Especialistas sugerem ações para todos os níveis da Educação no país

O Grupo de Trabalho Educação, da SBPC, realizou oficina na última quinta e sexta-feira, 11 e 12 de dezembro, na sede da entidade, em SP

No primeiro dia de evento, durante a reunião do Conselho da SBPC, o coordenador do GT, Isaac Roitman, fez uma apresentação dos trabalhos desenvolvidos até o momento relacionados aos objetivos de transformar a educação de política de governo em política de Estado.

A SBPC, em parceria com outros setores da sociedade, deverá apresentar ao atual governo e aos que o sucederem propostas de curto, médio e longo prazo para a melhoria da qualidade da educação brasileira em todos os níveis. Esse conjunto de entidades acompanhará e avaliará a implantação das medidas propostas ao longo dos próximos anos.

Após a apresentação de Roitman ocorreu um debate com a participação dos conselheiros e membros da diretoria da entidade. O quadro atual da educação no Brasil foi analisado em diferentes dimensões. Especialmente no que se refere à educação básica, a situação aponta para que o problema seja abordado como "estado de emergência".

No segundo dia, houve apresentações de temas por especialistas convidados. Estiveram presentes conselheiros da SBPC e os seguintes membros da diretoria: Marco Antônio Raupp (presidente), Otávio Velho e Helena Nader (vice-presidentes), Aldo Malavasi (secretário geral), Vera Val e Dante Barone (secretários), José Raimundo Coelho e Lisbeth Cordani (tesoureiros), esta última integrante do GT. Além de Lisbeth e Isaac Roitman, estiveram também presentes os membros do GT Ennio Candotti e Luis Carlos Menezes.

O primeiro convidado, Marcelo Marcos Bueno Moreno, da Secretaria de Educação de Caraguatatuba (SP), desenvolveu o tema "A esperança frente aos problemas e dilemas da escola pública".

A questão foi discutida na ótica do professor e do gestor. Moreno apontou para a necessidade de uma definição contemporânea do papel da escola, com tempo para o professor planejar, pesquisar e analisar. E sugeriu a implantação de ações de longo prazo, livre das mudanças de governo.

José Alves da Silva, da USP, apresentou o tema "Compromisso e paixão: o universal e o singular na boa escola pública". Ele destacou como questões centrais a investigação de novos elementos que caracterizam a identidade do ensino médio e a busca de razões que fazem uma escola ser considerada uma "boa escola".

O professor da USP relatou vários projetos conduzidos na Escola Estadual Professor Architiclino Santos, localizada no Jardim Ângela (SP), um dos bairros mais violentos do mundo. E discorreu sobre o desenvolvimento de projetos que desempenham um papel importante para a transformação social do bairro: 1. Aniversário (relações humanas e valorização da vida); 2. Grêmio em forma (uma nova política de fazer política); 3. Terceiro milênio (projetos de vida profissional); 4. Segunda intenções (discussão e identidade de projetos da vida pessoal).

Luiz Davidovich, professor da UFRJ e membro da diretoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC), desenvolveu o tema "O ensino de ciências e educação básica: propostas para superar a crise". Ele apresentou e discutiu dados comparativos internacionais (acesso ao ensino médio, gastos por estudantes, investimentos – % do PIB) e analisou as políticas bem sucedidas em vários países visando a melhoria da qualidade da educação.

Propôs uma agenda para a educação básica: 1. Plano estratégico para aumento gradual do piso salarial, associado a bolsas e benefícios dependentes de avaliação; 2. Programa de residência para professores (análogo ao programa de residência médica; 3. Incentivo à participação em programas especiais (Mão na massa, etc.); 4. Turno completo para crianças de comunidades carentes; 5. Programas especiais de aproveitamento de estudantes recém formados.

O presidente-executivo do movimento "Todos pela Educação", Mozart Neves Ramos, abordou o tema "Mobilização da sociedade para uma educação pública de qualidade". Apresentou e discutiu dados sobre a educação no Brasil, destacando que a universalização do ensino fundamental não veio acompanhada de uma educação pública de qualidade. Apontou ainda as deficiências de estrutura das escolas: sem água (2,6%), sem energia (15,9%) e sem saneamento (8,7%).

Ramos relatou a história e as atividades do Movimento "Todos pela Educação", destacando suas cinco metas, que devem ser atingidas até 2022: 1. Todas as crianças e jovens de 04 a 17 anos na escola; 2. Toda criança alfabetizada até os 08 anos; 3. Todo aluno com aprendizado adequado para a sua série; 4. Todo jovem com o ensino concluído até os 19 anos; 5. Investimento em educação ampliado e bem aplicado.

A professora da USP Rosa Ester Rossini apresentou o tema "A iniciação científica como instrumento da educação". Ela falou sobre o programa de iniciação científica desde o início da década de 50, quando da criação do CNPq, e apresentou o panorama atual do programa. Destacou a importância da iniciação científica não só como a principal base na formação de recursos humanos para a ciência, mas também a importância do mesmo na qualidade trabalho e nas atitudes de futuros profissionais em todas as áreas do conhecimento. Rossini ressaltou ainda a criação, em 2003, do Programa de Iniciação Científica Junior que permite o amadurecimento científico para estudantes do ensino médio e profissional.

Segundo a especialista, que tem dedicação e experiência nos programas de iniciação científica, o Pibic Jr. – desenvolvido em todos os estados brasileiros por meio das fundações de apoio/amparo à pesquisa – tem um grande efeito na inclusão social e na interiorização da ciência. Rossini salientou o fato de que as bolsas de iniciação científica júnior poderão também ser utilizadas para estudantes do ensino fundamental.

Marta Feijó Barroso, da UFRJ, apresentou o tema "Formação de professores de ciência e matemática para uma educação de qualidade". A especialista analisou e discutiu os dados do Saeb (2005-2007). Para ela, questões da educação no Brasil devem ser tratadas globalmente, envolvendo todos os níveis de ensino e cujo diagnóstico é conhecido: a formação de professores é inadequada e os alunos apreendem pouco.

Ela apontou que os professores são parte do problema, mas não a causa, e afirmou que os pressupostos para ações de melhoria da educação são: 1. A educação como direito de todos; 2. A escola é onde deveria se dar majoritariamente à ação educativa; 3. As escolas precisam de (…) edifícios, giz, secretaria, computador, laboratório, (…) e principalmente de professores, bem formados, estimulados a continuar a aprender sempre, bem pagos e respeitados pela comunidade.

Por fim, Lygia Baptista Pereira Segala Pauletto, da UFF, apresentou o tema "Patrimônio cultural e educação" e discorreu sobre a importância da valorização do patrimônio cultural na educação básica. A professora destacou a importância da ação educativa através de museus de ciências e relatou experiências educativas em comunidades carentes.

O GT pretende realizar, no início de 2009, uma nova oficina de trabalho, e posteriormente, um grande seminário para integração com parceiros.
(Informações de Isaac Roitman, coordenador do GT-Educação)

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