Menos bombas e mais oxigênio para 2016

Grandes veículos de imprensa parecem ter entrado em um círculo vicioso do qual, aparentemente, não querem sair

As notícias de 2015, agravadas pelo final do período e a inevitável reflexão deste início de ano, me levam a escrever um texto um pouco diferente. Perdoem-me, se parecer um desabafo, mas é muito mais uma reflexão e uma tentativa de proposição.

Que final de ano! A instabilidade esteve presente durante todo o ano, mas, nos últimos dois meses, a quantidade de previsões catastróficas (algumas delas jamais vieram a se realizar, felizmente) foi sufocante. Apesar de um certo alívio, nos parece que há um excesso de lamentações ou de culto ao pessimismo. Alimentado, obviamente, por interesses diversos. Neste sentido, alguns dos grandes veículos de imprensa dão a impressão de ter entrado em um círculo vicioso do qual, aparentemente, não querem sair. Entendo que queiram noticiar as mazelas, as agruras e toda a enxurrada de denúncias sobre operações como Zelotes, Lava Jato e todas as suas variações como My Way, A Origem, Pixuleco, Vidas Secas (Graciliano que o diga). Assim deve ser a imprensa, atuar para dar transparência e informar.

Entretanto, não sabemos mais o que é de fato notícia ou que informações são concretas e quais outras estão apenas circundando os fatos. Também verificamos muitas notícias divulgadas apressadamente e sem concretude, fontes ou provas. São inúmeras as denúncias, informações advindas dos chamados delatores, vazadas sem ter origem identificada e que são interpretadas das mais variadas formas. Ao ler jornal ou ver TV tenho vontade de pedir socorro, “meu Deus, estamos sendo bombardeados!”. As notícias se multiplicam exponencialmente, cada vez mais, como um ataque. Faz-me lembrar da pesada artilharia despejada na cidade de Bagdá durante a ocupação do Iraque em 2003. À época, olhávamos (estupefatos ou não) para a TV como se estivéssemos assistindo à queima dos fogos na praia de Copacabana ou em qualquer outro lugar de alguma celebração de ano novo. Desalento para a condição humana, olhamos, mas fomos também atingidos.

Neste início de ano, fazendo essa reflexão, penso que não estamos conseguindo sequer respirar. Somos alvejados todos os dias em nossos cérebros e corações, além de termos nossa inteligência menosprezada. Junto das notícias da Lava Jato e dos depoimentos de delatores, muitos deles relatando conversas que tiveram com um ou com outro político (afinal, que provas realmente apresentam?), em meio a tudo isso, dados são veiculados com muitas imprecisões. Parafraseando Renato Russo, poderíamos não só perguntar que país é este, mas, também, que momento é este?

A mídia de maneira geral, obcecada por informações e divulgação, talvez não tenha se dado conta dos efeitos colaterais. Estamos cansados de ouvir só o lado ruim da notícia. Além disso, não é bom nem para os negócios. Não à toa vemos a queda de audiência de poderosos canais de TV e a diminuição das vendas de grandes jornais e revistas. Entre noticiar que a balança comercial teve superávit e que o Banco Central emitiu títulos, apenas essa última informação é dada e repetida. Entre noticiar que a dívida pública da cidade de São Paulo foi renegociada e aprovada no Congresso Nacional, o que é um grande feito para a cidade, prefere-se buscar uma ligação totalmente descabida entre o prefeito e o deputado que à época era líder de bancada. Aliás, o que se espera de um prefeito, que não conversasse com políticos, empresários e deputados para defender o interesse da cidade? Infelizmente, a notícia não informou e não deu conta de dizer o que significa de fato tudo isso.

Sem dúvida a corrupção deve ser combatida fortemente, e nossa ação nesse sentido deve ser contínua, permanente e consequente, com propostas e ações. Para além das denúncias e do conhecimento dos fatos, precisamos pensar no que fazer e em como agir para criarmos soluções. Recentemente, um jornal noticiou que alguns empresários deixaram o superficial movimento de impeachment que tentou ganhar as ruas em 2015 e que parece vazio e melancólico no seu conteúdo para se juntar ao Ministério Público e propor medidas concretas de anticorrupção. Esse talvez seja um exemplo do que a elite pode fazer por seu país.

Queremos uma trégua, um respiro, como uma máscara de oxigênio após bombas de gás. Obviamente, queremos saber das verdades, de forma emancipadora. Conhecer o que não está bom para podermos corrigir e transformar. Mas a vida se tornará insuportável se somente o que houver de ruim for noticiado. A alma humana precisa de alimento, precisa de arte e de paixão. Sobretudo, precisa de esperança. Não a esperança vazia ou superficial, mas a esperança dos que conhecem suas dificuldades, trabalham pacientemente e lutam por uma sociedade mais justa.

Vamos lá, vamos agir contra o desalento, contra as distorções e as injustiças. Vamos ter mais consciência e trabalhar para que possamos fazer a diferença.

Coluna Carta Capital