Oposição antecipa disputa eleitoral e ataca Haddad

Além de falar sobre Enem, ministro teve de explicar na Câmara suas visitas a SP para agenda de pré-campanha; em reação, exaltou feitos do PT ante era FHC

Mais à vontade no figurino de pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, compareceu ontem à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara para falar sobre os problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Logo que chegou, porém, foi lançado a um debate com a oposição sobre seu legado à frente da pasta, dando uma prévia do discurso de campanha pelo Palácio do Anhangabaú.

No palanque improvisado e blindado pela tropa de choque governista, Haddad incorporou o estilo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, e atacou o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso.

Capitaneada por deputados do PSDB, a oposição cobrou do ministro explicações sobre os percalços das últimas edições do Enem e questionou se os vazamentos da prova, além do aumento no valor dos contratos do exame, não sinalizariam um “fracasso de sua gestão”.

“O Enem é alvo de atos ilícitos por estar dando certo”, afirmou Haddad. “Nosso governo foi o que mais ampliou investimentos públicos em educação, não só em relação ao nosso passado, porque é covardia, mas em relação aos países mais avançados do mundo”, insistiu o ministro, provocando a ira da oposição.

Para se proteger dos ataques, Haddad armou-se de números: disse que o governo do PT elevou a taxa de investimento do PIB em educação para 5%, diante dos 3,9% da gestão FHC, afirmou que o orçamento da pasta saltou de R$ 19 bilhões, em 2003, para R$ 82 bilhões e exaltou a abertura de escolas técnicas.

“Não precisamos dar publicidade para mostrara diferença de postura do poder público, atualmente, em relação à educação.

Sobre isso, tenho segurança de que, nestes últimos seis anos, o MEC nunca viu um aumento tão expressivo do orçamento. Não há paralelo”,disse.

Bastão. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), não conteve a irritação. “A gente tem de fazer uma política no País como corrida de bastão: recebe o bastão do antecessor e o entrega da maneira possível para o sucessor”, atacou o tucano. “As condições em que vocês herdaram o País foram tão fantásticas que o Brasil poderia estar muito melhor do que está agora. É fácil fazer discurso.” Haddad também foi cobrado por suas constantes idas a São Paulo, nos fins de semana, quando participa de atividades de campanha. Garantiu que nunca recebeu diárias do ministério nessas ocasiões e afirmou que viaja em avião da Força Aérea Brasileira, de carona. “É tudo fora do expediente”, destacou.

Na noite de ontem, Haddad jantou com o presidente do PC do B, Renato Rabelo, em Brasília.

O PT tenta fechar aliança com os comunistas, que falam em lançar o vereador Netinho de Paula à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Ainda nesta semana, o ministro conversará com a presidente Dilma Rousseff. Ele pretende entregar o cargo em janeiro de 2012, depois de tirar 15 dias de férias. O comando do PT quer que Haddad saia logo para “construir” a candidatura, já que ele não é um político conhecido.

Investimento

FERNANDO HADDAD, MINISTRO DA EDUCAÇÃO

“Nosso governo foi o que mais ampliou investimentos em educação, não só em relação ao passado, mas em relação aos países mais avançados”

Costura para as eleições de 2012

De carro oficial, o ministro Fernando Haddad foi ontem a um encontro político em um restaurante de Brasília. Lá jantou com o presidente nacional do PC do B e o ex-ministro Orlando Silva