Discussão só cabe na universidade, diz especialista

DE SÃO PAULO
Maria Inês Fini, doutora em educação e idealizadora do Enem, que coordenou entre 1998 e 2002, acha que a discussão sobre conceitos linguísticos cabe apenas na universidade, não na escola. (CRISTINA MORENO DE CASTRO)

Folha – O que a sra. acha do livro do MEC que discute conceitos linguísticos?
Maria Inês Fini – A adoção do livro foi um erro. A norma culta tem que prevalecer, pois é a norma da cultura dominante.

Caberia em algum lugar da escola fazer essa diferenciação entre a forma de escrever e a de falar?
Em hipótese alguma. No cotidiano, se um aluno fala errado e o outro aluno tira sarro, o professor deve intervir para dizer que isso está errado, da mesma maneira que ele deve corrigir a oralidade do aluno. Não tem que castigar nem discriminar. As formas orais têm um grau de liberdade maior que o registro escrito, ainda assim eu acredito que deva ser corrigido.

De alguma forma esses livros não poderiam ajudar a combater o preconceito de quem fala diferente da forma culta?

O preconceito é não ensinar o correto. As pessoas que falam errado vão ter que ser respeitadas porque falam errado? Isso não é falta de respeito, isso é obrigação da geração adulta. Discriminar é não ensinar o correto.

O livro também ensina a norma culta.

A discussão que o livro faz fica bem na universidade, mas não para um aluno da educação básica. Ele tem que incorporar as estruturas linguísticas em seu cotidiano.