Para quitar dívidas, UnB pode reduzir até 25% do quadro de funcionários terceirizados

Com os cortes de 30% na verba, instituição acumula dívidas de água e luz; sindicato dos servidores vai deliberar sobre indicativo de greve

BRASÍLIA – Com a redução de 30% no valor do orçamento destinado pelo Ministério da Educação (MEC) às universidades federais, a Universidade de Brasília (UnB) sinalizou que deve readequar os contratos com empresas terceirizadas para conseguir fechar as contas. Com isso, as prestadoras de serviço podem demitir até 25% do quadro de funcionários com a redução da demanda. A universidade também tem dívidas nas contas de energia elétrica e água que chegam a R$ 2,3 milhões. Contudo, o fornecimento desses serviços ainda não foi interrompido.

De acordo com o Decanato de Planejamento e Orçamento da UnB, desde fevereiro a universidade está adiantando parte do orçamento dos meses seguintes para cumprir contratos e pagar dívidas dos meses correntes. O responsável pela pasta, César Augusto Tibúrcio, diz que a crise financeira na instituição já era esperada:

— A questão da terceirização é a mais angustiante porque com a falta de repasses não conseguimos efetuar o pagamento das empresas. A gente já sabia que a UnB passaria por dificuldades. Estamos dependendo dessa transferência do governo.

Tibúrcio explicou que a instituição aguarda o repasse do orçamento pelo MEC até a próxima semana. No entanto, ele destaca que não há perspectiva quanto ao valor que será destinado à UnB, mas garante que haverá cortes. Por isso, o decano ressalta que os contratos com as empresas terceirizadas passarão por ajustes.

Quase metade do quadro de funcionários da UnB é constituído por servidores terceirizados. De 5.900 servidores, cerca de 2.900 têm contratos com prestadoras de serviços de segurança, limpeza, copa, manutenção, jardinagem e transporte. A despesa total com a folha de pagamento no ano passado foi de R$130 milhões. Mas agora, a UnB pretende economizar com esses gastos.

O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (SINTFUB), Mauro Mendes, disse que os estoques do material de manutenção e limpeza da UnB, usados por esses funcionários, já estão reduzidos e podem faltar nos próximos meses. Ele cobra que a reitoria da UnB faça ajustes em outras áreas da universidade para poupar os terceirizados:

— É lamentável que quem vá pagar por isso (cortes) sejam os trabalhadores. A UFRJ já está fechada por falta de recursos, e na UnB não será diferente. Cortar recursos na educação é altamente delicado. Falta material e no campus de Planaltina, onde havia nove veículos para transporte de servidores, agora há apenas um. Tudo isso afeta o trabalhador.

O cronograma de obras na UnB também deve ser comprometido nos próximos meses com a redução no orçamento. A reforma de revitalização do principal prédio da universidade, o Instituto Central de Ciências (ICC) deve ser suspensa.

Os estudantes se queixam que este mês a frequência do transporte entre os campi da universidade foi reduzido. Já os docentes alertam que houve queda nas ofertas de bolsas para pesquisas de pós-graduação. Também faltam folhas de papel para atividades administrativas.

O sindicato dos servidores marcou uma assembleia para esta quinta-feira para deliberar quanto ao indicativo de greve da categoria, que reivindica mais recursos do governo federal para a educação.

Jessica Moura – O Globo