MEC quer acelerar expansão de pós entre docentes da educação básica

Do total de 2,1 milhões de professores em sala de aula nas escolas do país, 682,3 mil retomaram os estudos após concluir a graduação.

Hoje, três de cada dez docentes das redes pública e privada fizeram especialização, mestrado ou doutorado. Até 2024, a meta é chegar a 50%, como prevê o PNE (Plano Nacional de Educação).

A grande maioria desses professores optou pela pós lato sensu, e leciona no ensino fundamental, segundo dados do ano passado coletados pelo Inep (instituto do Ministério da Educação).

O ensino médio, entretanto, concentra o maior número de docentes com título de doutor (ao todo, são pouco mais de 6.000). O índice de professores com pós vem crescendo nos últimos anos, mas em ritmo lento: em 2008, o percentual era de 25,2%. Em 2011, 27,18%.

A expectativa é que os números acelerem a partir de agora, afirma o secretário de Educação Básica do MEC, Manuel Palacios. Para isso, ele aponta dois fatores: a expansão no país de mestrados profissionais, de menor duração (um a dois anos), e parceria com instituições de ensino para que cursos de formação continuada tenham a carga horária aproveitada numa futura pós.

É o caso, por exemplo, de curso dado a professores alfabetizadores no âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na idade certa, programa do governo federal lançado em 2012. Essa é uma nova etapa do programa que está em estudo no MEC, a ser adotado a partir de 2016.

“Isso vai ser possível se as atividades dos professores [no curso] puderem ser utilizadas como crédito [numa pós-graduação]. Hoje, há uma avaliação da presença e realização de atividades, mas não tem de desempenho”, disse Palacios à Folha.

Ele pondera que pouco adianta o professor fazer uma pós se o resultado não repercutir em sala de aula –por isso, a intenção de criar uma ponte entre os cursos de formação continuada e a pós-graduação. “Se a maneira como você ensina não for alterado pela sua formação, essa pós foi pouco efetiva”, alega.

Formado em Geografia, o professor Paulo Martins, 35, argumenta que a rotina em sala de aula muitas vezes “engessa” as possibilidades de o professor seguir os estudos. Hoje, quase 44% dos docentes da educação básica atuam em quatro ou mais turmas.

Após oito anos de experiência, ele fez mestrado em urbanismo e doutorado sobre o caráter social do manejo de águas pluviais urbanas. A abordagem do tema com os alunos –de uma forma mais simplificada– foi um dos efeitos da pós, afirma ele, hoje coordenador pedagógico em escola da rede estadual de São Paulo.

“Vejo muitos teóricos discutindo o que é a escola pública, mas muitos não entram numa escola há tempos ou abandonaram a sala de aula”, afirma.

INTEGRAÇÃO

“Eram dois mundos muito diferentes, e eu tinha a pretensão de fazer uma ponte entre eles”, lembra o professor Ramatis Jacino, 57.

De um lado, estava o doutorado na USP sobre a exclusão do negro no mercado de trabalho em São Paulo, no início do século 19. De outro, as aulas de história para alunos do ensino médio em escola pública no Itaim Paulista, zona leste da capital.

Para aproximá-los, o docente não apenas tentou usar o conteúdo de sua tese em sala de aula como também destacou a própria experiência.

“Sempre falei muito em sala de aula: se eu, filho de carteiro e costureira, pude entrar na USP, eles também podiam. Procurei dar meu exemplo para que não achassem que tinham o destino de trabalhar em profissão com baixa qualificação. Ou pior.”

De família de classe média baixa, Ramatis interrompeu os estudos diversas vezes e conseguiu concluir a graduação aos 39 anos –é professor há 15. Enquanto fazia a pós, afirma ter visto poucos colegas seguirem o mesmo caminho. O motivo, argumenta, são os baixos salários dos docentes, que exigem uma carga horária extensa e aulas em diferentes turmas ou escolas. “Mas a grande maioria tem interesse em fazer [pós-graduação]”, afirma.

Hoje, ele está afastado da sala de aula: pediu uma licença para tentar o pós-doutorado na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). No futuro, pretende conciliar aulas no ensino superior e na educação básica.

“O ensino médio é um grande desafio”, resume. O Ideb mais recente comprova a avaliação. O principal indicador de qualidade da educação básica, divulgado ano passado, apontou queda no desempenho do ensino médio em 16 Estados.

Flávia Foreque – Folha de S. Paulo