UFMA compartilha experiências com comunidades quilombolas

VARGEM GRANDE – Uma viagem de campo abre diversas possibilidades de ensino-aprendizagem que extrapolam as expectativas de uma programação sistematicamente organizada. Essa prática foi experimentada por cerca de 40 estudantes do curso de Pedagogia da UFMA que realizaram uma visita técnica, no dia 8, às comunidades quilombolas ‘Piqui da Rampa’ e ‘Rampa’, localizadas no município de Vargem Grande.

A excursão reservou valiosas lições a todos os envolvidos — do motorista aos professores que acompanharam a turma. Localizadas distantes da sede do município, o acesso às comunidades quilombolas não foi fácil, e, apesar de guiados por motoristas experientes, o micro-ônibus acabou atolando na estrada, o que despertou o engajamento de todos na resolução do infortúnio, de maneira coletiva e altruísta por quem passava pelo caminho de terra e solidarizou-se com a cena.

Aos estudantes surpreendidos pelo ocorrido, a professora Valdenice Prazeres lembrou que “os profissionais de pedagogia devem estar preparados para os imprevistos, pois é ensinado em sala de aula que o plano de aula não deve ser engessado, no entanto, dinâmico e flexível para atender de maneira efetiva a diferentes realidades sociais”, disse.

Vencida a adversidade, a comitiva continuou a viagem na descoberta das histórias de luta e resistência do povo negro. Na comunidade de Piqui da Rampa, os estudantes ouviram histórias e depoimentos sobre a criação e composição do território de Rampa e das diversas comunidades quilombolas que o compõe.

Exemplo de persistência e dedicação, a jovem Valdenice, filha do líder de Piqui da Rampa, emocionou a todos por ser a primeira da sua comunidade a ser graduada em Biologia pela UFMA e ser aprovada, recentemente, na pós-graduação em Ciência da Saúde, também pela Universidade.

“Foi muita luta e sofrimento para estarmos aqui. Eu não imaginava estudar numa universidade pública, muitos menos ser aluna de uma pós-graduação. Ensino superior era utopia dentro da comunidade de Piqui da Rampa. Hoje, eu me dedico em encorajar nossos jovens e afirmar que é possível crescermos na vida”, contou a estudante quilombola.

Guiados pela presidente da Associação da União de Quilombos de Vargem Grande, Rosilene Rocha, os estudantes tiveram o privilégio de conhecer e visitar na comunidade de Rampa, o olho d’água que deu origem a uma piscina natural de água cristalina guardada no coração da mata, protegido por entidades espirituais, como conta a crença local.

Para o estudante de Pedagogia Hudson Rocha, a visita técnica o levou a perceber outros espaços de gestão em um processo educativo e formativo.

“O incrível de uma visita técnica é que acabamos saindo do nosso contexto repetitivo de formação pedagógica e nos deparamos com a vivência de uma comunidade quilombola ou indígena, revelando outra forma de gestão e articulação na garantia dos direitos, buscando conhecer como eles organizam a escola e o ambiente escolar que cada comunidade tem e deve ser evidenciado no processo educativo”, frisou.

Ao término da viagem, ficou nítida, na fala de cada um, uma verdade irrefutável: a superioridade de cultura não deve existir na busca de um mundo mais democrático.