Mais respeito com o que envolve a juventude

É revoltante a forma leviana com que a sociedade trata de assuntos importantes, principalmente aqueles envolvendo jovens. O que se presencia com o caso ENEM expõe a hipocrisia dos cidadãos, a demagogia do Executivo, a leviandade de ditos analistas e formadores de opinião. Toda a polêmica parece pautada pelo oportunismo daqueles que, de prontidão, aguardam o momento certo com sentenças decorrentes de recursos ou embargos que os privilegie nos holofotes promovidos pelo noticiário. Temos hoje na sociedade americana a grande fonte inspiradora para nossas ações e decisões, com vias que vão da arrogância à insensibilidade – e pedágios na corrupção. Lamentavelmente, essa sociedade é nossa referência e, dessa forma, sob a égide do modelo americano, encontramos os defensores de ações que privilegiem o capital, em detrimento de ações voltadas para o social.

Se, infelizmente, vamos buscar em outra sociedade o nosso horizonte de conduta, não podemos colocar de lado os valores por ela privilegiados. Deveria ser do conhecimento dos brasileiros que a prioridade de ingresso nas universidades americanas é de jovens que tenham condições de arcar com o ônus financeiro. Hipocritamente, desprezamos isso e, sob a justificativa de pretensa igualdade, abrem-se trincheiras para que mecanismos, como o do ENEM, privilegiem o oportunismo e exponham o quanto estamos longe de uma sociedade justa e equilibrada. É evidente a falta de estrutura, competência e conhecimento para que tal exame seja promovido em escala nacional, principalmente com plantonistas em busca de falhas – e essas sempre existirão. A incompetência não se limita a quem promove, mas a todo um contexto, cujo universo contempla dos idealizadores até os vitimados pela falta de compromisso dos executores, passando pelos que intencionalmente patrocinam o caos, por meios lesivos, como o de promover de forma impune o vazamento de provas.

Na realidade, nada disso seria necessário se houvesse credibilidade suficiente para promover um sistema educacional confiável, seja público ou privado, no qual mecanismos de avaliação conduzissem ao acompanhamento de jovens com aptidões específicas, a serem desenvolvidas em Escolas Técnicas, em Universidades ou qualquer outro campo que propiciasse a formação sadia da cidadania. Não se pode continuar convivendo com o pensamento elitista de que só há sucesso com a conclusão do Terceiro Grau, desprezando atividades que também são tão importantes em  um contexto de valor humano e social.

É lamentável, mas estamos gerações longe dessa prática e o que nos resta é tentar, de forma realista, seguir as regras impostas pelo sistema que copiamos e adotamos. Ao refletir sobre o custo de um exame de âmbito nacional, inviável de ser concluído com sucesso, que tal voltarmos ao velho vestibular de âmbito regional, um universo bem menor, sujeito a menos pressões e com baixo grau de falhas. Confesso que está fora dos meus princípios, mas dentro do regime social e financeiro que escolhemos: só estarão aptos aqueles que atenderem aos padrões impostos pelo sistema. Jogamos para baixo do tapete a constatação do quanto está sendo oneroso e nocivo para jovens que tentam ingressado nas universidades ou para profissionais, independente de sua formação, deparar com concursos de qualquer espécie. É preciso tomar consciência que tal mecanismo virou meio de vida para integrantes do Judiciário, educadores, profissionais envolvidos no evento, etc. Não dá para entende a razão de desprezar a competitividade, tão aplicada na sociedade que copiamos, onde até mesmo para pertencer aos quadros públicos é preciso demonstrar competência na prática – e não em toscos concursos.