Número de brasileiros estudando em universidades e faculdades fora cresceu 14% em um ano

SÃO PAULO – Cada vez mais brasileiros estão pegando um voo internacional para ir à universidade. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o número de brasileiros de nível superior estudando fora cresceu 14% em apenas um ano. Segundo o relatório “Education at a glance” de 2010, foram 27.571 em 2008, contra 24.157 em 2007. Em 2000, esse número era de 11 mil. Os países para os quais o Brasil mais manda universitários são Estados Unidos, França, Portugal, Espanha e Alemanha, segundo a OCDE.

” A minha faculdade é maravilhosa, tem estrutura que não se encontra no Brasi “

O número de estudantes que têm conseguido bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, aumentou 23% nos últimos cinco anos. Ano passado, 4.900 brasileiros foram fazer graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado ou estágio no exterior, com bolsas de US$ 870 a US$ 2.300, além de auxílio-instalação e seguro-saúde. Eles foram principalmente para Estados Unidos, França e Portugal. Em 2006, eram 3.965 bolsistas.

Capes terá mais 75 mil bolsas

Já o número de bolsas para o exterior concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério de Ciência e Tecnologia, caiu nos últimos anos: em 2010, foram 437; no ano anterior, eram 579.

A divulgação, em julho, de que a Capes e o CNPq concederão 75 mil bolsas de estudo no exterior deve aumentar ainda mais a presença de brasileiros em centros de excelência em pesquisa e ensino do mundo.

Mas hoje muitos não esperam bolsas para realizar o sonho de estudar fora. Após fazer graduação em Ciências da Computação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), o baiano Bruno Guimarães Sousa, de 24 anos, inscreveu-se para cursar mestrado em universidades do Canadá. Enquanto esperava o resultado da seleção, começou a fazer mestrado numa faculdade privada da Bahia. Porém, meses depois, foi aprovado para um mestrado em Ciência da Computação na Universidade de Western Ontario.

– A vantagem de estudar fora é pôr em prática o estudo do inglês também. A Unifacs (universidade privada da Bahia onde cursava mestrado) é boa, mas não tem reconhecimento internacional. Estou indo para uma universidade que é reconhecida – diz Bruno, que arcará com o custo total de US$ 8.500 pelos estudos no Canadá.

Há quem consiga bolsas concedidas pela universidade estrangeira escolhida. Foi o caso do carioca André Penna, de 22 anos, que desde 2010 faz graduação em Administração na Universidade Lindenwood, nos EUA. Ele espera que a experiência lhe renda boas oportunidades profissionais.

– A minha faculdade é maravilhosa, tem estrutura que não se encontra no Brasil. Todas as salas têm computador, tem mais de dez laboratórios de informática e uma grande estrutura de esportes. Pretendo voltar com um currículo bom para trabalhar, acho que vai fazer diferença no Brasil – diz André.

Robert Pascal Gerbauld Catalão, de 29 anos, já se formou em Educação Física na Universidade do Estado do Rio (Uerj) e fará uma segunda graduação, em Negócios, na Alemanha. Após visitar várias universidades no país, ficou impressionado com o alto investimento para pesquisas na Alemanha.

– Estruturalmente, as universidades na Alemanha são melhores do que as do Brasil. Na Uerj, muitas vezes faltavam portas nos banheiros e giz nas salas. Não há bandejão, que é uma grande ajuda para os alunos com pouco dinheiro, e as bolsas de graduandos são escassas e magras – diz Robert.

Há várias razões para esse interesse em ir para o exterior.

– Um dos fatores é a confiança que o brasileiro tem na economia. Você tem mais condição de planejar a longo prazo. A economia está estável, estamos com um dólar bem mais acessível – diz Maura Leão, presidente da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta).

Para Lia Faria, diretora da Faculdade de Educação da Uerj, a busca de estudos no exterior ajuda os alunos na hora de procurarem emprego:

– O mundo de hoje é plural. O próprio mercado de trabalho é mais competitivo e acaba levando as pessoas a buscar garantir um diferencial em relação aos que permanecem no país. Quem não tem curso no exterior fica em desvantagem.

Ao conceder bolsas de estudos no exterior, o governo espera que os alunos retornem, trazendo o conhecimento adquirido. Mas nem sempre isso ocorre. O CNPq estima que 3% dos 437 beneficiados por bolsas em 2010 não voltaram. Assim, ficam obrigados a devolver o dinheiro que receberam do governo.

Em alguns casos, o governo tem que entrar na Justiça para reaver o investimento. Há pesquisadores que devem cerca de R$ 300 mil ao CNPq. Na Capes, entre 2002 e o primeiro semestre de 2009, foram identificadas irregularidades em 44 bolsas. São casos de estudantes que não retornaram, não ficaram tempo suficiente no Brasil ou não concluíram o curso.

Medicina lá fora não garante diploma

Em 2010, de 628 que tentaram revalidar diplomas, só dois passaram na prova

SÃO PAULO. Mensalidades mais baratas e a dispensa de vestibular têm atraído jovens brasileiros interessados em cursar medicina em países da América Latina, como Bolívia e Argentina. Uma busca rápida na internet revela que há até empresas especializadas em dar assessoria a quem não conseguiu realizar o sonho de ser médico no Brasil.

Oberdan Ritchie Ramiro Costa, de 27 anos, tentou fazer medicina nas universidades de São Paulo (USP), Federal de São Paulo (Unifesp) e Federal de Minas Gerais (UFMG). Como não foi aprovado no vestibular, após duas tentativas, mudou-se para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde estuda numa universidade privada. Paga mensalidade de US$300. Se fosse estudar nas faculdades particulares da região onde morava, no interior de São Paulo, pagaria de R$3 mil a R$4 mil por mês.

– Além de ser caro no Brasil, ainda tem o vestibular, que não é fácil – diz.

Mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) alerta para a existência de cursos de qualidade duvidosa. Essa pode ser uma das razões das dificuldades encontradas pelos recém-formados para revalidar seus diplomas. Sem isso, não podem atuar como médicos no Brasil.

Em 2010, os ministérios da Saúde e da Educação criaram o programa Revalida, para tentar agilizar o processo de revalidação de diplomas de médicos. Quem se forma em medicina no exterior pode pedir a revalidação apresentando diploma e documentação em universidades públicas brasileiras, um procedimento, em geral, demorado, ou fazendo a prova do Revalida.

O índice de aprovação dos formandos em medicina no ano passado preocupa o CFM. Dos 628 candidatos, só dois foram aprovados. Para a prova deste ano, que abrange uma parte teórica e outra prática, há 601 inscritos de 29 países, sendo 320 da Bolívia, 146 de Cuba e 58 da Argentina.

O vice-presidente do CFM, Carlos Vital, diz que já soube de faculdades de medicina na América Latina com corpo docente despreparado, falta de material e instalações inadequadas:

– Aqueles que não conseguem passar nos vestibulares buscam da maneira mais fácil possível a chance de fazer a escola em países vizinhos e de fronteira, com qualidade questionável, e tentam voltar com a revalidação de diploma. Isso é temerário. Os brasileiros deveriam se informar mais sobre as escolas que estão buscando, para que não sejam vítimas e tenham prejuízos, por fazerem um ensino precário – alerta Vital.

Aluna do décimo semestre de medicina numa faculdade privada de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, a brasileira Vanessa Aparecida dos Santos diz que, apesar de ser fácil entrar na universidade, as aulas são puxadas e muitos desistem. Com muitos elogios à instituição onde estuda, ela pensa em atuar como cirurgiã no Brasil.

– Com certeza sofrerei preconceito, porque as pessoas não sabem que a minha faculdade é de qualidade. A estrutura da minha universidade, comparada com a das universidades do Brasil, fica “elas por elas”, ou a minha é até melhor – afirma.