Posição ruim

Rankings são relativos, mas o Brasil não deveria ignorar a má colocação de suas universidades nessas listas, o que reflete problemas reais

Na semana passada, mais duas instituições que elaboram classificações internacionais de universidades divulgaram suas listagens.
Na mais abrangente delas, feita pelo britânico Times Higher Education, a USP voltou a figurar entre as 200 melhores do mundo, no 178º lugar, avanço de 54 posições em relação a 2010. Foi a única da América Latina a aparecer neste seleto grupo.
Em outro levantamento britânico -do instituto Quacquarelli Symonds-, restrito à América Latina, oito das 20 melhores instituições são brasileiras, sendo a USP a melhor da região.
Antes de lamentar a pífia presença brasileira no mundo ou de comemorar a liderança na América Latina, convém considerar que esses rankings variam conforme os critérios que adotam.
Dependendo dos fatores considerados, e do peso dado a cada um deles, a posição de uma universidade pode variar muito. A mesma USP que está no 178º lugar pelo THE, foi considerada recentemente a 19ª melhor pelo grupo espanhol Scimago ou a 471ª pela Universidade de Leiden, da Holanda.
Se o avaliador privilegia, por exemplo, a quantidade de artigos publicados em revistas científicas, a conta é mais favorável a universidades de grande porte, caso da USP. Mas, se for dado maior peso para a repercussão desses trabalhos -medida pela quantidade de vezes que o estudo é citado em outros artigos-, as universidades brasileiras perdem posições, em parte porque publicam pouco em língua inglesa.
Dito isso, é inegável que há muito a avançar. Seria tolice esperar que, em pouco tempo, universidades brasileiras passem a rivalizar com as melhores do mundo, quase todas dos EUA e do Reino Unido.
Mas o exemplo da China, da Coreia do Sul e de Cingapura -nações com melhor desempenho que o Brasil- mostra que, mesmo distante daquele eixo, é possível ter mais instituições de ensino superior figurando entre as melhores.
A visibilidade nesses levantamentos traz prestígio e ajuda a atrair financiamento. Acomodar-se com a desculpa de que rankings são relativos e não ambicionar ter mais universidades em melhores posições seria erro grosseiro.
Incentivar a pesquisa com mais recursos é parte importante deste projeto, mas não suficiente. Vale lembrar que, considerando a média -e não só as universidades de elite-, o Brasil já gasta por aluno no ensino superior público o mesmo que a média de países ricos.
É preciso valorizar quem realiza pesquisa de qualidade e cobrar quem, acomodado com a estabilidade do emprego público, é pouco produtivo, seja quanto à formação de alunos em sala de aula, seja na produção de conhecimento novo.
Essas e outras medidas podem contribuir para aumentar a presença brasileira nas classificações, mas sem que se esperem grandes saltos.