A Uerj paga o pato

Na crise, governo estadual escolheu condenar a universidade

A crise econômica, todos sofrem os efeitos da austeridade. Quando os recursos são parcos, a sua disposição é uma questão de escolha. O Executivo estadual escolheu por condenar a Uerj. O desmonte de uma das maiores instituições de ensino e pesquisa do Brasil é uma opção desumana, que cobrará um alto preço em termos civilizatórios. Não existe desenvolvimento econômico e da consciência de um povo sem um forte arcabouço científico e educacional. Sem isso, o que há é atraso e retrocesso. Barbárie.

A Uerj é um pilar. Um ícone de excelência. É a quinta melhor universidade do país, e a primeira a adotar um sistema de cotas para o acesso. Além disso, é pioneira na interiorização do ensino superior, levando-o ao interior do estado, como é o caso da Faculdade de Tecnologia, em Resende, e da Febef, em Caxias.

Essa excelência é facilmente constatada. Doze Ministros que passaram pelo STF são egressos da Uerj, sendo dois integrantes da composição atual: Luís Roberto Barroso e Luiz Fux. Entre seus professores, há personalidades do gabarito do constituinte Afonso Arinos e do ex-governador Nilo Batista.

A outrora pujante universidade agoniza em meio à maior crise econômica e política vivida pelo Estado do Rio. Devido aos sucessivos desmandos governamentais, está abandonada. Servidores não recebem, elevadores não funcionam, terceirizados não são pagos, e o lixo se alastra pelos corredores. O Hospital Universitário Pedro Ernesto, referência no tratamento de diversas doenças, está largado à própria sorte. Uma situação de caos e abandono, que nada remonta aos tempos gloriosos da Uerj, verdadeiro patrimônio do estado e do Brasil.

Os reflexos do descaso se evidenciam pelo número de inscritos no último vestibular. Neste ano, o número de examinandos foi 50% menor do que o do ano passado. Destes, mais de 10% não compareceram às provas. Ser aluno da Uerj, sonho tão almejado por milhares de jovens em outros tempos, não mais se encontra entre os principais objetivos da nossa juventude.

Esse é o triste retrato. Os danos à intelectualidade e à formação do conhecimento científico para o estado e para o país são incomensuráveis. Esse movimento de desmonte da universidade só gerará mais abandono, mais migração de brilhantes mentes que compõem o seu quadro acadêmico; e a intelectualidade e excelência, marcas outrora de uma imponente e conceituada instituição, se esvaem com o sangue de uma ferida que, inexoravelmente, levará a Uerj a óbito.

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Dentro dessa perspectiva, a defesa da universidade é uma necessidade que se impõe, pois a condenação do Estado do Rio de Janeiro a uma era de mediocridade intelectual e ignorância só interessa àqueles que se utilizam da falta de conhecimento para fins eleitorais. Não se pode permitir uma nova idade das trevas para as gerações futuras.

A defesa da Uerj é a defesa do futuro em que governantes mais capacitados moral, política e tecnicamente não deixem que os erros de ontem, que levaram à situação de hoje, se repitam amanhã.

Felipe Santa Cruz é presidente, e Fábio Nogueira Fernandes, procurador-geral da OAB/RJ

Fonte: O Globo