Justiça manda alunos deixarem reitoria

Mesmo após liminar, estudantes que pedem saída da PM do campus da USP decidem manter invasão do prédio

Uso de força policial está autorizada após prazo de 24 h; reitoria afirma que vai tentar uma saída negociada

DE SÃO PAULO
A Justiça determinou ontem a saída dos invasores da reitoria da USP e a reintegração de posse do prédio, “sem violência”, em 24 horas.
“Como medida extrema”, autoriza o uso de força policial após o fim do prazo. O local está ocupado desde a madrugada de anteontem por grupos radicais de estudantes que pedem a saída da PM da Cidade Universitária, na zona oeste paulistana.
O movimento começou há uma semana, após três alunos de geografia serem detidos com maconha dentro do campus. Na ocasião, colegas de universidade tentaram impedir a prisão e investiram contra a PM, cuja presença foi oficializada neste ano após a morte de um estudante numa tentativa de assalto.
Os rapazes pegos com a droga foram levados à delegacia e liberados. Em protesto, alunos invadiram um prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).
Na terça, numa assembleia com mais de mil alunos, a maioria (559) decidiu pela desocupação. A reunião foi encerrada, mas a minoria derrotada permaneceu e decidiu invadir o prédio da reitoria. Com a ação, estão prejudicados os serviços de administração das pró-reitorias, bolsas de estudo, convênios etc. No prédio invadido trabalham cerca de mil pessoas.
Além da saída da PM do campus, os invasores pedem a extinção de processos administrativos contra eles. Muitos escondem o rosto a fim de não serem punidos. Eles estão sujeitos a advertências e até a expulsão da USP.
Ontem à noite, realizaram uma assembleia na reitoria e decidiram, por aclamação, manter a invasão do prédio. Também foi aprovada uma comissão para negociar com a universidade.
O DCE (Diretório Central dos Estudantes) criticou os invasores, apesar de também ser contra a presença da PM. “[A invasão da reitoria] não foi uma deliberação coletiva do movimento, ou seja, não passou por uma discussão ampla”, diz Thiago Aguiar, um dos diretores do DCE.
Professor emérito da Faculdade de Direito da USP, Dalmo Dallari critica os manifestantes. “Combati a presença da ditadura na universidade e me expus. Nunca me escondi atrás de máscaras. Se os estudantes querem defender uma posição, que assumam suas responsabilidades.”
Francisco de Oliveira, professor emérito da FFLCH, defende as reivindicações dos estudantes. “A abordagem da PM foi lastimável. Fumar maconha é um delito menor.”
O reitor João Grandino Rodas, responsável pelo pedido de reintegração de posse, diz que tentará resolver o impasse de forma pacífica e admite a possibilidade de “aprimorar” o convênio com a PM.