Estudantes protestam contra atraso no pagamento de bolsas pela ANP

Bolsistas fizeram ato em frente ao escritório central da entidade no Centro do Rio; Pesquisas estão em risco

RIO – Estudantes de pós-graduação de universidades do Rio protestaram ontem, no Centro da cidade, contra o atraso no pagamento de bolsas de pesquisa do Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (PH-ANP). Diante do escritório da entidade na Avenida Rio Branco, eles exibiram cartazes e usaram nariz de palhaço durante a manifestação. Alguns deles vestiam jalecos brancos e pediam dinheiro a quem passava pelo local para evidenciar a situação enfrentada por eles.

Pesquisa de ponta. A cientista Debora Foguel desenvolve análises bioquímicas e necessita de infraestrutura sofisticada. Com os cortes, teve que começar a adaptar o laboratórioCom ajuste fiscal, agências de pesquisas cortam seus principais editais e preocupam cientistas

Os estudantes afirmam que, desde o fim de 2013, a ANP, que financia as bolsas com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, não faz o repasse de verbas às universidades que participam do programa. No caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para pagar a bolsa dos alunos de 2014 até agora, os coordenadores das pesquisas — responsáveis por administrar o dinheiro que chega à entidade — passaram a utilizar os recursos destinados a financiar viagens a congressos e compra de materiais utilizados nos laboratórios, a chamada taxa de bancada.

— No fim de 2013, a própria ANP sinalizou a falta de recursos e autorizou que os programas usassem a taxa de bancada para fazer o pagamento das bolsas dos alunos, mas chegou o momento que até esse dinheiro acabou. Ao longo dos 15 anos de existência dessa bolsa, nunca deixamos de pagar, essa é a primeira vez — contou a professora Jussara Miranda, coordenadora do Programa Químico de Petróleo e Biocombustíveis. — Comprei com meu dinheiro o gás necessário para o laboratório não deixar de operar. Pesquisa não é como carro, que, quando para, colocamos combustível e continuamos do mesmo lugar. Paralisar uma pesquisa cria a necessidade de recomeçar do zero.

Na UFRJ, que tem nove programas com bolsa da ANP em atividade, os estudantes estão sem receber desde setembro. Devido a isso, pesquisas relacionadas ao desenvolvimento da indústria petrolífera e ao meio ambiente estão comprometidas.

Para evitar a perda dos experimentos, os estudantes têm recorrido a soluções caseiras.

— Mesmo com meu programa sem recursos e mesmo sem receber a bolsa, estou trabalhando para não perder meu projeto de pesquisa. Recebo apoio de grupos de pesquisas amigos, eles me emprestam reagentes e outros materiais necessários — conta Conny Cerai, que faz doutorado no Programa Químico de Petróleo e Biocombustíveis da UFRJ.

Segundo a ANP, atualmente há 509 bolsistas ativos em todo o Brasil. A agência afirmou, por meio de nota, que aprovou ontem os aditivos necessários para regularizar o repasse dos recursos às 32 universidades conveniadas, mas não informou prazos para a realização do pagamento. Até o fechamento desta edição, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação não respondeu se liberou verbas para a ANP.

O Globo

Foto: O GLOBO