Escola pública perde espaço entre as melhores do Enem

Queda no ranking é verificada na comparação do desempenho dos alunos nos exames de 2009 e 2010

Para o ministro da Educação, a condição socioeconômica pode ajudar a explicar a diferença entre escolas

O ensino médio público não tem melhorado e perdeu participação no grupo das melhores escolas do Brasil.
A conclusão se baseia no desempenho por colégio no Enem 2010, que o Ministério da Educação divulga hoje.
O levantamento é uma das principais formas de avaliar escolas. É apurado a partir de prova com testes e redação feita por formandos.
Resultados tabulados pela Folha apontam que a proporção de escolas públicas no grupo de elite do país (10% melhores, ou seja, quase 19.500 escolas) sofreu leve queda (6%) entre 2009 e 2010. Foi de 8,4% para 7,9%.
Se ampliada a quantidade de colégios analisados para o grupo das 25% melhores, a redução das públicas é mais acentuada: vai de 20,7% para 15,7% (queda de 24,1%).
Quase todos colégios oficiais de elite são técnicos, de aplicação, militares ou ligadas a universidades. São diferentes da maioria das públicas, que não seleciona alunos, entre outras diferenças.
A melhor pública não técnica de SP, por exemplo, é a Professor Carlos Cattony, que está na 2.911ª posição do ranking geral nacional, com 19.414 colégios avaliados. O colégio fica em Parelheiros, na periferia da cidade.
Desde 2008 o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o ensino médio é o “elo frágil” do setor.
Sobre a disparidade entre escolas, Haddad (pré-candidato à Prefeitura de SP) disse que “às vezes, condições socioeconômicas explicam mais o resultado da escola que o trabalho do professor”.
O MEC diz ainda que parte dos alunos das escolas federais pode não ter sido avaliada, pois em 2008 passaram a ter ensino técnico com quatro anos de duração e não três e, assim, não haveria formandos no ano passado.
Membro do Conselho Nacional de Educação, César Callegari diz que “no geral, as melhores escolas são bem equipadas, têm professores mais bem pagos e melhores condições de trabalho”.
Thiago Peixoto, representante do Consed (órgão que reúne secretários de educação), lembra ainda que muitas particulares treinam alunos para a prova e fazem marketing com os resultados.

MEC divide as escolas por nível de participação

O MEC mudou neste ano a divulgação dos dados do Enem por escola. Os colégios foram separados em quatro grupos, considerando o nível de participação dos alunos no exame.
A primeira divisão vai, por exemplo, entre 75% e 100% de participação.
Segundo o MEC, é injusto comparar escolas com níveis muito discrepantes de participação. Mas, na lista das 20 melhores do país, só uma teve menos de 50% de participantes.

Com a divulgação dos dados, as escolas agora têm 30 dias para pedir a revisão das notas para o Ministério da Educação.


Primeira do país é do Rio, a segunda, de Teresina

Colégio de São Bento e Instituto Dom Barreto permanecem como os melhores

Mensalidade na escola do Rio é de R$ 2.140 no último ano do ensino médio, no Piauí, instituto cobra R$ 696

Desde que o resultado do Enem começou a ser divulgado por escola, em 2005, não houve um ano em que o Colégio de São Bento, criado em 1858 no Rio, não figurasse entre os cinco primeiros.
Talvez a principal razão para esse sucesso seja o alto investimento das famílias. A mensalidade ao final do ensino médio é de R$ 2.140. Isso significa que um aluno do São Bento custa por mês quase o mesmo valor investido por ano em um aluno de ensino médio público: R$ 2.336.
Seria, no entanto, injusto reduzir o bom desempenho só no fator econômico. O colégio, um dos poucos do Rio a ter apenas turno integral, aceita somente meninos.

PIAUÍ
A segunda colocada é de Teresina (PI). Uma escola que cobra disciplina, estimula a solidariedade e exige a participação dos pais. É assim que alunos definem o Instituto Dom Barreto. É a terceira vez que ela fica em segundo lugar.
O aluno Mateus Sobral, 16, que ficou em primeiro lugar entre os inscritos para o curso de engenharia de materiais na Universidade Federal de São Carlos e foi aprovado em mais quatro faculdades, diz que as provas do Instituto Dom Barreto são mais difíceis do que as do Enem.
No ensino médio, os alunos cumprem oito horas diárias, de segunda a sábado. A mensalidade é de R$ 696.

ANÁLISE

Considerando perfil de aluno, as estatais são melhores

Um dos mantras mais repetidos por especialistas em avaliação é que o desempenho de um aluno é influenciado, sobretudo, pelo nível socioeconômico da família.
Colégios que atraem filhos de pais ricos e de alta escolaridade têm, com isso, uma vantagem artificial. A simples comparação de médias, portanto, não responde qual escola faz mais pelos alunos.
Considerando isto, o pesquisador Francisco Soares (UFMG) recalculou num estudo como seriam as médias de escolas no Enem de 2009 levando em conta o perfil do aluno. Neste ranking ajustado, o São Bento, por exemplo, cai de 1º para a 29º, o que segue sendo excepcional num universo de 20 mil.
Em vez de um predomínio das particulares, a lista das 20 melhores por este critério revela que 18 são públicas. Convém, no entanto, não se animar muito. Todas as escolas estatais bem colocadas fazem seleção de alunos em vestibulinhos. São públicas, mas para poucos.