Editora UFPR lança livro vencedor de concurso e promove bate-papo com escritores premiados

A forma como ele narra o momento em que descobriu ter sido premiado na 2ª Edição do Concurso Literário da Editora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) já é, por si só, um conto. Paulista de Piraciba, mas vivendo entre Minas Gerais e Europa, Mauro Guidi-Signorelli lançou seu primeiro livro, “Bifurcação”, na tarde desta sexta-feira, durante a programação da 38ª Feira Literária do SESC Paraná e XVII Feira do Livro da Editora da UFPR.

Bate-papo reuniu editores da Revista Tinteiro e escritores premiados em concursos literários (Fotos: André Filgueira)

O escritor, selecionado entre 98 contistas, relembrou a surpresa do dia em que recebeu o telefonema do diretor da editora, Rodrigo Tadeu Gonçalves.  Foi subindo uma ladeira de uma estrada em Minas Gerais, com potes nas mãos, que ele soube da conquista. A família de Mauro trabalha com café e ele vivia um momento feliz: após meses de trabalho árduo, descobriu que havia conseguido atingir o nível de café especial. “Eu nem acreditei que seria possível digerir tanta satisfação em um único dia”, relembra, bem humorado. A fala ocorreu durante uma mesa com colegas recentemente premiados em concursos literários.

Livro de contos foi escolhido entre 98 obras inscritas no Concurso

A escritora Maria Fernanda Elias Maglio também se surpreendeu quando soube que era finalista e, mais tarde, a grande vencedora do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do Brasil. Com a obra intitulada “Enfim, Imperatriz”, ela foi consagrada já na sua estreia, mas não considera essa a sua maior conquista. “A minha maior conquista foi mesmo ter conseguido publicar o livro. Quando soube que seria finalista, achava que podia acontecer de ganhar, mas não tinha essa expectativa”, lembra.

A modéstia chamou atenção de Rodrigo, que, em tom de brincadeira, advertiu: “Poxa, mas você ganhou um Jabuti”. Os risos da plateia, reunida na escadaria do Prédio Histórico da UFPR, agradaram a escritora. “Acho que o principal ganho é romper a bolha, conquistar leitores que não te leriam se não fosse o prêmio”.

Já o piauiense radicado em São Paulo, Raimundo Neto foi vencedor do Prêmio Paraná de Literatura de 2018, conquista que levou o livro “Todo esse amor que inventamos para nós” a ser publicado. Ele disse que se emocionou ao saber que havia ficado em primeiro lugar. Os contos fizeram tanto sucesso que terão uma segunda edição, após a primeira esgotar. “Eu resolvi inscrever o livro no prêmio porque amigos próximos diziam que eu deveria, mas eu não tinha muita esperança”, conta. “A possibilidade de passar a ser, de um autor desconhecido, a alguém que tem seus livros na biblioteca, é muito especial”.

Como jovens escritores de conto, Mauro, Maria Fernanda e Raimundo também falaram sobre seu contato com a literatura brasileira contemporânea. Eles revelaram um traço em comum: eram consumidores vorazes dos clássicos, mas foram se abrindo mais recentemente a novos nomes e suas obras. Maria Fernanda falou sobre a importância de conhecer os escritores do seu tempo, “uma época tão peculiar”. Raimundo usa as redes sociais para conhecer colegas e o que estão produzindo. Já Mauro costuma escolher aqueles que são indicados mais de uma vez. Joca Terron, Giovana Madalosso e Sheyla Smanioto foram alguns dos escritores citados por eles.

Lançamento da Revista Tinteiro

Os participantes do bate-papo saíram da Feira com um presente: a segunda edição da Revista Tinteiro, distribuída gratuitamente pela Editora da UFPR. São 62 páginas de arte. Além de ter espaço para a divulgação dos livros, também traz fotografias, contos, crônicas, poesias e entrevistas. Uma delas com o vencedor do concurso literário, Mauro Guidi-Signorelli.

Os editores da Tinteiro, Rodrigo Tadeu Gonçalves, Francisco R.S. Innocêncio e Hertz Wendel de Camargo falaram sobre o processo de edição do material, que também traz resenhas e reportagens. “É uma edição mais bem calculada e mais bem pensada e elaborada, que traz discussões sobre a importância da leitura no mundo de hoje e fala sobre a leitura como forma de resistência”, destacou Francisco. A revista também traz contos de Maria Fernanda Elias Maglio e de Raimundo Neto.

Sobre Bifurcação e seu autor

Ao microfone, Mauro Guidi-Signorelli fala sobre como recebeu a notícia do primeiro lugar no Concurso Literário da Editora UFPR

A Marta curtiu uma estorinha que diz:

– Vem pra minha casa.

– Não posso.

– Por quê?

– Estou contemplando o universo e a natureza da existência.

– Mas eu tô sozinha!

– E não estamos todos?

A Evelyn curtiu a foto de um dos seus amigos rastafári num rio de águas sujas.

O amigo está remando um bote salva-vidas e sorrindo para a câmera. E não estamos todos?

(Passagem do conto E não estamos todos?, do livro Bifurcação, de Mauro Guidi-Signorelli).

Mauro Guidi-Signorelli escreve em português, inglês e francês, sempre com sotaque. Seu trabalho em português foi finalista dos prêmios Sesc, Mario Quintana e Academia Fluminense de Letras. Em inglês, alguns dos seus contos foram publicados nas revistas americanas Apple Valley Review, AGNI e Southwest Review. Em francês, ele acaba de receber a bolsa Brouillon d’un RêveLittéraire de 2019. Nascido em Piracicaba, São Paulo, Guidi-Signorelli viveu mais de 10 anos na França, onde estudou e trabalhou como engenheiro. Hoje ele divide seus dias entre a roça de café da família, no sul de Minas Gerais, e uma carreira promissora como babá de gatos, na Europa. Quando não está cuidando de café ou gatos, ele escreve. E gosta.

(Informações: SESC-PR)