Entrar em universidade pública é mais difícil em SP

Estado tem a maior concorrência do país em unidades federais e estaduais

São 14 alunos por vaga, ante 8 da média nacional; presença pequena de federais é principal causa

Após cinco anos e meio de cursinho, a estudante paulista Mariá Paschoaleto, 24, resolveu morar a quase 4.000 km de casa pelo sonho de aprender medicina. “Sempre dei preferência a universidades mais próximas, mas nem sempre a concorrência dos vestibulares ajudava”, diz ela, hoje na UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

 

Como Mariá, outros enfrentam dificuldade em conquistar uma vaga em São Paulo. O Estado é o que tem menos vagas por estudante nas universidades públicas.

Em 2008, ano com dados mais recentes, havia 14 alunos no último ano do ensino médio em São Paulo para cada vaga em universidade federal ou estadual no Estado. A média nacional é de oito alunos -excluindo SP, sete.

A disparidade se deve principalmente à pequena presença das universidades federais no mais rico Estado do país, embora, recentemente, a rede tenha vivido um aumento expressivo.

No governo de FHC, o número de vagas federais em São Paulo no vestibular subiu 43%; no de Lula, 260%, com a ampliação de unidades já existentes e a criação da UFABC (federal do ABC). O Estado ainda tem as federais Unifesp, UFSCar (em São Carlos) e ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).

Mesmo assim, a comparação com outros Estados revela que o abismo persiste. Para cada vaga em universidade federal em São Paulo, há 70 estudantes concluindo o ensino médio. A média nacional é de 13 estudantes -11, excluindo SP.

No Rio, cada vaga federal é disputada por nove alunos do ensino médio. Trata-se de uma vantagem da condição de antiga capital, diz Maria Helena Capelato, do departamento de história da USP.

GRANDES ESTADUAIS
O ministro Fernando Haddad (Educação) reconhece a distorção em São Paulo e diz que o governo Lula procurou corrigi-la por meio da ampliação da rede federal no Estado e do Prouni, programa que oferece vagas gratuitas em cursos privados -28% são em instituições paulistas.

Ele atribui a baixa proporção de vagas públicas ao fato de o Estado contar com grandes universidades estaduais -USP, Unesp e Unicamp- e cita o fato de que, em 1996, foi retirado da Constituição o dispositivo que determinava a instalação de universidades nas cidades de maior densidade populacional.

“Pelo fato de São Paulo ser um Estado considerado rico, historicamente o governo nunca olhou para a região com vistas à expansão da rede federal”, diz.

 

 

Federais planejam 5 novos campi em SP

Unifesp estuda a implementação de quatro unidades, enquanto o MEC negocia um terreno para a UFScar

Para reitor da Unifesp, projetos não são de curto prazo para evitar abrir unidades com infraestrutura precária

O Estado de São Paulo poderá abrigar nos próximos anos mais cinco novos campi de universidades federais.

O Ministério da Educação está negociando uma área no Vale do Ribeira, no sul do Estado, para abrigar mais uma unidade da UFSCar.

Já a Unifesp estuda a implementação de quatro novos campi, dois na região metropolitana e dois na capital.

Por enquanto, o único garantido é o de Osasco, afirma o reitor da instituição, Walter Manna Albertoni.

Lá, serão oferecidos os cursos de administração, economia, ciências atuariais, contabilidade e relações internacionais. Se tudo correr bem, o início das aulas será já no ano que vem.

Em um dos dois novos campi da capital, o projeto é instalar um curso de direito com poucas vagas e ênfase em questões de saúde, em Santo Amaro (zona sul).

O outro ficaria na zona leste, em um terreno em Itaquera que seria cedido pela Prefeitura de São Paulo.

O quarto novo campus ficaria em Embu das Artes. No local, poderiam ser oferecidos cursos das áreas de artes, como música e teatro.

O reitor ressalta, no entanto, que os projetos para a capital e para Embu não são para o curto prazo.

Caso não exista a estrutura adequada para os cursos de graduação, serão oferecidas no local apenas atividades de extensão universitária.

RITMO LENTO
O motivo da cautela, de acordo com Albertoni, é evitar repetir a inauguração de unidades com infraestrutura precária, como ocorreu nos campi de Santos e Diadema.

“Sei da dificuldade que seria exigir toda a estrutura pronta antes de abrir as vagas”, afirma. “Mas, daqui para frente, o ritmo será bem mais lento.”
De 2005 até agora, a Unifesp, que tinha apenas uma unidade na capital, abriu novos campi em Guarulhos, Diadema, Santos e São José dos Campos.

A quantidade de cursos e alunos também aumentou na universidade. O número de graduações passou de cinco para 26, e o de alunos, de 1.100 para 6.800.

 

 

MOBILIDADE

SP EXPORTA MAIS ALUNO VIA ENEM
A menor quantidade de vagas públicas em SP ficou evidente neste ano, após a realização do primeiro Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de universidades federais por meio das notas no Enem. O Estado foi o que mais “exportou” alunos para outros locais, 2.531 ao todo, e o que menos recebeu gente de fora.

 

País deve investir em áreas pobres, diz consultor

A expansão das universidades públicas em São Paulo divide especialistas.


Para Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física da USP de São Carlos e consultor de ensino superior, a União deve investir em regiões pobres, já que muitos alunos de SP podem pagar para estudar.

Já para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP), a falta de uma grande universidade federal no Estado prejudica os alunos e a pesquisa em SP.

 

Para ele, há desperdício do potencial de jovens formados no quarto melhor ensino médio do país.

Gustavo Balduíno, secretário-executivo da Andifes (associação das federais), por sua vez, aponta que SP é o Estado com a disputa mais acirrada porque tem menos alunos fora da escola.

Segundo o IBGE, 69% dos jovens de 15 a 17 anos em SP estão no ensino médio. Na Paraíba, menor concorrência por vaga em universidade pública do país, junto com Roraima, o número cai para 37,4%

 

 

Angela Pinho – Folha de São Paulo, 07/06