Inclusão – Falta estrutura para integrar deficientes à rede de ensino

SÃO PAULO e RIO – Para promover a inclusão escolar, o Ministério da Educação (MEC) decidiu que vai “induzir por meio de apoio técnico e financeiro a dupla matrícula” para crianças que tenham algum tipo de deficiência. Na prática, a ideia é fazer com que crianças e adolescentes especiais sejam estimulados, desde a educação básica até o ensino médio, a frequentar uma escola regular e tenham aulas de apoio – o chamado contraturno – em escolas especializadas ou em salas multifuncionais.

– O MEC quer garantir o acesso à escola e promover a dupla matrícula. Mas a função do ministério é indutiva, o MEC não tem mecanismo de coerção. A ideia é oferecer oportunidades a mais, para que a criança tenha atendimento integral – diz Fernando Haddad, ministro da Educação, lembrando que um terço das crianças que hoje não estão na escola são deficientes.

No Rio, onde funcionam os institutos Benjamin Constant (IBC) e Nacional de Educação para Surdos (Ines), que reúnem pouco menos de mil alunos, a proposta é que os estudantes possam ter aulas no Colégio Pedro II, que também é federal.

– Primeiro, a direção do MEC declarou que a escolarização no IBC e no Ines seria finalizada este ano. Nós nos mobilizamos e o ministro Haddad decidiu que as coisas ficariam como estão – conta Maria da Glória de Souza Almeida, chefe de gabinete da direção-geral do IBC. – Claro que nós apoiamos a inclusão. A escola regular tem que existir, mas é preciso lutar por uma educação de qualidade. Numa escola regular, sem saber braile, o professor não alfabetiza.

Permitir que os alunos circulem por todos os lugares é o que acontece em escolas municipais de São Paulo, onde 15,5 mil alunos portadores de deficiência estão matriculados na rede regular de ensino. Gabriel, de 10 anos, é um deles. Diagnosticado autista desde os 3, este ano ele dispensou a ajuda da mãe e quis subir sozinho até o segundo andar da escola para chegar a sua nova sala de aula. A auxiliar em contabilidade Maria Marcília Pi$Cunha, de 36 anos, ficou apreensiva, mas permitiu. No meio das outras crianças, Gabriel subiu as escadas, entrou na sala correta e sentou-se.

– Ele evoluiu muito desde que começou a ter contato com as crianças da escola comum. Ele tinha muita dificuldade para falar, mas de ver os outros falando, acho que se sente estimulado. E um dia vi uma cena que me deixou tranquila. O cadarço dele desamarrou e um aluno abaixou para amarrar – conta Marcília.