O Sisu e a mobilidade estudantil

A instituição do vestibular unificado, que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como critério de seleção, vem estimulando muitos estudantes paulistas a buscar uma vaga nas universidades federais situadas fora do Estado de São Paulo. São estudantes que receiam não passar nos vestibulares da USP, da Unicamp e da Unesp, mas que obtiveram no Enem a nota necessária para ingressar nas instituições federais de ensino superior.

Além de serem gratuitas, como as três universidades públicas paulistas, as universidades federais oferecem graduação de boa qualidade e várias dispõem de cursos e linhas de pesquisa com padrão de excelência em áreas específicas – tais como medicina, veterinária, geologia, mineração, engenharia elétrica, arquitetura, física e computação. Para os pais, em muitos casos o custo de manutenção dos filhos que estudam fora de casa é menor do que o valor da mensalidade de uma universidade particular ou confessional.

Entre 2010 e 2011, o número de estudantes paulistas matriculados em universidades federais de outros Estados cresceu 70,9%. Esse aumento já era previsto desde que o Ministério da Educação reformulou o Enem e criou o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), há dois anos. Como a rede pública de ensino básico do Estado de São Paulo tem uma qualidade superior ao nível médio das escolas públicas e até privadas dos demais Estados, era inevitável que muitos estudantes paulistas migrassem principalmente para Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde se situam algumas das mais importantes universidades mantidas pela União.

No ano passado, segundo as estatísticas do Ministério da Educação, 4 em cada 10 estudantes paulistas conseguiram entrar numa boa universidade federal fora de São Paulo, graças às notas do Enem. Ao todo, 4.327 estudantes paulistas se matricularam em instituições federais de ensino superior situadas nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, graças à nota obtida no Enem. Esse número poderá aumentar ainda mais a partir desta semana, quando a rede de informática do Sisu começará a receber as inscrições dos vestibulandos que fizeram as provas do Enem em outubro de 2011. No vestibular de 2012, serão oferecidas 108.552 vagas em 95 instituições públicas de ensino superior.

A oferta de vagas é liderada pelas universidades federais fluminenses. Só a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é a maior do País, está oferecendo 4.707 vagas em seus cursos de graduação.

Em seguida, estão as instituições mineiras de ensino superior.

Minas Gerais é o Estado com o maior número de universidades mantidas pela União.

Apesar do tamanho de sua população, São Paulo só tem três instituições federais de ensino superior.

Ao propiciar maior mobilidade dos estudantes universitários pelo País, a exemplo do que ocorre há muito tempo nos Estados Unidos e na Europa, a criação do vestibular unificado torna as universidades federais mais cosmopolitas.
Para privilegiar os estudantes locais e tentar evitar a invasão de vestibulandos de outros Estados, as universidades federais enfatizavam o regionalismo em seus processos seletivos.

Elas exigiam, por exemplo, dados da história social, política e econômica do Estado em que estavam situadas e de escritores regionais.

A reforma do Enem acabou comesse expediente, democratizando o acesso à rede de universidades federais e pondo fim a um provincianismo pedagógico que prevaleceu durante décadas.

Para alguns especialistas, a mobilidade estudantil contribuirá para a modernização dos currículos das instituições de ensino superior situadas no Norte e Nordeste, ajudando a integrar culturalmente o País.

Outros especialistas lembram que, por serem menos desenvolvidas, essas regiões não terão capacidade de absorver a mão de obra qualificada oriunda de seus cursos, o que levará muitos estudantes a serem obrigados a migrar novamente quando se formarem.

Com o vestibular unificado estudantes paulistas migram para onde é mais fácil passar