Jovem prioriza formação e adia entrada no mercado

Expansão da renda e competitividade seguram adolescentes na sala de aula

Cresce o número de jovens que só estudam; educação ainda precisa melhorar no país, aponta especialista

DE SÃO PAULO
Os jovens de 15 a 17 anos estão estudando mais e trabalhando menos. A proporção desses adolescentes ocupados ou buscando emprego caiu 27%, em oito anos, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE.

Nem mesmo o forte aumento de salários e vagas em 2010, com a economia crescendo 7,5%, bastou para atraí-los para o mercado.

A faixa etária corresponde a 18,9% da população economicamente ativa em 2010, a menor taxa média já apurada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Em 2003, quando o IBGE iniciou o levantamento, eram 26%.

Para especialistas, a principal causa da mudança é a valorização da educação num ambiente profissional cada vez mais competitivo. E a expansão da renda nos últimos anos permite que os pais sustentem os filhos por mais tempo, adiando sua entrada no mercado e possibilitando sua permanência na escola.

Políticas públicas como o Bolsa Família, que exige que os beneficiários estudem, e a progressão continuada, que evita a repetência escolar, também estimulam crianças e jovens a ficar por mais tempo na sala de aula.

SÓ ESTUDAM
Outra pesquisa do IBGE mostra que o percentual de jovens que estudam e não trabalham subiu de 39% em 1992 para 65% em 2009.

“A melhora da renda familiar ajuda a explicar, mas a percepção da importância e dos retornos da educação é mais relevante”, diz o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília. “As famílias fazem mais esforço para manter a meninada nas escolas porque entendem que vale a pena estudar mais.”

Para o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Naercio Menezes, falta mão de obra qualificada. Nesse cenário, é mais interessante para o jovem sem experiência estudar mais e buscar um emprego melhor no futuro.

“Mesmo com o mercado de trabalho aquecido, as pessoas estão preferindo permanecer na escola”, afirma. “Elas estão fazendo um cálculo de que vale mais a pena estudar do que adquirir experiência profissional desde cedo”, completa ele.

O governo lançou, no fim de abril, o Pronatec, programa de qualificação profissional cuja meta é oferecer 8 milhões de vagas até 2014 em cursos técnicos.

Arbache elogia a iniciativa, mas lembra que a qualidade do ensino precisa melhorar em relação aos competidores do país: “O jovem brasileiro está disputando emprego com o jovem da Malásia. Lá na frente, isso é que acontece”.

A transformação no perfil do mercado de trabalho brasileiro não se dá apenas entre os mais jovens: em abril, levantamento feito pela Folha a partir de dados do IBGE mostrou que o número de pessoas ocupadas acima de 50 anos subiu 56,1% de 2003 ao primeiro trimestre de 2011.