Educação de resultados

O professor de matemática Antonio Carbonari Netto fez uma das adições mais importantes de sua vida na semana passada. Ele somou a Uniban ao grupo que fundou, a Anhanguera Educacional. Com essa operação, que custou R$ 510 milhões, a empresa virou o maior grupo de ensino superior privado do país e um dos maiores do mundo. “Minha ambição é formar a nova classe média brasileira, como foi feito na Coreia do Sul e em Taiwan”, diz Carbonari, presidente do Conselho de Administração do grupo. A Anhanguera desbancou a Universidade Paulista (Unip) e a Estácio de Sá, que estavam a sua frente no ranking, e assumiu a liderança do mercado que movimenta R$ 28 bilhões em mensalidades no país. Mais jovem e menos conhecida do que suas principais concorrentes, a rede valeu-se de uma gestão empresarial focada na eficiência financeira para chegar ao topo. Sua conquista significa mais do que uma troca de posições. É a vitória de uma nova forma de abordar o ensino, com visão mais empresarial e menos acadêmica.

 

Fundada por Carbonari e pelo também professor de matemática José Luis Poli, a rede iniciou com uma única faculdade em Leme, interior de São Paulo, em 1994, e, nos anos seguintes, expandiu-se para Valinhos, Pirassununga, Jundiaí, Jaguariúna, Campinas. A localização da maioria dos campi, ao longo da Rodovia Anhanguera, inspirou o nome do grupo, que tinha, então, em 2003, 7 mil alunos. “A grande diferença da Anhanguera é que ela começou do zero como uma empresa, focada em se preparar para a abertura em Bolsa de Valores e para a expansão”, diz Ryon Braga, da consultoria Hoper Educação.

 

Manter os custos sob controle sempre foi uma preocupação de Poli e Carbonari – especialistas em números. Os prédios da instituição nunca se destacaram pelo luxo. “Seguíamos os padrões de qualidade do Ministério da Educação, não o nosso gosto”, diz Poli. “Gastávamos exatamente o necessário para a educação do aluno.” Em 2005, a entrada do grupo de investimentos Pátria na rede intensificou e profissionalizou essa economia. Os professores Carbonari e Poli ficaram com a área acadêmica, sua especialidade, e deixaram o controle financeiro na mão de gestores vindos de empresas de outros setores.

 

Uma das primeiras providências do fundo foi centralizar o setor administrativo, antes espalhado pela rede. Com um departamento único de recursos humanos, marketing e tecnologia, na sede em Valinhos, cortou os custos. A Estácio de Sá, um dos concorrentes, só montou seu centro de serviços compartilhados quatro anos depois e hoje emprega cinco vezes menos pessoas para fazer o mesmo serviço.

 

A criação de uma estrutura administrativa enxuta foi a preparação da Anhanguera para entrar na Bolsa de Valores e se capitalizar para sua expansão. O grupo, o primeiro de educação a abrir o capital, levantou cerca de R$ 1,7 bilhão. Grande parte do dinheiro foi investida na compra de outras instituições. Nos últimos cinco anos, a Anhanguera fez 39 aquisições – oito só em 2011. Multiplicou por nove sua renda líquida e deverá chegar ao fim do ano com 400 mil alunos, com a Uniban. A expansão levou a um ganho de escala que reduz ainda mais os custos. O próximo passo da Anhanguera para ganhar escala é investir no ensino à distância. A perspectiva é ganhar mais alunos a um custo mais baixo, segundo o analista Braga. O grupo deve continuar crescendo. “A Uniban provavelmente não será o suficiente para a Anhanguera”, afirma Luís Fernando Azevedo, analista de investimentos da Bradesco Corretora.

 

A contratação de Alexandre Dias, ex-diretor-geral do Google no Brasil, para presidir o grupo sugere quanto a Anhanguera pretende investir na tecnologia como ferramenta de ensino. Neste ano, a rede adquiriu uma solução do Google para que alunos, professores e funcionários compartilhem informações. E fechou um acordo com a Intelsat para transmitir via satélite seu conteúdo educacional. Os alunos não devem, contudo, esperar que as unidades da Anhanguera, conhecidas por sua simplicidade, ganhem ares high-tech. “Não queremos transformar a Anhanguera num campus do Google. Queremos garantir o uso da tecnologia”, afirma Dias.

 

Os ganhos de escala e redução nos custos são especialmente importantes para a Anhanguera, que oferece cursos baratos para jovens das classes C e D. De 2006 para cá, a mensalidade média da rede caiu de R$ 477 para R$ 299. É um preço baixo mesmo para a média brasileira, de R$ 457 em 2010. Graças a sua estratégia, a Anhanguera ganhou o apelido de Casas Bahia da educação. O epíteto não incomoda Carbonari. “Massificar o ensino não é rebaixar a educação, mas elevar a população”, diz Carbonari. Ele afirma que 95% dos alunos da rede receberam o primeiro diploma universitário da família. “Nossa missão é promover a inclusão e a ascensão social.” Em 1996, 5,2% da população tinha acesso ao ensino superior. Desses alunos, apenas 7% eram das classes C e D. No ano passado, 14,7% da população tinha acesso a uma universidade, e 54% eram das classes C e D. Segundo uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ter um curso superior resulta, em média, num aumento de 156% dos rendimentos. O diploma faz mais diferença no Brasil do que nos outros 29 países pesquisados. Isso mostra que, se o ensino superior é lucrativo para os acionistas das universidades, gera ainda mais benefícios para os diplomados.