Ufam 107 anos: parcerias geram oportunidades e consolidam laços no Amazonas

A cada ano, os desafios da Universidade Federal do Amazonas crescem. Para acompanhar essa realidade, as parcerias ajudam a consolidar sua importância no contexto regional, e, em especial, no Estado. Ao longo desses 107 anos, a Ufam avança para além da esfera do ensino, ofertando oportunidades; e cresce para além dos números, valorizando as pessoas.

“O tempo é nosso aliado na tarefa de exercitar uma construção colaborativa da Universidade, revelando nossa vocação transformadora”, ressalta a reitora, professora Márcia Perales. “Conquistar credibilidade, ser referência acadêmica, construir uma instituição amazônica inclusiva são desafios permanentes e de toda a comunidade universitária da Ufam”, acrescenta.

Como legado, alunos e servidores levam a marca da Ufam em cada trabalho de ensino, de pesquisa e de extensão que desenvolvem junto às comunidades locais. Hoje, a Escola de Enfermagem de Manaus (EEM), a Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) e o Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) são apenas três exemplos de unidades que abrigam parcerias capazes de consolidar os laços da Ufam com a sociedade amazonense.

A reitora declara ainda que, ao longo de 2016, uma diversidade de experiências exitosas de outros cursos, unidades e projetos serão apresentadas, tendo em vista que cada pessoa que faz parte desta comunidade contribui para fortalecer a marca da Universidade no Estado e na região Norte.

Todos os alunos da Escola de Enfermagem de Manaus (EEM) tiveram ou terão experiências na rede pública de saúde. O último ano do curso é destinado ao estágio em hospitais, maternidades e unidades básicas. “Em 2015, 22 estudantes cursaram as disciplinas de Estágio Curricular I e II nas zonas urbana e rural do Amazonas. Onze deles ficaram nos arredores de Manaus e os demais estiveram nos municípios de Autazes ou Urucurituba”, explica a diretora da unidade, professora Nair Chase.

A seleção das localidades leva em conta os convênios entre a Ufam e os gestores municipais. “Para estabelecer as parcerias, os professores da disciplina Saúde Coletiva II realizam contato inicial com as autoridades locais, seja a Prefeitura ou a Secretaria Municipal de Saúde. Em outros casos, o próprio município solicita a atuação dos estudantes”, explica a professora Nair Chase. Após essa etapa, um convênio é firmado por meio da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (Proeg) e os partícipes apresentam suas expectativas e contrapartidas.

A atenção primária é a principal demanda no interior, em especial com relação a grupos prioritários, como materno-infantil e terceira idade; ao controle de doenças como hipertensão e diabetes; e a enfermidades como dengue, malária, tuberculose e hanseníase. Os internos atuam nas ações de vigilância em saúde e educação permanente de trabalhadores e têm a oportunidade de conhecer a realidade sócio-sanitária das comunidades e desenvolver consultas de enfermagem para crianças, gestantes, idosos e adolescentes.

Os futuros profissionais da Saúde também devem passar pelo internato, como é o caso das finalistas Adélia Sampaio e Tsiiary Pereira, que realizaram a vivência profissional em julho passado, na cidade de Autazes, localizada a 108 km de Manaus. A prática da enfermagem só foi possível através das parcerias interinstitucionais. “Tivemos a oportunidade de agregar vivências à formação acadêmica, o que nos tornará profissionais diferenciadas”, afirmam.

Embora já tivessem experiência na atenção básica em Manaus, Tsiiary e Adélia enfrentaram outros desafios no internato.  “É uma realidade distante do ideal ao pleno funcionamento dos serviços de saúde. A população é carente de recursos materiais e isso afeta a qualidade de vida e a saúde dos indivíduos. Por esse motivo, enfatizamos a promoção da saúde e as ações de educação em escolas, centros comunitários, igrejas e até na rádio local”, relatam as alunas.

Ao avaliar a experiência, a diretora ressalta o estímulo do pensamento crítico sobre práticas de enfermagem em contextos socioculturais diversificados. “O estudante desenvolve um vínculo com essa realidade maior do que com a academia. A preceptoria é feita por profissionais do serviço e a avaliação é realizada a distância pelos professores da Ufam”, completa ela.

A professora Gilsirene Scantelbury, que é coordenadora acadêmica da EEM, entende que essa é uma forma de a Universidade contribuir com serviços à comunidade. “Isso permite maior autonomia, aspecto positivo para o estudante que já se encontra próximo da conclusão do curso. Ele conhece a realidade do seu Estado e, com propriedade, decide se atuará no interior ou na capital”, pondera. Os resultados do internato revelam que a aceitação dos acadêmicos pela população e pelos profissionais de saúde tem sido bastante positiva, e que a Ufam acerta ao promover interação social por meio de seus cursos de graduação.

 

Tecnologia e tradição

Diversidade socioambiental e cultural, sustentabilidade, tecnologia e tradição. O Núcleo de Socioeconomia (Nusec), vinculado à Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), com 14 anos de funcionamento, promove atividades autossustentáveis através de projetos multidisciplinares que possibilitam o diálogo com as comunidades da zona rural. “A melhoria da qualidade de vida de populações localizadas nos municípios do interior e da região metropolitana de Manaus é o objetivo central”, pontua a coordenadora, professora Terezinha Fraxe.

A equipe de sete pesquisadores atua em quatro frentes: ‘Cultura cabocla e ribeirinha’, ‘Organização social’, ‘Extensão rural’ e ‘Trabalho, sociedade e meio ambiente’. Através de cursos, palestras e oficinas, a proposta é valorizar o conhecimento tradicional, a identidade cultural dos povos da floresta e a agroecologia direcionada às condições locais. A atuação da Universidade é efetivada por meio de projetos com temáticas específicas.

A Agroufam é uma experiência que alia agricultura familiar e economia solidária. O evento ocorre mensalmente no hall da FCA, setor Sul do campus universitário Senador Artur Virgílio Filho. “O evento é orientado por práticas e produção agroecológicas e com base solidária e sustentável. Durante a Feira, expositores oriundos de alguns municípios e do entorno da capital vendem diretamente aos consumidores”, esclarece a coordenadora do Núcleo.

O objetivo é garantir que esse seja um evento de base unicamente orgânica. Segundo os coordenadores, a missão é o desenvolvimento rural sustentável articulado a extensão universitária, inovação tecnológica, inclusão social, diversificação da renda da agricultura familiar, fomento em ações agroecológicas, sustentabilidade socioambiental, nutrição e segurança alimentar. Um dos principais resultados é a criação da Associação Central dos Produtores Agroecológicos do Estado do Amazonas (Aproartes), que agrega produtores e artesãos participantes da Feira para planejar e avaliar suas edições.

Há dois projetos do Nusec no Parque Científico Tecnológico para Inclusão Social (PCTIS) da Pró-Reitoria de Inovação Tecnológica (Protec). O primeiro é o ‘Centro de Agroecologia e Desenvolvimento Rural’, da professora Terezinha Fraxe; e o segundo é ‘Unidade participativa de beneficiamento de cará: uma iniciativa de trabalho, renda e fortalecimento da agricultura familiar no município de Caapiranga’, coordenado pela professora Albejameire Castro.

O Centro tem viés educativo, voltando-se à formação de recursos humanos e à promoção de debates sobre agroecologia e agricultura familiar em comunidades rurais e escolas. O projeto sobre beneficiamento de cará, por outro lado, mostra a dimensão participativa da produção no meio amazônico. Os agricultores de Caapiranga não possuem renda suficiente para adquirir adubos minerais, razão porque usam a técnica tradicional que envolve o corte, a queima e o repouso do solo como alternativa acessível nas unidades produtivas familiares.

A produção artesanal de produtos com tecido de chita por mulheres de comunidades rurais e urbanas do Estado é outra iniciativa do Nusec. O trabalho visa à capacitação das comunitárias para a produção das peças com a finalidade de comercialização. O intuito do ‘Chitas Nativa’ é potencializar o artesanato no mercado local através da produção de peças como bolsas, cintos, objetos decorados, roupas de festas juninas e utensílios domésticos. Através de projetos como esse, o Nusec promove autonomia financeira e desenvolvimento regional.

 

Olhar diferenciado

Com o viés inclusivo e pioneiro, o curso de Letras – Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) tem o objetivo de atender a uma demanda crescente no Estado e vem cumprindo esse papel desde 2013, quando teve início a primeira turma. O professor Iranvith Cavalcante, que exerceu a função de chefe de departamento até dezembro de 2015, ressalta que, apesar de novo, Letras-Libras possui projetos colaborativos com instituições públicas e com a comunidade surda.

Intérpretes de Libras realizaram curso de aperfeiçoamentoIntérpretes de Libras realizaram curso de aperfeiçoamento“A disciplina de Libras tornou-se obrigatória nas Licenciaturas e eletiva nos cursos de Bacharelado, e esse foi um dos fatores determinantes para a criação do curso”, explica Iranvith. Atualmente com 14 docentes, sendo seis deles pessoas surdas e dois intérpretes, o curso oferta 30 vagas por ano através de dois processos seletivos. Os alunos da primeira turma estão concluindo o quarto período e já se deparam com os desafios da experimentação.

Um exemplo é o livro Onze histórias e um segredo: desvendando as lendas amazônicas. “A ideia surgiu de um trabalho acadêmico com a turma do segundo ano, na disciplina Literatura Surda”, diz a coordenadora da atividade, professora Taísa Sales. “Solicitei que cada aluno adaptasse uma lenda amazônica à literatura surda, e o resultado é um trabalho totalmente inclusivo, com personagens surdos, cultura e formação da identidade surda. As histórias da Iara, da Cobra Grande, do Boto, do Pirarucu e da Mandioca estão adaptadas”, aponta ela.

A obra possui Língua Portuguesa Escrita, Escrita dos Sinais (Sign Writing) e audiodescrição em Libras no formato de vídeo. Com teor que junta cultura amazônica e cultura surda, o projeto inédito ocorre em parceria com professores do curso de Letras- Libras (DLL); do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), por meio do Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais/NAPNE; do Centro Universitário do Norte (Uninorte); e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Os trabalhos em parceria com instituições públicas de recreação e de ensino do Amazonas também contribuem para fortalecer a presença na Ufam na sociedade. O Centro de Convivência da Família Magdalena Arce Daou é um dos locais onde ocorrem as ações de extensão do curso, enquanto o estágio e a pesquisa ocorrem em colaboração com a Escola Estadual Augusto Carneiro dos Santos, instituição especializada em educação de alunos surdos.

A gestora da escola, Haydeê Carneiro, explica: “os estagiários do curso de Letras-Libras realizam atividades em sala de aula e extraclasse”. 121 alunos surdos têm acompanhamento nas aulas de educação física, informática, teatro e artes, além da sala de Libras. “Os estagiários da Ufam fazem um trabalho muito bom aqui, e estamos muito satisfeitos”, comemora.

Em 2015, os projetos de extensão do curso aproximaram a academia da comunidade externa. O III Ciclo de Palestras do Curso, realizado em janeiro, teve 150 participantes, incluindo a Comunidade Surda local; o Seminário de Práticas de Interpretação Tátil e Comunicação Háptica para Pessoas com Surdocegueira, ocorrido em maio, alcançou 250 pessoas. Outra iniciativa, o Curso de Atualização Profissional para Intérpretes de Língua de Sinais Brasileira, formou 30 profissionais em agosto passado. Todos eles já estão inseridos no mercado de trabalho.

Ao comemorar seus 107 anos, a Universidade Federal do Amazonas compartilha com a sociedade amazonense os resultados da construção coletiva de sua trajetória. A certeza é de que esta instituição cumpre seu papel, que vai além de acolher e educar seus alunos, oferecendo oportunidades capazes de gerar efetiva transformação social.

ACS – Universidade Federal do Amazonas