Quase 40% dos professores não têm formação para a matéria que ensinam

Cerca de 39% dos professores da rede pública que atuam nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio não têm formação considerada adequada para uma ou mais disciplinas em que lecionam.

Os dados são do novo Censo da Educação Básica, com dados de 2015, e foram divulgados pelo Ministério da Educação nesta segunda-feira (28).

O levantamento aponta que, de 518.313 professores, 200.816 dão aulas em disciplinas diferentes de sua área de formação.

Se considerado o fato de que um professor pode dar aulas em mais de uma disciplina, o percentual é ainda maior: neste caso, cerca de 52% das vagas na rede pública são ocupadas por professores sem licenciatura ou graduados em área diferente da qual lecionam.

É o caso, por exemplo, de um professor com licenciatura em matemática, mas que dá aulas de química ou português, por exemplo.

DISCIPLINAS

Em um comparativo entre as disciplinas, a física é que a apresenta o maior percentual de professores com formação inadequada -ou 68,7%. Em seguida, estão geografia (62,3%), história (60,1%) e ciências (59,9%).

A situação, no entanto, também preocupa em relação às demais, afirma o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Hoje, apenas 48,7% dos professores de matemática dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio possuem licenciatura na área. Outros 38,4% se formaram em outras áreas e cerca de 13% não concluíram o ensino superior, uma situação que contraria a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que determina as diretrizes da educação no país.

Em outra ponta, biologia é a disciplina com maior percentual de professores com formação adequada: 78,4%. A pasta não divulgou dados dos anos anteriores para comparação.

Para Mercadante, o alto índice de professores com formação inadequada está relacionado ao que define como baixos salários e à falta de atratividade para a carreira. Ele cita pesquisa da Fundação Carlos Chagas que cita que apenas 12% dos estudantes do ensino médio querem ser professores. “A grande maioria [dos estudantes] não quer ir para a sala de aula. Estamos distantes ainda de motivar os jovens para isso”, afirma.

“Precisamos de 19 mil professores de física, mas só formamos 1.826 físicos por ano”, compara. Segundo Mercadante, a situação atual contribui para agravar o problema. “É impossível que um professor consiga encantar os alunos [para uma área] ministrando uma disciplina que ele mesmo não fez.”

MAIS VAGAS

Diante dos dados, a pasta lançou nesta segunda-feira novas medidas na tentativa de melhorar a qualificação dos professores. Ao todo, serão ofertadas 24 mil vagas em cursos presenciais em universidades e institutos federais e outras 81 mil em cursos à distância para que os docentes complementam a formação.

Também serão ofertados cursos durante as férias da rede pública, por meio do programa Parfor (plano nacional de formação de professores da educação básica). As inscrições para os cursos serão abertas a partir do dia 5 de abril, por meio da plataforma Freire, do MEC.

Questionado, Mercadante evitou falar em metas. Mas diz que “não vai faltar vaga”. “Ofertaremos desde que vá fazer na disciplina que está ministrando”, afirma.

NATÁLIA CANCIAN – Folha de São Paulo