há também entrevistas presenciais no câmpus da Caltech, com as despesas pagas pela universidade. As inscrições no site da universidade geralmente se iniciam em novembro e o resultado sai em janeiro. Os estudantes também têm que comprovar proficiência em inglês e prestar o GRE (espécie de vestibular específico de cada área).

“Ao todo levei pelo menos uns três meses para separar toda a documentação, mas o processo todo chega a uns seis meses”, explica o brasiliense Guilherme de Freitas, de 29 anos, que há três faz doutorado em Economia na instituição. Casado com a professora de violoncelo Melissa, que é sul-africana, e pai de Leonardo, de sete meses, ele recebe, como todos os alunos de doutorado, uma bolsa de estudos que cobre uma anuidade de U$S 31 mil. “Eles oferecem até assistência para pagar a babá para o meu filho. É uma estrutura que eu consigo me manter e cuidar da minha família”, conta.

Os doutorandos também recebem um salário de pesquisador que varia entre U$S 25 e U$S 30 mil por ano e a rotina de aulas depende do programa que o aluno decide cursar. O paulista Fernando Ferrari de Góes, de 27 anos, que cursa doutorado em Ciência da Computação desde 2009, explica que teve que fazer 15 disciplinas nos dois primeiros anos além de um exame oral no final do primeiro ano. “Completando esses créditos, você não é obrigado a cursar mais matérias e se dedica exclusivamente à pesquisa”, completa.

Se você for bom, mesmo que você não tenha o dinheiro para pagar você não vai ficar sem estudar. Eles valorizam muito o seu talento

Para os alunos de graduação, é um pouco diferente. Os custos anuais são bem maiores, podendo chegar a U$S 54 mil, incluindo taxas, material didático e acomodações nas casas da universidade dedicada aos estudantes. “Geralmente eles costumam olhar a sua estrutura familiar, o quanto você pode pagar por mês, então eles te dão uma bolsa de estudos no valor excedente”, explica o paranaense Alex Takeda, de 20 anos. “Se você for bom, mesmo que você não tenha o dinheiro para pagar você não vai ficar sem estudar”, afirma.

Cerca de 60% dos estudantes de graduação moram nas acomodações oferecidas pela universidade em um complexo de oito casas divididas pelo câmpus. “É como se fosse uma coisa meio Harry Potter, tem as casas, as cores, as regras. Você tem quartos individuais e duplos, que ficam localizados na parte superior das residências e na área térrea ficam a cozinha e áreas comuns, que incluem um refeitório e uma sala de convivência”, explica Ariel Settom. No subsolo das casas há ainda um complexo de salas de estudo, de música e bibliotecas para permitir a interação entre os alunos, que também podem criar clubes de discussões e estudos sobre temas específicos, como ficção científica, por exemplo.

Já para os alunos de pós-graduação, a Caltech oferece um complexo de apartamentos mobiliados para 1, 2 ou 4 pessoas.

Planos para o futuro
Ao que tudo indica, os estudantes brasileiros já estão com o futuro garantido após terminarem os seus respectivos cursos na Caltech. Enquanto Pedro quer voltar ao Brasil e seguir carreira na área de Biotecnologia, Guilherme e Fernando pretendem ser professores acadêmicos, mas ainda não sabem se em terrar brasileiras.

Já os alunos de graduação, Alex e Ariel, ainda não decidiram em qual área vão atuar, apesar de já terem uma vaga ideia (na Caltech os graduandos só definem a área de estudo no terceiro ano). “Independente do curso que eles seguirem, com certeza só pelo fato de estarem aqui, respirando esse ambiente, já dá um empurrão muito grande na carreira. É como se eles fossem absorvendo as coisas por osmoze”, compara Pedro.

Já Ariel diz estar muito satisfeito com o andamento do curso. “Com certeza eu só posso dizer aos estudantes brasileiros que tiverem oportunidade para virem se arriscar fora do país. O conhecimento que você adquire é inexplicável”, diz. “O Brasil tem muitos estudantes no perfil da Caltech, que não se candidatam porque não sabem da existência do instituto. Quem sabe isso muda agora com a maior divulgação desse ranking, né?”, completa.

Para o veterano Thiago, que atualmente está cursando pós-doutorado na UFRJ, o melhor conselho para os alunos mais novos é arriscar. “Se eu pudesse dizer alguma coisa aos alunos mais novos seria: saiam pra fazer doutorado fora. O Brasil está passando por um excelente momento de expansão em ciência e tecnologia, e a experiência adquirida em um doutorado no exterior ao mesmo tempo contribui para o desenvolvimento aqui e oferece um diferencial na hora de conseguir emprego. Eu mal terminei meu doutorado e já consegui as duas bolsas de estudo que almejava”, finalizou.