Mujica será o primeiro Doutor Honoris Causa da Unipampa

O senador e ex-presidente da República Oriental do Uruguai, José Alberto Mujica (Pepe Mujica), será o Primeiro Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). A proposta foi aprovada na última terça-feira, 22, durante reunião do Conselho Superior Universitário da Unipampa. A homenagem deve acontecer ainda no primeiro semestre deste ano.

De acordo com o coordenador de Relações Internacionais da Unipampa, professor Hélvio Rech, Pepe Mujica é merecedor do título pela sua atuação em prol da educação, pela promoção dos direitos humanos, da justiça social, dos valores democráticos e pelo melhor entendimento entre os povos.

“Mujica converteu-se no solitário exemplo de líder que todos desejariam ter: porta voz de uma filosofia e uma prática de vida que se baseiam em perguntas essenciais para o conhecimento acadêmico, mas também para todos os seres humanos hoje”, completou ele.

Segundo Rech, entre os 200 chefes de estado com assento na Organização das Nações Unidas, Mujica foi o que conseguiu admiração em todos os quadrantes, a ponto de um pequeno país como o Uruguai, sem relevância militar ou econômica, com menos de 0,05% da população mundial, ter seu presidente eleito personalidade do ano em 2013 pela publicação britânica The Economist.

“Mujica é um grande estadista, uma pessoa humilde consagrado como um político de referência mundial pelas suas ações, incluindo na área da educação”, justificou o reitor da Unipampa, Marco Antonio Hansen.

A divulgação da informação de que Mujica seria o primeiro Doutor Honoris Causa da Unipampa teve bastante repercussão em uma rede social. Além de professores, estudantes e técnicos da Universidade, a comunidade gaúcha parabenizou a iniciativa.

“A Universidade Federal do Pampa faz jus ao seu nome quando concede o seu primeiro título de Doutor Honoris Causa ao senador Mujica. Um homem de visão universal, comprometido com as causas da América Latina e referência para todos aqueles que defendem a vida com dignidade, com respeito ao meio ambiente. Em sua simplicidade, Mujica é um grande mestre para todos aqueles que buscam, a exemplo da Unipampa, produzir mudanças de paradigmas para que tenhamos uma sociedade mais justa para todos”, declarou o Deputado Estadual, Luiz Fernando Mainardi.

Para o estudante de Engenharia da Computação da Unipampa, Pablo de Andrade Lima, Mujica é uma referência a ser seguida pelos políticos da América Latina e do mundo, além de um grande exemplo para os educadores e educandos da Universidade.

Segundo o produtor cultural da Unipampa, Mauro Lemos, a homenagem ao Pepe Mujica revela o forte simbolismo que a figura representa para a região, e, por consequência, para a Universidade. “Pepe, não foi apenas o ‘presidente pobre’, foi quem colocou o Uruguai na vanguarda de diversos debates de nível global. A homenagem, dessa forma, traduz o desejo da Unipampa em espelhar-se em seu exemplo”, afirma Lemos.

O professor da instituição, Ricardo Gacki, parabenizou a iniciativa. “Ao homenagear Mujica, homenageamos todas as mulheres e homens simples, trabalhadores, que buscam através de iniciativas diferenciadas transformar o mundo em um lugar melhor para toda a humanidade”, disse ele.

Pepe Mujica

Nascido em Paso de La Arena, periferia rural de Montevidéu, Mujica comemorará seu aniversário de 81 anos no próximo dia 20 de maio de 2016. Filho de Demetrio Mujica Terra e Lucy Cordano, aos seis anos de idade perdeu o pai, um pequeno estancieiro, falido pouco antes de falecer. Dos 13 aos 17 anos foi praticante de ciclismo, representando vários clubes em todas as categorias. Ainda jovem, Mujica engajara-se na luta pela democracia, influenciado pelo seu tio materno, Ángel Cordano, um nacionalista e peronista do Uruguai. Desde os 14 anos, participou de atividades políticas, que reivindicavam salários dignos e melhoria das condições de vida e trabalho dos operários que residiam em seu bairro, Paso de la Arena. Em 1956, através da mãe, conheceu o deputado nacionalista Enrique Erro, estabelecendo-se uma parceria que definiu o futuro do jovem Mujica. Com a vitória eleitoral de 1958, seu amigo e companheiro Enrique Erro foi nomeado Ministro do Trabalho, e Mujica integrou sua equipe, embora não tenha sido nomeado oficialmente em nenhum cargo.

Durante os anos da ditadura e da luta armada, foi ferido com seis tiros, preso quatro vezes, e em duas oportunidades fugiu da prisão de Punta Carretas. Foram quase quinze anos de cárcere. Sua última prisão ocorreu em 1972 e foi anistiado em 1985. Foi essa experiência que forjou o Mujica que o mundo conhece.

Retomada a normalidade democrática no Uruguai, Mujica renunciou à luta armada e se engajou em consolidar o frágil processo democrático. Elegeu-se deputado por Montevidéu em 1994 e em 1999, senador da República. Com a vitória eleitoral da coalizão Frente Ampla nas eleições presidenciais de 2004, tornou-se Ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca entre 2005 a 2008, no governo de Tabaré Vasquez. A mesma coligação o elegeu Presidente da República, tomando posse em 1º de março de 2012. Notabilizou-se a ponto de ser sistematicamente requisitado para entrevistas e conferências internacionais.