Especialistas debatem SISU em seminário promovido pela Andifes

Na última terça-feira (19), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), promoveu um seminário sobre o Sistema de Seleção Unificada (SISU).

Ao agradecer os especialistas que prontamente aceitaram o convite para contribuir com o conteúdo proposto, o presidente da Andifes, reitor Emmanuel Tourinho, afirmou que o SISU, ao lado do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), tem sido um dos responsáveis por umas das transformações mais recentes em nossas instituições, nos últimos anos, no que diz respeito ao processo de inclusão. “O objetivo é buscar alternativas para continuarmos promovendo a universalização do ensino, avaliando os obstáculos que ainda precisam ser vencidos para que as políticas destinadas a isso cumpram suas funções, de forma que as universidades continuem avançando em uma de suas principais funções, que é o processo de inclusão e de acesso universal, por meio de políticas de assistência estudantil que garantam a permanência e o êxito dos estudantes nos cursos de graduação”, disse.

Para falar sobre os vícios e virtudes do SISU, foram convidados o membro do Colégio de Pró-reitores de Graduação das IFES (COGRAD), professor Cassiano Caon Amorim; o diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Carlos Eduardo Moreno Sampaio; e o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jesualdo Farias.

O professor Cassiano explicou que, à luz da autonomia, as universidades usam o SISU de formas diferentes. Um levantamento realizado pelo COGRAD mostrou que, dentre 65 universidades, apenas duas não utilizam o SISU, mas lançam mão do Enem como ferramenta de seus processos seletivos.

Carlos Moreno apresentou evidências resultantes do Censo da Educação Superior. “Hoje, 25% dos estudantes de graduação estão na rede federal de ensino superior, que alcança mais de 62% da oferta de ensino público no Brasil. Há instituições federais de ensino superior hoje em 815 municípios, com campi inseridos em todo o país.”

O professor Jesualdo destacou que o SISU proporcionou um efeito positivo no que diz respeito à democratização, ao reduzir as diferenças inter-regionais típicas do processo convencional do vestibular. “A exemplo da Universidade Federal do Ceará, o sistema garantiu que hoje nós tenhamos estudantes de todos os municípios cearenses matriculados. E isso tem um reflexo enorme em tudo que se pensar que seja base estrutural para o desenvolvimento daquelas regiões, porque os jovens tendem a voltar e a contribuir com o desenvolvimento regional”, garantiu.

Ao tratar sobre formas de se aprimorar o sistema, o coordenador do COGRAD, professor João Alfredo Braida, enumerou algumas questões a serem aperfeiçoadas, mas fez questão de destacar que o SISU já é sistema bem elaborado e que traz grandes benefícios para as universidades e para os estudantes, de forma especial. “Entre alguns pontos frágeis que verificamos, está a avaliação das características dos estudantes; fazer com que o sistema consiga dialogar melhor com as especificidades de cada universidade e, ainda, a questão da segunda opção de curso, pois nem todo estudante que entra por esse critério chega a efetivar a matrícula, o que pode acarretar algumas vagas ociosas. E, por fim, há a questão do calendário, pois é um prazo muito curto para a quantidade de chamadas que o sistema exige. Seria necessária uma antecipação do calendário, porém, não é algo tão simples, porque depende do calendário do Enem”, pontuou.

A reitora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), professora Cleuza Sobral, afirmou que é uma admiradora do sistema, pois foi por meio do SISU houve uma ampliação da possibilidade de se pleitear o vestibular em várias universidades, o que, na opinião dela, é um grande passo se avaliado pelo viés da democratização do acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade. “Há pontos que precisam ser melhorados, como as constantes mudanças nos formatos de dados gerados pelo SISU, que acarretam alterações nos sistemas institucionais; a descontinuidade de dados disponibilizados em versões anteriores da ferramenta sem prévio aviso; o aumento da burocracia na gestão dos dados e mudanças nas permissões de perfis; e o cancelamento de candidato na chamada regular, reabrindo vagas antes preenchidas. Mas é importante frisar que nós evoluímos e muito.”

Ao afirmar que o SISU é um tema sempre atual, a reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), relembrou o processo de implementação do sistema, desde janeiro de 2009. “Houve muita dificuldade. A primeira delas era decidir se íamos optar pelo sistema ou não, porque era tudo muito novo, havia muito receio. Mas, por mais problema que esse sistema possa trazer para as universidades que aderiram, ele ainda é a melhor opção, e aprimorá-lo faz parte, é uma consequência do sistema”, disse.

O diretor de Desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (DIFES) da Secretaria de Ensino Superior (SESu), professor Mauro Rabelo, comentou os vícios do sistema levantados pelos palestrantes que o antecederam e afirmou que são processos que podem ser reestruturados. “Nós precisamos buscar um equilíbrio entre o acesso amplo e o papel de cada universidade no desenvolvimento regional. Vou apresentar todos os pontos aqui levantados à SESu, especialmente a questão do calendário, e acho que podemos encontrar soluções. Afinal, o SISU foi desenvolvido para atender às universidades, nós precisamos adaptá-los à realidade de cada uma delas”, finalizou.

O SISU

Criado pelo governo Lula em 2009, o SISU é hoje uma das principais formas de acesso à universidade. Em 2017, na edição de janeiro, foram 238 mil vagas – 4,5% a mais de vagas que em 2016, oferecidas por 131 instituições, e disputadas por mais de dois milhões e meio de candidatos. Em janeiro de 2018 foram 239.601 vagas na primeira edição do SISU.

De acordo com o site do SISU, neste semestre, 57.271 vagas estão em disputa por estudantes que fizeram a edição 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não tiveram nota zero na prova de redação. Ao todo, 68 instituições aderiram ao SISU: 30 universidades federais, 27 institutos federais, dois centros de educação tecnológica federais, além de sete universidades estaduais e um centro universitário público estadual. É sobre isso que entrevistamos o professor Braida.