Seria justo se universidades públicas e gratuitas fossem multiplicadas, diz cientista

O argumento de que as universidades públicas brasileiras devem ser pagas porque grande parte dos que têm acesso a ela provém de caras escolas particulares e que alunos pobres estudam em escola pública e frequentam universidades privadas é tão verdadeiro quanto perverso.

Uma universidade pública e gratuita é um patrimônio do povo brasileiro.

É verdadeiro porque, nos últimos 50 anos, a escola pública brasileira sofreu uma queda de qualidade trágica. Ao mesmo tempo que a educação se democratizou e a população pobre chegou aos ensinos Fundamental e Médio, as escolas públicas se degradaram em sua estrutura física e curricular e os professores tornaram-se os servidores públicos mais mal pagos do país.

É verdadeiro também porque, durante os governos da ditadura militar e de Fernando Henrique Cardoso, houve um aumento espetacular de universidades e faculdades privadas, algumas excelentes, outras de porta de garagem, em detrimento das universidades públicas.

Mesmo os esforços dos governos petistas foram tímidos. A escola pública não teve a atenção que deveria ter recebido e programas de pagamento de bolsas em universidades particulares impediram que as universidades públicas crescessem na velocidade que o país necessitava. Mas nada disto justifica o pagamento de mensalidades. Ao acabar a gratuidade, não se resolverá problema algum e se aprofundará a desigualdade: se um dia lutamos por reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e jovens negros para tentar minimizar a injustiça secular, agora se estará institucionalizando o apartheid.

As universidades públicas ficarão para os ricos que podem pagar bons colégios e universidade; já os pobres e a classe média baixa serão definitivamente banidos, afinal eles já estudam em colégios públicos de baixa qualidade.

O que o Brasil precisa é de um governo comprometido com um projeto muito robusto de transformação da escola pública, para além dos palanques. Atualmente, a humilhação por que passam os professores dá a medida da preocupação das elites no poder com a educação. Mas seria justo se as universidades públicas e gratuitas fossem multiplicadas, as vagas cada vez mais garantidas aos alunos da escola pública.

Uma universidade pública e gratuita é um patrimônio do povo brasileiro, entregá-la ao mercado e ao 1% mais rico da população em troca de mensalidades é levar até ela o rebaixamento moral e ético que este país está vivendo.

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