No primeiro teste como candidato a prefeito, Haddad repete Dilma e mostra pouco traquejo político

SÃO PAULO – A estreia do ministro da Educação, Fernando Haddad, na disputa pela vaga de candidato do PT à Prefeitura de São Paulo mostrou que o economista, para chegar às eleições, terá que passar por um aprendizado intensivo para ganhar traquejo político, segundo os militantes petistas que o ouviram neste final de semana em caravanas petistas realizadas na periferia da capital paulistana. Uma situação muito semelhante à que aconteceu com a presidente Dilma Rousseff no período pré-eleitoral do ano passado, quando os petistas diziam que ela era muito técnica e com pouca experiência política. O próprio ministro declarou neste domingo, ao fazer uma autoavaliação após se apresentar aos petistas da zona Leste, que este é um momento de “calibragem” e que o PT tem mais chances de vencer a eleição com um “nome novo”.

Na sexta-feira, o PT iniciou uma série de 36 encontros regionais na capital paulista com seus militantes para escolher, até o fim deste ano, quem será o candidato a prefeito dentre cinco pré-candidatos. Além de Haddad, estão no páreo e se apresentaram neste final de semana aos militantes a senadora Marta Suplicy, o senador Eduardo Suplicy e os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini.

A avaliação de petistas que acompanharam esse primeiro teste de Haddad é de que falta a ele desenvoltura. De fato, o ministro levou para o evento partidário um discurso muito mais administrativo do que político, cheio de números e siglas distantes do cotidiano da maioria da população.

– Nós acabamos com a DRU para a educação – soltou Haddad em um desses momentos, sem explicar à plateia, formada em sua maioria por lideranças de bairros, que se referia à Desvinculação das Receitas da União, mecanismo que permite à União gastar um porcentual do orçamento livremente.

Haddad também falou em emendas constitucionais e conferências nacionais feitas pelo ministério dele, assuntos de pouca relevância numa eleição municipal.

O ministro também destoou no estilo. Diferentemente do discurso duro contra o prefeito Gilberto Kassab (sem partido) feito por Marta e pelos demais pré-candidatos, Haddad evitou críticas à atual gestão.

– Os problemas da cidade a própria população conhece. Não precisa reforçar. O que ela quer saber é como vamos resolver. Acho que essa é uma característica pessoal. Prefiro olhar para frente – justificou Haddad.

Sobre o desempenho na estreia com a militância, ele avaliou:

– Estou acostumado a falar muito. Falo em sala de aula até a congresso da UNE. Está certo que aqui é um pouco diferente. Você tem que ouvir e responder à expectativa da militância. É um período inicial de calibragem.

Apesar da falta de experiência, Haddad tem uma vantagem em relação aos demais pré-candidatos que pode fazer a diferença. O ministro é o favorito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a prefeitura paulistana . Por isso, e também por experiências anteriores, como o caso da própria presidente Dilma Rousseff, que enfrentou as mesmas críticas do partido quando foi escolhida por Lula para sucedê-lo, petistas amenizaram neste sábado o impacto que o fraco desempenho de Haddad nesse início do debate partidário pode ter para uma eventual candidatura.

Desconhecido da maioria dos eleitores paulistanos, Haddad minimizou a importância das pesquisas de intenção de voto como critério para escolha do candidato petista para 2012. Sua principal concorrente no partido, a senadora Marta Suplicy usa as sondagens para dizer que é a candidata natural e com mais chance de vitória na eleição.

– A um ano da eleição, quero crer que é muito prematuro se basear exclusivamente em pesquisas – disse o ministro.

Marta afirmou em entrevista publicada neste domingo pelo jornal “O Estado de S.Paulo” que “Lula, se não quiser ganhar, vai com Haddad”. O ministro reagiu:

– O PT tem chance de ganhar com um nome novo. Não precisa ser o meu, mas com nome novo e proposta mais arejada podemos ganhar.

Para cair no gosto da militância, ele fez sua primeira promessa eleitoral. Disse ter como proposta para reduzir a falta de médicos na periferia isentar do pagamento do financiamento universitário – um programa do governo federal – estudantes de medicina que escolherem trabalhar em unidades públicas nessas regiões carentes. Foi o único momento em que o ministro arrancou aplausos da militância.

Haddad comprometeu-se a participar dos próximos encontros regionais petistas, mas sempre aos finais de semana para não prejudicar seu trabalho no Ministério da Educação.