Painéis ampliam debates sobre as perspectivas da CRES 2018

Foram tematizados o significado do manifesto para a Educação Superior e a perspectiva para os próximos 10 anos. Documento final será divulgado nos próximos dias.

Após a conferência de Francisco Tamarit, coordenador-geral da Conferência Regional de Educação Superior (CRES 2018), e uma mesa temática, o Painel “A Educação Superior no Pós-CRES 2018″ teve continuidade na tarde desta terça-feira, 25 de setembro, com duas mesas que discutiram as perspectivas de aplicação das decisões da conferência realizada durante as comemorações do centenário da Reforma de Córdoba, Argentina, em 1918. O evento foi realizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), pela Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM) e pelo Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (CONIF), com o apoio da UFRGS.

A mesa “O significado do manifesto da CRES 2018 para a Educação Superior no Brasil” foi coordenada pelo reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Anísio Brasileiro, e teve a presença de sete reitores e reitoras representando instituições de ensino superior de todo o país. O primeiro a falar foi o reitor Reinaldo Centoducatte, da Universidade Federal do Espírito Santo, que fez uma análise de conjuntura do papel da universidade e suas missões. Segundo ele, as universidades possuem um conjunto de instrumentos que atendem à sociedade, como hospitais, teatro, tevês, atividades culturais, e isso deve ser reconhecido nas prioridades de governo. Também acrescentou a necessidade de criação de novas estratégias para modernizar e aperfeiçoar a atuação das instituições e a ampliação das políticas de permanência nas universidades.

Dois convidados representaram as Universidades Estaduais e Municipais e os Institutos Federais, respectivamente: Haroldo Reimer (Universidade Estadual de Goiás) e Carla Comerlato Jardim (Instituto Federal Farroupilha). Reimer destacou a cooperação institucional e transregional entre as universidades, citando o exemplo do fórum regional entre as universidades locais em seu Estado, e chamou a atenção para duas dificuldades das instituições públicas: a reação lenta aos desafios e a comunicação com a sociedade. Carla Jardim situou o Manifesto de Córdoba em relação à realidade dos institutos federais, enfatizando o contexto ético e político da CRES 2018, no qual a educação superior é entendida como um bem público, um direito humano e um dever do Estado. Ela reforçou, ainda, o papel da universidade diante do contexto de ameaças atuais à educação superior no Brasil.

Os demais reitores trouxeram o tema em outras perspectivas, como Dácio Roberto Matheus, da Universidade Federal do ABC e Jaime Giolo, da Universidade Federal da Fronteira Sul. Dácio Matheus reiterou as prioridades indicadas pela CRES do ensino superior como bem público e como dever do Estado, e a necessidade da formação humanista como aliada à formação profissional. Ele citou os cursos de Bacharelado Interdisciplinar, que possuem a base humanista e científica, como forma de aproveitar o eixo da formação superior para a introdução dos alunos ao meio acadêmico. E acrescentou que a Universidade pode “fazer muito para além do Ensino, da Pesquisa e da Extensão”. Por fim, Giolo criticou o modelo de ampliação da educação a distância no país e indicou que a CRES precisa da organização das universidades públicas a fim de propor projetos práticos de desenvolvimento.

Duas reitoras sinalizaram a relação da CRES com questões específicas: Ângela Maria Paiva Cruz (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), com a Agenda 2030; e Cleuza Maria Sobral Dias (Universidade Federal do Rio Grande), com a formação de professores. Ângela Paiva Cruz retomou a carta da Andifes aos presidenciáveis e a necessidade de revogação Emenda do Teto de Gastos para que seja possível cumprir as metas colocadas na CRES 2018. Sobre a Agenda 2030, ela frisou a responsabilidade social e o modo como tem sido feita, por meio dos fóruns da Andifes, a sensibilização e a inserção das metas no planejamento das universidades. Cleuza Dias afirmou que a releitura do manifesto de 1918 a colocou diante dos desafios e questionamentos denunciados pelos estudantes à época; ela ainda reforçou a importância do papel da educação superior na educação básica, acrescentando que a formação de professores precisa ter mais espaço, pois é um importante ponto de vinculação entre escola e universidade.

E o futuro? – Na sequência, outra mesa foi composta com o título “O que fazer com o manifesto CRES 2018 nos próximos 10 anos”, sob a coordenação do ex-reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto. Conforme ele, a ideia era prospectar o ano de 2028 e refletir sobre ações concretas visando uma maior integração da educação superior no ano da realização de nova conferência. O reitor Emmanuel Zagury Tourinho (Universidade Federal do Pará) propôs uma reflexão sobre questões como ameaças à Universidade e à autonomia universitária, baixa taxa de oferta de educação superior no continente, regulamentação da educação superior diante da mercantilização, políticas de estado e possíveis chamadas públicas de pesquisas em cooperação ou, até mesmo, agências multilaterais de fomento à pesquisa. Tourinho também convocou ao debate sobre os sistemas de educação superior no continente e as experiências de avaliação.

Mais dois convidados trouxeram temas que precisam continuar sendo debatidos no continente, como Alvaro Maglia (Associação de Universidades Grupo Montevideo), que reivindicou o fortalecimento do ENLACES (Espaço de Encontro Latino-americano e Caribenho de Educação Superior) e dos demais fóruns de integração entre as universidades; e Mateus Fiorentini (Organização Continental Latino-americana e Caribenha de Estudantes), que ressaltou igualmente a necessidade de espaços de integração das universidades da região, além de ter criticado o fato de o maior financiador da mobilidade estudantil ser um banco privado, pois não há uma agência regional.

O encerramento da mesa contou com a presença do reitor da UFRGS Rui Vicente Oppermann, que realizou um resgate do processo desde os preparativos para a CRES 2018, incluindo a Carta de Brasília, que foi a contribuição das universidades brasileiras ao evento. Finalmente, Oppermann ressaltou o papel da UFRGS nas atividades regionais e sua grande identificação com a cultura latino-americana. Em sua avaliação, a CRES 2018 trouxe a experiência acumulada e projeto às universidades para o futuro, por meio de um documento final sofrido e disputado: “não poderia ser unânime”, ressaltou.

No encerramento, sob a coordenação da vice-reitora da UFRGS Jane Tutikian, a comissão de redação apresentou os tópicos para a redação de um documento final do evento, a Carta de Porto Alegre, que será enviada às associações nacionais, à IESALC e às demais entidades latino-americanas. A Carta também será encaminhada aos presidenciáveis das Eleições 2018.

 

Assista às palestras do Painel “A educação superior no pós-CRES 2018”:

Conferência de Abertura – Professor Francisco Tamarit 

O Significado do manifesto da CRES 2018 para a Educação Superior na América Latina e no Caribe” – Debora Ramos (Unesco – Iesalc), Reitor Gustavo Vieira (Unila) e Reitor Paulo Afonso Burmann (UFSM)

O Significado do manifesto da CRES 2018 para a Educação Superior no Brasil – Reitores Ângela Paiva (UFRN), Carla Jardim (IFFar), Cleza Sobral Dias (FURG), Dácio Matheus (UFABC), Jaime Giolo (UFFS), Haroldo Reimer (UEG) e Reinaldo Centoducatte (UFES)

O que fazer com o manifesto da CRES 2018 nos próximos 10 anos – Reitor Emmanuel Tourinho (UFPA), Professor Alvaro Maglia (AUGM), Mateus Fiorentini (Oclae) e Reitor Rui Oppermann (UFRGS) 

 

Com informações da Secom UFRGS