O financiamento das universidades

A grave crise financeira vivida por algumas universidades estaduais e a falta de continuidade dos repasses às universidades federais acabam por suscitar o debate sobre o financiamento da educação superior pública.

As consequências são evidentes: programas paralisados, transferência de pesquisadores para outros países e cursos interrompidos.

A rotina acadêmica não é apenas vivida no ato de transmitir conhecimentos. Ela acontece nos projetos de investigação, nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado, e nas atividades de extensão.

A Universidade tem por missão contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, pelo aprofundamento e pela geração de novos conhecimentos e pela sua difusão. Ela o faz com competência, pertinência e equidade.

A competência é medida pela capacidade da instituição em realizar trabalhos de investigação, oferecer cursos de boa qualidade, diplomar profissionais qualificados, publicar trabalhos e livros.

A pertinência afere a capacidade da universidade em responder às necessidades da sociedade e dos governos, e a equidade é avaliada pela capacidade da universidade em assegurar a igual distribuição de oportunidades.

Os hospitais universitários (HUs) são um exemplo relevante das atividades de extensão, com estreita vinculação com o ensino e a pesquisa, porque, ao lado da formação de médicos e outros profissionais da área da saúde, contribuem para a pesquisa e para o avanço da ciência.

Eles se constituem em parâmetro determinante para o equilíbrio dos serviços públicos em muitos municípios. São centenas de milhares de atendimentos ambulatoriais e cirurgias realizadas por eles, envolvendo significativa fatia dos recursos de custeio.

Em muitos casos, os HUs são o ponto de apoio às modernas práticas hospitalares, oferecendo equipamentos e exames únicos para uma expressiva faixa da população, ainda sem acesso aos planos de saúde.

Como, por exemplo, poderíamos pensar na melhoria da saúde de nossa população do Rio de Janeiro, já extremamente fragilizada, sem o hospital Pedro Ernesto, o Gafrée-Guinle, o Clementino Fraga e outros hospitais universitários?

Nas atividades de pesquisa, a presença das universidades é marcante e decisiva para o nosso desenvolvimento científico e para a inovação, base do incremento da competitividade das nossas empresas, que dela necessitam para uma efetiva participação no fluxo de comércio internacional.

O apoio das universidades às empresas inovadoras se concretiza, por exemplo, na oferta de meios para a instalação de incubadoras e parques tecnológicos, na disponibilização de equipamentos para ensaios, nas verificações metrológicas e na criação de condições que asseguram a continuidade dessas empresas.

Em algumas universidades, o envolvimento do quadro de pesquisadores e a qualidade do trabalho realizado permite economia de divisas muitas vezes superior aos investimentos. Foi dessa forma que avançou a produção de petróleo em laminas d’água profundas, no off-shore.

Na robótica, na automação, na nanotecnologia, na biologia molecular, na bioquímica e na identificação de novas vacinas, surgiram soluções importantíssimas.

A atividade científica depende da garantia de continuidade e de quantitativos adequados à sustentabilidade dos projetos, que devem ser vistos como um investimento para o progresso e o bem-estar da população.

São, portanto, financiamentos elevados, mas que trazem resultados importantes. Eles jamais serão cobertos pela cobrança de mensalidades, mais ainda porque nem todos têm condições de arcar com tais custos.

Por tudo isso, e pela qualidade de seu trabalho, torna-se imperioso assegurar a sustentabilidade da UERJ.

Diversas circunstâncias acabaram por gerar um modelo interessante na organização do sistema de educação superior, com o equilíbrio entre o público, gratuito, e o privado, pago, peças fundamentais no desenvolvimento da nossa educação superior. É preciso preservá-lo.

*Paulo Alcantara Gomes, ex-reitor da UFRJ.

 

Fonte: O Globo