Ministro é vaiado na Faculdade de Educação da USP

Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Haddad ouve reclamações sobre metas do governo durante evento

Diretora lembra que foi a primeira vez que um ministro da Educação visitou faculdade nos últimos 30 anos

DE SÃO PAULO
Foi sob vaias que o ministro Fernando Haddad entrou ontem no auditório da Faculdade de Educação da USP para debater o Plano Nacional de Educação, que estabelecerá metas a serem cumpridas pelo governo em dez anos.
Foi também sob vaias e gritos de protestos que o ministro saiu, depois de quase duas horas de bate-boca com estudantes ligados a correntes da ultraesquerda uspiana.
Haddad até invocou sua condição de ex-líder estudantil a fim de tentar granjear alguma simpatia. Ele foi presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito da USP. “Na minha época, nenhum ministro da Educação foi à faculdade discutir o que quer que fosse”. Mas a gritaria continuou.
“Haddad, que porcaria, o Paulo Freire choraria”, cantavam militantes do PSOL, do PSTU, da corrente Consulta Popular (ligada ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), lembrando o educador que fundou a chamada “Pedagogia do Oprimido”.
O ministro falou a um auditório lotado por 350 professores e estudantes. Em outro salão, ao lado, mais 100 pessoas acompanhavam o debate, transmitido por um telão.
Haddad foi recepcionado pela diretora da Faculdade de Educação, Lisete Regina Gomes Arelaro, que mencionou o fato de que aquela era a primeira vez em 30 anos que um ministro da Educação visitava a faculdade.
Não sensibilizou os manifestantes, que protestavam contra o fato de o Plano Nacional de Educação prever a destinação de 7% do PIB para a educação. Eles querem 10%. “Haddad, eu não me engano, 7% é proposta de tucano!”, bradavam.
O ministro ironizou a reivindicação. “É claro que eu queria que fosse até mais do que 10%. Mas não adianta dizer isso aqui. É o mesmo que pregar dentro da igreja. É preciso convencer a sociedade brasileira dessa necessidade. Só assim o Congresso Nacional aprovará”, disse.
Segundo Haddad, o orçamento do MEC subiu de R$ 32,1 bi para R$ 69,7 bi desde que assumiu a pasta. “Nunca, desde os anos 30, se investiu tanto em educação como agora”, afirmou, conquistando aplausos.

CANDIDATO
Até sua condição de pré-candidato a prefeito de São Paulo -ele é o candidato preferido de Lula no PT-, o ministro citou. Contra a pretensão de Haddad, existe a de Marta Suplicy, com quem ele deve disputar prévias.
“Vim aqui porque acho que esse debate é importante. À tarde, eu já sabia que haveria protestos contra mim. Qualquer marqueteiro diria para eu inventar uma desculpa e não vir. Mas eu preferi vir.”
O DCE da USP, hoje dirigido pela chapa Todas as Vozes (PSOL e Consulta Popular), preparou faixas e cartazes para recepcionar Haddad. Uma delas manifestava apoio aos movimentos reivindicatórios em curso nas universidades federais. Até ontem, esses movimentos envolviam as federais de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Fluminense, Paraná, Espísrito Santo, entre outras.
Além de questões específicas dessas universidades, os estudantes reivindicam melhores políticas de permanência estudantil, como moradia e restaurantes.