Formação dos pais faz diferença na nota do Enem

Mais de 70% dos pais dos alunos que estão entre as mil melhores notas são formados em ensino superior ou pós-graduação

São Paulo – Mais de 70% dos pais dos alunos que estão entre as mil melhores notas do Enem são formados em ensino superior ou pós-graduação. Além disso, quase 25% deles têm renda familiar acima de R$ 17,6 mil e quase 90% nunca trabalharam. São números que mostram que esses estudantes fazem parte da elite intelectual e econômica, muito diferente do total de candidatos à prova. Menos de 14% dos pais dos inscritos têm a mesma formação, só 0,7% vive com a mesma renda e 44% nunca trabalhou.

“O meu resultado se deve a uma questão de oportunidade mesmo, boa condição financeira para poder estudar”, diz Milena Figueiredo Miranda, de 19 anos, que nasceu na cidade de Boa Esperança, em Minas.

Ela é parda e ficou na 18.ª colocação da lista dos mil melhores do Enem em 2016. Sua nota – 824,9 em 1.000 possíveis – garantiu um lugar no curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A mãe de Milena é professora de Matemática da escola em que ela estudou; sua nota na área foi 961,9.

O ranking com as maiores notas também está dominado pelas grandes capitais do País: 62%. Dos mil alunos, 218 estão em São Paulo, enquanto apenas 4,5% dos inscritos no Enem são paulistas. Em segundo lugar está Belo Horizonte, com 67 alunos, seguida de Brasília, Fortaleza e Rio, respectivamente. Dos mais de 5 mil municípios do País, apenas 223 têm representantes entre os mil melhores colocados.

O estudante de Física Luiz Rodrigo Torres Neves, de 18 anos, que se declara negro, conta que passava o dia todo estudando quando chegou ao último ano do ensino médio. “Na minha escola, a rotina de aulas já era sobrecarregada, com aulas pela manhã, à tarde e no fim de semana. No 1.º e no 2.º ano do ensino médio, eu também estudei por conta própria para o vestibular”, lembra-se.

Egresso de escola privada, como 92% dos alunos com as melhores notas no Enem, Neves foi o único morador de São Luís (MA), a tirar uma das mil notas mais altas. Na capital, 64 mil alunos fizeram a prova.

O fato de nunca ter precisado trabalhar contribuiu. “Sempre que sobrava um tempo da escola, eu também estudava. Meus pais trabalham bastante (o pai é funcionário público e a mãe, nutricionista). Eu só precisei estudar e sempre me educaram para reconhecer a importância do estudo. Sou privilegiado em relação à realidade. Os dados refletem a desigualdade social e racial que existe no País.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Jornal Exame Abril