Ensino superior é parte da crise

O número de brasileiros em idade escolar deverá diminuir gradualmente nos próximos anos, em decorrência da mudança do perfil demográfico do país. A queda na taxa de fecundidade faz com que a média de filhos por mulheres em idade fértil (estatisticamente, de 13 a 45 anos) já tenha se reduzido para menos de dois, segundo algumas projeções que precisarão ser confirmados no Censo Populacional que o IBGE promoverá este ano, já a partir do mês que vem. Mas, se por um lado a redução do número de crianças e adolescentes facilita o investimento na qualidade do ensino básico, por outro a tendência é que a demanda cresça expressivamente nos cursos profissionalizantes e superiores.

Se o esforço que está sendo feito para a melhora do ensino básico der o resultado desejado – e não há razão para não se acreditar nessa possibilidade, pois, felizmente, as autoridades, municipais, estaduais e federais, estão despertando para a importância da educação -, mais alunos ficarão aptos a cursos de nível superior. A economia brasileira também necessitará de mais profissionais qualificados se mantiver um ritmo de crescimento sustentado. Alguns segmentos vêm se queixando de falta de mão de obra especializada, situação que pode se generalizar e se tornar um forte obstáculo a esse crescimento projetado. O ensino superior terá, então, de forçosamente estar na pauta do próximo governo – sem prejuízo das preocupações com o ciclo básico -, ainda mais que é a União que concentra as maiores responsabilidade nesse nível educacional, diferentemente do ensino básico, encargo de prefeituras e governos estaduais

Nas próprias universidades federais há muito o que se fazer para se oferecer o ensino na qualidade e na quantidade que o país demanda. Se a Universidade Federal do Rio de Janeiro for um espelho do conjunto das instituições de ensino superior sob responsabilidade da União, o esforço para vencer esse desafio terá de ser redobrado. Professores e alunos se ressentem de instalações adequadas no principal campus    da UFRJ, como mostrou reportagem do GLOBO na edição do último domingo. E a questão não parece se resumir à falta de verbas. Para atender a metas definidas pelo Ministério da Educação, universidades federais aderiram a um programa chamado Reuni. Na prática, o que se percebe é uma tentativa de multiplicação de vagas sem que as estruturas das universidades acompanhem esse processo. O Reuni está previsto para ser executado até 2011. Com base na experiência acumulado, o programa deve ser reavaliado para que não haja desperdício de tempo e energia. O ensino superior é a base da pesquisa tecnológica. Se das universidades não saírem bons pesquisadores e profissionais preparados, além de talentosos, o Brasil permanecerá muito atrás no ranking de inovações, medido, por exemplo, no número de patentes concedidas em órgãos internacionais de registro de propriedade industrial e intelectual, em que é flagrante e crescente o distanciamento do país em relação a outras economias emergentes – China e Índia entre eles.