Reuni: um relato alagoano, artigo da reitora Ana Dayse Rezende Dorea

Um retrato do microcosmo alagoano em um passado recente é capaz de nos auxiliar na avaliação dos impactos nacionais já visíveis e constatáveis oriundos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). 
 
Em dezembro de 2003 assumíamos a gestão da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em um cenário adverso, demonstrável nos números referentes aos recursos orçamentários previstos para nossa instituição.
 
Em 2004, nossa Universidade contava com Orçamento previsto de aproximadamente R$ 203 milhões. Entretanto, muito pouco deste montante constituía a margem disponível para os investimentos essenciais e inadiáveis que há tempos necessitávamos e aguardávamos.
 
Recursos escassos que se convertiam em limitadores de iniciativas rumo à melhoria de nossos indicadores. Na prática, após a repartição dos valores já comprometidos com despesas diversas, restavam R$ 8 milhões para manutenção e custeio da Ufal.
 
Entretanto, o dado estarrecedor é que ao final das contas nosso fundo disponível para investimentos durante todo o ano de 2003 era de parcos, vexatórios e míseros, pasmem, R$ 100 mil reais! Sim, R$ 100 mil reais, valor na atualidade correspondente ao preço de 4 automóveis nos modelos de tipo “popular”.
 
Claro que não podemos medir a Educação Superior unicamente pelo viés financeiro ou pela aparente frieza matemático-estatística. Entretanto, é fato que a redução nos recursos conduz ao desprestígio da Educação Pública, causando um dos mais nocivos danos a uma Nação: negligenciar em especial à juventude oportunidades de um amanhã mais digno e de construção coletiva de um país menos desigual.
 
O painel dramático dos investimentos em 2003 na Ufal se refletia àquela época em todas as instituições de ensino superior da União, nos 27 estados brasileiros, proporcionando a inadmissível inanição do sistema de Educação Superior pública federal.
 
Logo, algo precisava ser feito. E este passo foi dado já em 2003 a partir de propostas dos reitores das Universidades encaminhadas por meio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
 
Unidos, reitores levaram à gestão que então assumira o Governo Federal os clamores de suas comunidades acadêmicas e, principalmente, idéias concretas em busca de investimentos programados nas Universidades. Era aí então plantada a semente que daria origem ao Reuni.
 
Inicialmente, a proposição de se repensar não somente o orçamento como também o desenvolvimento das instituições desencadeou uma primeira fase de Expansão das Universidades Federais que durou de 2003 até 2006. Neste processo de Expansão foram criadas 10 novas instituições e 49 campi universitários no interior do país.
 
Daí, a partir do êxito referencial alcançado com esta experiência grandiosamente pioneira, em 2007 foi concebido o Reuni. Em sua totalidade as Universidades Federais aderiram ao Programa submetendo ao Ministério da Educação projetos que hoje resultam na ampliação de vagas, na contratação de novos docentes, na ampliação e modernização infraestruturais e na implantação de 95 campi universitários em ações previstas pelas próprias instituições, autônoma e individualmente, até 2012. No total o Reuni prevê investimentos de R$ 2,4 bilhões na Educação Superior pública nacional.
 
Assim, em se apresentando a realidade alagoana como sintomática do panorama brasileiro, temos hoje um outro horizonte de investimentos na Universidade Federal de Alagoas, o qual nos ajuda a visualizar uma nova perspectiva de aporte de recursos nas 58 instituições representadas pela Andifes.
 
O orçamento da Ufal previsto para 2008 aumentou significativamente para cerca de R$ 324 milhões, sendo R$ 6 milhões e 300 mil para ações de infraestrutura, R$ 894 mil para capacitação de servidores e R$ 3 milhões para nossa interiorização. Com o Reuni, a Ufal deve receber até o fim do Programa um total de R$ 129 milhões.
 
Com o fomento da União, instalamos em 2006 o Campus Arapiraca da Ufal, situado na segunda maior cidade de nosso estado, saldando uma dívida histórica para com o povo alagoano. Em 2009 chegaremos ao sertão de Alagoas com o Campus Delmiro Gouveia, ofertando oportunidades a milhares de estudantes antes desprovidos de acesso à Educação Superior pública.
 
Este relato alagoano é demonstrativo da importância do Reuni para a Universidade pública brasileira. De nossa realidade local, podemos projetar os resultados macro alcançados e a serem conquistados em todo o país por este Programa que, após décadas de investimentos aviltantes, vem reposicionando nossas instituições federais de Educação Superior.
 
* Ana Dayse Rezende Dorea é reitora da Universidade Federal de Alagoas e vice-presidente da Andifes. Artigo publicado no Jornal do Brasil.