Dentro da escola

Editorial

País alcança algumas metas para chegar a 2022 com educação de qualidade, porém alunos e professores ainda têm muito a aprender

Nenhuma nação, de que tamanho seja, pode conformar-se com 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola. No Brasil isso representa menos de 2% da população, mas é como se um Uruguai inteiro de 4 a 17 anos fosse esquecido na margem da estrada.

Tal foi a cifra que mais chamou a atenção no balanço periódico do ensino no Brasil feito pelo movimento Todos pela Educação. O número absoluto assusta, mas oculta que o acesso à escola no país vem melhorando: de 89,9% da população em idade escolar, em 2006, chegamos a 91,5% em 2010.

Não deixa de ser um progresso, mas lento. Nesse ritmo, será difícil atingir a primeira de cinco metas fixadas pelo movimento para 2022: toda criança e jovem na escola. O objetivo intermediário para 2010 era 93,4% -e ficamos aquém.

Na avaliação da segunda meta (toda criança alfabetizada até os oito anos de idade), generalizou-se a nota vermelha. O desejado era chegar a 80% do total em 2010. Nem o Sudeste, com o melhor desempenho do país, chegou a 70% de alunos com domínio de leitura, escrita e contas básicas.

O monitoramento do terceiro objetivo (todo aluno com aprendizado adequado à sua série) revela um desastre: nenhum nível de ensino, em nenhuma região país, obteve mais que 46% de alunos com rendimento satisfatório em português ou matemática, em 2009 (último dado a ser colhido).

O acúmulo de problemas e deficiências alcança o paroxismo no ensino médio, fulcro da quarta meta (todo jovem com esse diploma até os 19 anos). Pouco mais da metade (50,2%) chegou lá em 2009. Mais que a cifra determinada para aquele ano (46,5%), é verdade, mas com desempenho pavoroso em matemática -só 11% dos formandos aprendem o que deveriam dessa matéria essencial para usar produtivamente os conhecimentos e as ferramentas da ciência e da tecnologia.

O quadro é acabrunhante e não pode ser explicado apenas por falta de verbas, justificativa tradicional de quem só consegue ver a questão pelo ângulo material (prédios, tecnologia) ou corporativista (salários). Já se gastam 4,3% do PIB no Brasil com educação, perto dos 5% estipulados na quinta meta, sem que isso se traduza na revolução de que o país necessita.

Trata-se de um dever nacional resgatar aqueles 3,8 milhões de jovens e crianças que estão fora da escola. É dentro dela, porém, que falta dar os passos cruciais: qualificar melhor o corpo docente, remunerá-lo de forma condizente, atrair os melhores profissionais e dotá-los com os conteúdos e métodos para que ensinem o que os alunos precisam aprender.