Mais da metade dos jovens que cumprem medidas socioeducativas não frequenta a escola

O levantamento é do Ministério Público do Distrito Federal

A prática de atos infracionais está relacionada com o comportamento que os adolescentes têm em relação à escola. Levantamento inédito feito pelo Ministério Público do Distrito Federal mostra que mais da metade dos jovens infratores não está matriculada na rede de ensino ou não freqüenta as salas de aula regularmente. A pesquisa foi feita a partir de questionários respondidos pelos 725 adolescentes que cometeram delitos entre 1º de novembro do ano passado e 29 de fevereiro último.

“A maior parte dos infratores fugiu da escola. A falta de perspectivas, de projetos de vida acaba encaminhando o jovem para a prática do ato infracional”, aponta o promotor Renato Barão Varalda, da Promotoria de Defesa da Infância e da Juventude do DF. De acordo com a pesquisa, 56,55% dos jovens condenados ao cumprimento de medidas socioeducativas no período não iam às aulas, contra 43,17% que estavam matriculados e eram assíduos.

O grupo dos que não estudavam foi responsável pela maioria dos atos infracionais graves, como furto, roubo, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Já os infratores que iam às aulas se envolveram em crimes como ameaça, injúria, lesão corporal e pichação. “A violência dos que estão fora da escola é maior, o que só reforça a importância da instituição na prevenção dos delitos”, comenta o promotor Varalda.

Mas os números também chamam atenção para os comportamentos delinqüentes dos que estão no ambiente escolar. “Não quer dizer que os jovens que estudam estão a salvo da violência. Muitas vezes é lá que o comportamento deles começa a manifestar traços assim”, afirma o promotor Varalda. Na opinião dele, para evitar a violência, a escola precisa ser mais atraente e pacificadora. E a família, os diretores, professores e funcionários devem se envolver mais no acompanhamento dos estudantes.“O Estatuto da Criança e do Adolescente inclusive prevê ações de responsabilização para pais e diretores que não zelam pelo direito à educação dos estudantes.”

Para a especialista em educação Miriam Abramovay, a diferença de gravidade entre os atos infracionais cometidos pelos que estudam e os que não estudam demonstra que as relações sociais também são determinantes. “As relações firmadas no contexto escolar conseguem, de alguma maneira, abrandar a violência. Ou seja, o relacionamento com colegas e professores mantém o jovem socialmente integrado”, afirma Miriam, consultora da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla).

Mas o outro lado da história aparece quando essas mesmas relações são tão ruins e tensas que levam o adolescente a abandonar os estudos. “A escola é um espaço cheio de contradições. Problemas de relacionamento também podem empurrar o jovem para fora dela e é neste momento que as coisas pioram”, destaca Miriam.

Com índices de abandono escolar que chegam a 7,5% no ensino fundamental, o consenso entre os especialistas é que a escola precisa se aproximar mais dos jovens. “Há uma dificuldade entre a cultura das escolas e a cultura juvenil. A escola precisa voltar a ser um lugar agradável, de alegria”, afirma Miriam. Segundo ela, a massificação do ensino trouxe para as instituições educacionais uma cultura de rua que ainda não foi incorporada pelos professores. “Há dificuldades até de linguagem entre os dois grupos”, diz a especialista.