Paulo Renato critica Enem mais voltado para o vestibular

Novo secretário da Educação de SP, que criou o exame quando foi ministro, afirma que a meta original era priorizar raciocínio Secretário aponta a formação dos professores como uma das causas da baixa qualidade do ensino em todo o país

O novo secretário da Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza, critica a mudança do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), proposta pelo Ministério da Educação. Para ele, o Enem é importante por exigir menos conteúdos específicos de disciplinas e mais raciocínio, característica que baliza o ensino médio. No novo formato, diz, deixará de exercer essa influência. A União pretende que o Enem seja a forma de seleção de calouros de todas as universidades federais. O exame passará de 63 para 200 testes e cobrará mais conteúdo. O presidente do Inep (órgão responsável pela aplicação do Enem), Reynaldo Fernandes, rebateu a crítica de Paulo Renato -que criou o exame quando foi ministro no governo FHC. "Hoje o Enem não baliza o ensino médio. Quem faz isso são os vestibulares, que cobram muitos conteúdos específicos.

O novo Enem irá cobrar tanto conteúdo quanto raciocínio." Leia abaixo trechos da entrevista com Paulo Renato.

FOLHA – Na posse, o sr. disse que assume a secretaria atendendo a um "compromisso partidário". A educação ficará em segundo plano até a eleição?
PAULO RENATO SOUZA –
A minha vida nega isso. Dediquei a minha vida toda à educação. Mas estou muito insatisfeito com o que está acontecendo no país. Ajudarei mais reforçando o governo Serra [governador José Serra, do PSDB, cotado como candidato a candidato à Presidência] do que como um homem a mais no Congresso [exercia mandato de deputado federal pelo PSDB].

FOLHA – Pretende se candidatar?
PAULO RENATO – Não. Agora, estou ligando minha trajetória política à do governador Serra.

FOLHA – O que lhe foi pedido?
PAULO RENATO – Que continuasse o trabalho da secretária Maria Helena. Ele não estava insatisfeito. Mas, como sou deputado, fui ministro e secretário, trago um reforço político, como uma pessoa mais experiente. Com mais gestão, cuidado na implementação de projetos.

FOLHA – Haverá algum programa novo ou alguma mudança?
PAULO RENATO – Não. Mas quero dar mais ênfase a duas áreas: alfabetização e diversificação do ensino médio. Nos dois casos, é intensificar e cobrar mais os programas que já estão em andamento. Também quero uma nova prova para professores temporários, mas ainda procuro uma solução jurídica.

FOLHA – A maioria dos alunos de SP não sabe o que deveria. E o seu partido está no poder desde 1995.
PAULO RENATO – Uma coisa importante é que hoje temos bons instrumentos de avaliação. E tem havido uma evolução lenta, mas, sim, deveríamos estar melhores. Não estamos por causa da formação dos professores, um problema nacional. Quando fui ministro, quis que a formação estivesse mais voltada ao que é trabalhado na sala de aula. Mas as faculdades de educação da USP e da Unicamp barraram, disseram que era diminuir o papel do professor. Hoje, eles sabem muita teoria e pouca prática [as universidades não se pronunciaram].

FOLHA – Apoia o novo Enem?
PAULO RENATO – A proposta tem méritos, mas está mal formulada. O mérito é estimular a mobilidade dos alunos pelo país. Mas é negativo mudar o Enem. Será uma nova prova, com mais conteúdo. Assim, perdemos o Enem, que é importante para balizar o ensino médio. O exame hoje avalia competências e habilidades gerais. Não serve para selecionar candidatos para cem vagas disputadas. Ele ficará descaracterizado.

Fábio Takahashi – Folha de São Paulo, 15/04