Editora UFMG lança Um míope no zoo e outros contos

Quinta-feira, 8 de julho, às 19 horas, a Editora UFMG promove o lançamento do livro Um míope no zoo e outros contos, do contista mineiro Ildeu Brandão. O evento acontece na Academia Mineira de Letras, Rua da Bahia 1466, Lourdes. A obra foi organizada pelo jornalista e escritor Jaime Prado Gouvêa.

A obra reúne contos publicados em 1968 e outros textos inéditos deixados pelo escritor mineiro. Considerado um perfeccionista, Ildeu Brandão publicou suas histórias em suplementos literários e antologias, mas sempre com parcimônia. “Ildeu era um contista de primeiro time, seu texto é correto, limpo e um dos melhores que já li. Quando o conheci no Suplemento Literário ele só tinha publicado um livro, era uma pessoa muito discreta”, declara o jornalista e escritor Jaime Prado Gouvea, organizador do trabalho.

Os contos de Ildeu Brandão falam sobre acontecimentos do cotidiano que são relatados em minúcias e carregados de sentimento. Os recortes oferecidos pelo escritor são pequenos, frações de tempo que ganham dimensões grandiosas em sua narrativa. A atmosfera criada pelo contista é repleta de sutilezas e as histórias são apresentadas, segundo o escritor Rui Mourão, em tom simples, leve, corriqueiro e bem acabado.

Em Jantar de aniversário é possível ouvir o silêncio opressivo do ambiente, enquanto os pensamentos carregados de angústia do protagonista se sucedem. As poucas palavras trocadas por pai, filho e filha, aliadas aos fragmentos destes pensamentos ajudam o leitor a costurar a história. Outro conto belíssimo e, provavelmente o mais famoso do escritor, é Gavião de Penacho. Um fazendeiro passa grande parte de sua vida tentando matar um gavião que lhe rouba galinhas. As tentativas frustradas acabam virando lenda no lugar onde mora, por ser ele considerado o melhor atirador daquelas bandas. Homem e animal lutam por muitos anos e cresce entre eles uma relação de respeito e entendimento. Também vale citar o trecho do conto O Velho, que ao ser indagado sobre a ligação entre a vida e a morte responde que: “ nascíamos todos com semáforo em miniatura diante dos olhos, que mesmo não sendo visível refletia-se em nosso olhar e o comandava. Que este semáforo tinha apenas dois holofotes, um amarelo e um verde, não tendo o vermelho porque o vermelho fazia a gente parar e a gente não parava nunca.” No texto o velho explica para sua ouvinte Lúbia que vivemos sob o sinal amarelo até que o verde se acendesse para marcar a passagem para a morte, ilustrada por ele como um lindo portão barroco.

Provavelmente, não foi por acaso que o O Velho foi escolhido para finalizar Um míope no zoo e outros contos. Certamente a obra deixada por Ildeu Brandão merece permanecer para sempre no sinal amarelo.

Biografia

Francisco Ildeu da Fonseca Brandão nasceu em Ouro Fino em 10 de maio de 1913, mas desde criança morou em Belo Horizonte. Foi jornalista e funcionário público. Entre 1970 e 1971, dirigiu o Suplemento Literário do Minas Gerais. Estreou em livro no ano de 1947, com a edição independente Três histórias, e confirmou seu talento com a publicação da coletânea de contos Um míope no Zoo, em 1968, pela Imprensa Oficial. Ildeu Brandão fez também incursões pela literatura infanto-juvenil e teve contos editados na Tchecoslováquia, na Espanha e nos Estados Unidos. Ocupou a cadeira nº 9 da Academia Mineira de Letras.