Prova nacional para professores: boa ideia?, artigo de João Batista de Araujo e Oliveira

Esse futuro teste deverá também assegurar que os escolhidos são portadores dos requisitos essenciais ao exercício do bom magistério

Num país federativo e desigual como o Brasil, uma prova nacional para professores pode ser uma boa ideia. Para isso, precisará ter duas características básicas.

A exemplo de outros concursos públicos, sinalizará para os candidatos os conteúdos desejados, que poderiam se limitar ao nível em que o professor irá lecionar. As instituições de ensino que formam professores saberão o que fazer. O futuro teste deverá também assegurar que os escolhidos são portadores dos requisitos essenciais ao exercício do bom magistério. O nível de aprovação deve ser elevado, para valorizar a prova.

A meta é melhorar a qualidade do ensino, o que não se resolve só com provas. É preciso atrair os mais qualificados para o magistério também com política salarial e incentivos. Se a prova desvincular a exigência de formação específica, aumentará o número de candidatos qualificados.

Atrair e selecionar bons candidatos não basta: professores se revelam bons ou maus no estágio probatório. Nos países desenvolvidos, cerca de 50% dos candidatos não passam dessa fase.

Ser professor não é fácil -porque não é uma atividade simples. Uma medida dessa natureza requer articulação com as redes de ensino.

Um projeto desse vulto deve aproveitar para promover a municipalização do ensino fundamental, e não para perpetuar a atual bagunça federativa. Para tornar a medida mais atrativa e justa, aos atuais professores deve ser dada a opção de incorporarem-se à nova carreira.

O MEC tem experiência mista na área de exames, daí os cuidados. A Prova Brasil e o Saeb seguem os padrões internacionais de qualidade.

Já exames como o Enem e o Enade, apesar de suas boas intenções, beiram o desastre. O Enem é particularmente problemático. É o modelo a ser evitado a todo custo e em todos os sentidos.

O mais grave seria não sinalizar o que o aluno deve saber e escorregar no lodaçal de “competências genéricas” ou ideologias pedagógicas.

Essa observação nos remete ao ponto central: o que o professor deve saber? A evidência aponta duas coisas. Primeiro, o professor deve dominar com segurança os conteúdos que irá ensinar.

Há lições interessantes da China.Lá, a maioria dos professores das séries iniciais possui apenas nove anos de escolaridade, mas sabem mais matemática e logram melhores resultados do que o professor norte-americano com curso superior completo.

Segundo, deve saber ensinar. Isso é mais difícil de avaliar. Mas é possível balizar o processo, se o professor for capaz de identificar, a partir dos erros em uma prova, o que o aluno não aprendeu.

Posto dessa forma, o professor compreenderá os processos mentais envolvidos numa situação de aprendizagem, sem se perder no campo minado da pedagogia ensinada em nossas faculdades. Quando perguntado sobre o que achava da civilização ocidental, Gandhi respondeu: “Isso poderia ser uma boa ideia”. A prova para professores também.
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JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação (1995).

Folha de São Paulo, 05/07/10