Cresce procura por novos modelos de ensino superior

Aulas online, câmpus itinerante e sistema de workshop são opções para quem deixou de apostar na universidade tradicional

SÃO PAULO – Um ano depois de entrar em uma das mais concorridas universidades brasileiras, Danilo Oliveira Vaz começou a se sentir insatisfeito com o curso escolhido e desanimado com as possibilidades na futura carreira. Aos 21 anos, abandonou o curso de Engenharia Mecânica na Universidade Estadual Paulista (Unesp) para ir estudar na Universidade Minerva, fundada no ano passado.

A instituição tem a proposta de oferecer aulas online em um câmpus itinerante – os alunos assistem às aulas em sete diferentes cidades (São Francisco, nos Estados Unidos; Berlim, na Alemanha; Buenos Aires, na Argentina; Seoul, na Coreia do Sul; Bangalore, na Índia; Londres, na Inglaterra; e Istambul, na Turquia). “A Minerva tem um câmpus global e um currículo elaborado para ensinar as competências de diversas áreas”, explica Alex Cobo, diretor de América Latina da universidade.

Para a segunda turma da Minerva, que começará o primeiro semestre em setembro, três brasileiros foram selecionados. Para chegar a 120 alunos, a universidade recebeu mais de 11 mil inscrições de 160 países. A taxa de aprovação foi de 1,09%. Entre as universidades da Ivy League, as mais concorridas dos Estados Unidos, Harvard tem taxa de 5,9%, Yale de 6,72% e Columbia, de 6,94%.

Com 1.400 inscrições, o Brasil foi o quarto país do mundo com mais interessados – atrás apenas de Estados Unidos, Índia e China. O custo da universidade, incluindo gastos com moradia, alimentação e livros, é de U$ 28.450 ao ano – cerca de R$ 99,5 mil.

“O mundo mudou muito na última década, mas a educação, principalmente nas universidades, continua sendo a mesma de séculos atrás. E os alunos não se identificam mais com essa forma de ensino”, diz Cobo.
Vaz contou que a forma “passiva” de ensino na universidade foi o que despertou sua insatisfação pelo curso. Por isso, ele começou a procurar formas de se envolver mais em seu aprendizado, fez intercâmbio na Jordânia, criou uma ONG de trabalho voluntário na universidade e isso só reforçou o quanto o curso tradicional não correspondia às aspirações.

“Quanto mais eu abria minha cabeça, mais eu percebia que a educação tradicional me afastava do que eu queria ser. A Minerva se mostrou uma alternativa a tudo isso”, conta.

Lara Yacoub Bach, de 18 anos, também ficou decepcionada ao entrar em Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela estudou em um colégio no ensino médio em que os alunos eram estimulados a participar das aulas e a fazer atividades extracurriculares.
“E na universidade tinha aulas de quatro horas, com um mesmo professor, sem que houvesse nenhuma interação com os alunos. Eu ficava cansada e não conseguia me concentrar.” Depois de um mês, ela foi selecionada para a Minerva e desistiu da universidade brasileira.

Pausa. Estudar fora de uma universidade também é uma opção para quem não sabe qual curso escolher ou mesmo o que fazer depois da graduação. Essa é a proposta do movimento Uncollege, que chegou ao Brasil no ano passado e já está com a quarta turma montada. Para a mais recente, que terá início no próximo mês, foram 35 inscrições para dez vagas disponíveis.

O programa é uma espécie de “ano sabático”, em que os alunos ficam três meses em Ilhabela, onde têm workshops e orientação de coachings, e depois desenvolvem um projeto e fazem estágio em empresas parceiras. A experiência tem um custo anual de R$ 13 mil.
Caroline Ferraz, de 22 anos, entrou no Uncollege no início do ano, depois de se formar em Comunicação Social. Ela buscou a experiência como forma de “trampolim profissional” e de autoconhecimento. No ano que vem, vai estagiar em uma empresa em Berlim. “Minha ideia era sair da bolha da universidade, aprender mais e entender mais sobre mim mesma.”

Experiências. Para Alex Cobo, da Minerva, apesar do grande interesse dos alunos brasileiros pela instituição, falta aos jovens saber promover conhecimentos, qualidades e experiências. “Os alunos americanos estão acostumados a se apresentar em entrevistas e mostrar suas experiências para serem aprovados. No Brasil, essa seleção fica única e exclusivamente por conta de provas.”

“Nosso ensino é todo com base em conteúdo e não na formação do aluno, seja para ser um cidadão ou profissional”, critica o especialista em ensino superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Leandro Tessler. “Não dá pra exigir que um adolescente de 16, 17 anos escolha que profissão seguir sem ter conhecimento. O jovem ainda entra no curso que escolheu e não na universidade.

ISABELA PALHARES – O ESTADO DE S. PAULO