Mestrado profissional, uma saída para a formação de professores

Veículo: Monitor Mercantil – Página: 3
Data: 30/01/2009 Opinião

Os últimos dados divulgados pelo Ministério da Educação e Cultura apontam no sentido de que o número de alunos do ensino fundamental e médio atingem hoje as cifras de 32 milhões e 8.3 milhões. respectivamente. Ainda que a melhoria nestes indicadores possa ser alcançada e certamente o será graças ao empenho do MEC e das secretarias estaduais e municipais de Educação não é este o maior problema do ensino no Brasil que reconhecidamente está abaixo do mini mo considerado razoável. Reverter este quadro constitui o maior desafio para a Educação brasileira. Certamente tal reversão é possível. mas exigirá uma atuação continuada em vários setores. o que inclui infraestrutura física infraestrutura laboratorial melhoria salarial dos profissionais envolvidos com Educação e. o que me parece mais importante estímulos para que os nossos melhores jovens vejam na atividade docente uma possibilidade de realização profissional como já o foi no passado. E ainda necessário um amplo programa para melhor capacitar pelo menos parte do corpo docente existentes nas escolas em funcionamento.

Como melhorar o nível acadêmico dos milhares de professores hoje em sala de aula? Como atrair os melhores jovens egressos dos cursos de bacharelado e licenciatura para a atividade docente? A saída que me parece mais viável ainda que seu efeito só poderá se tornar perceptível lentamente é um forte incentivo governamental que dê oportunidade a que uma parcela significativa dos professores atuais e um contingente crescente dos novos professores façam o mestrado profissional em atividades de ensino.

Porque o mestrado profissional? Inicialmente cabe ressaltar que esta nova modalidade de curso de pós-graduação foi introduzida recentemente no país e com o objetivo principal de atender demandas específicas do setor produtivo. Atualmente a Capes reconhece 253 cursos de mestrado profissional. sendo que a maioria deles em áreas como a Engenharia (47 cursos nas subáreas de Produção Mecânica e Elétrica entre outras) as Ciências Sociais Aplicadas (47 cursos sobretudo em Administração e Economia) a área da Saúde (41 cursos com destaque para as subáreas da Odontologia e da Saúde Coletiva) as Ciências Agrárias (nove cursos) e um conjunto de cursos englobados no que se convencionou chamar de área multidisciplinar (81 cursos). A análise da proposta destes cursos deixa claro que na maioria dos casos têm como objetivo formar de maneira objetiva e no menor tempo possível o que pode ocorrer em tempo integral em um período de 18 meses profissionais especializados em áreas de grande demanda. Tal objetividade e rapidez fizeram com que estes cursos não tenham pelo menos na sua fase inicial sido bem compreendidos e aceitos pelas universidades de maior prestígio.

Na realidade tal reação não surpreende uma vez que em geral mesmo as melhores universidades são altamente conservadoras e têm dificuldades em aceitar as inovações. Aconteceu ontem com a educação a distância e hoje com o mestrado profissional.

No conjunto de cursos englobados como de natureza multidisciplinar vamos encontrar 28 cursos voltados para o Ensino de Ciências e Matemática alguns dos quais centrados na formação de professores. Aqui surge uma grande esperança para a educação brasileira. É fundamental que surjam dezenas de cursos voltados para a fonação de professores que irão conviver diariamente com nossa juventude nas escolas de ensino médio educação profissional e mesmo no ensino fundamental.

Para que um programa como este tenha sucesso é fundamental que a formação seja feita com o objetivo de fornecer forte embasamento nas mais diferentes áreas tendo como referência básica o currículo do ensino ao qual vai se dedicar aliado a uma excelente formação no uso dos métodos mais avançados de ensino prático em laboratórios e bases pedagógicas moderna. Para que um programa com estas características possa ter êxito torna-se necessário uma série de medidas.

Primeiro: as melhores universidades brasileiras devem ser estimuladas no sentido de organizarem cursos de mestrado profissional nas mais diferentes áreas do ensino de Português ao de Física.

Segundo : as autoridades governamentais nos estados e municípios devem estimular seus professores a ingressarem no mestrado profissional concedendo bolsas de estudo. Os cursos podem ser oferecidos em tempo parcial de modo a não agravar o problema da falta de professores.

Terceiro: o plano de carreira dos professores devem prever significativo aumento salarial para os professores que tenha o mestrado profissional desde que na área de atuação do docente. Este estímulo deve ser maior do que o concedido aos professores que tenham o mestrado acadêmico e semelhante ao que é dado para os que possuem o título de doutor. Nenhum projeto de melhoria do ensino terá sucesso se não criar estímulos que levem à consolidação de uma carreira de professor com a devida remuneração. tomando corno parâmetro o salário de um professor assistente das universidades federais em regime de dedicação exclusiva.

Quarto: a Capes e as fundações de apoio à pesquisa nos estados (FAPs) devem conceder bolsas para o mestrado profissional para jovens com excelente desempenho que concluem os cursos de licenciatura e desejam prosseguir na carreira docente voltada para o ensino médio.

Qual a viabilidade econômica de um programa como este? Esta é uma questão importante uma vez que a área da Educação trabalha com grandes números. Neste caso o impacto econômico vai ser ampliado gradativamente com o tempo permitindo que os governos adaptem seus orçamentos no sentido de priorizar uma área fundamental para a formação dos quadros que o país necessita na sua marcha para um crescimento econômico e social sustentável.

Wanderlev de Souza
Professor da UFRJ e diretor de Programas do Inmetro. membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.