UFMG – Cotistas com deficiência prometem trabalhar pela acessibilidade

Mais de 700 calouros constavam da escala de atendimento no primeiro dia de registro presencial
Teve início na manhã desta-feira, 23, o atendimento presencial de registro acadêmico dos calouros que ingressam na UFMG no primeiro período letivo de 2018. Os candidatos foram selecionados por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e já haviam feito o registro on-line. Conforme escala divulgada pelo Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA) da UFMG, estavam previstos 762 atendimentos no primeiro dia.

Pela primeira vez desde que foi adotada a política de cotas, os candidatos autodeclarados negros (pretos ou pardos) devem apresentar, em formulário próprio, carta consubstanciada com os motivos que justificam sua autodeclaração e seu pertencimento étnico.

A caloura Rafaela Souza, do curso de Filosofia, é uma dessas cotistas. Segundo ela, ser filha de pai negro e ter sido criada em meio a familiares negros foram argumentos usados em sua carta. “Diferentemente do que alguns pensam, o racismo persiste em pleno século 21. Ao longo da minha infância, sofri bullying por causa da minha cor e do meu cabelo”, relatou.

Por sua vez, a caloura de Letras Alice Teles alegou que, embora seja descendente de negros e apresente traços físicos típicos, não fez jus à cota universitária porque é ex-aluna de escola particular. Para ela, as cotas raciais representam um meio de “quitar uma dívida histórica” com a população negra. “As oportunidades sempre foram muito desiguais”, opinou.

Neste ano, a UFMG recebe pela primeira vez cotistas com deficiência física em cumprimento à Lei 13.409/2016. É o caso dos calouros do curso de Direito Andressa Macedo e Bruno Queiroz, que efetuaram o registro na manhã de hoje.

Oriunda do município de Itaú de Minas, Andressa alega que pretende, em sua futura atuação profissional, impulsionar a defesa dos direitos dos deficientes físicos. “Especialmente nas cidades do interior, é muito rara a acessibilidade em ruas e outros equipamentos. Tenho o sonho de ajudar a modificar essa realidade”, informou.

Bruno, que é cadeirante, destacou os contratempos com o transporte público que marcaram sua trajetória e afirmou que pretende, daqui a alguns anos, trabalhar em favor da promoção da acessibilidade. “Para chegar até aqui, vindo de Lagoa Dourada (cidade a 150 quilômetros de Belo Horizonte), tive várias dificuldades e precisei de ajuda de outras pessoas”, lamentou o estudante, acrescentando que também já enfrentou obstáculos para frequentar ambientes como cartórios, delegacias e banheiros públicos.

No ato do registro presencial, os estudantes são submetidos a perícia médica e devem apresentar autodeclaração e laudo médico com informações sobre tipo e grau de deficiência, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doenças (CID).

Controle

Segundo o pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis, Rodrigo Ednilson, embora não exista, por enquanto, uma comissão para a verificação das cartas consubstanciadas dos cotistas raciais, os estudantes autodeclarados negros estão sujeitos a responder por uma eventuais denúncias de fraude.

Quanto aos calouros que ingressam nas cotas para estudantes com deficiência, o laudo pericial, elaborado pela UFMG, informa se o indivíduo se enquadra nos critérios de elegibilidade. Caso a condição de deficiência não seja confirmada, o candidato terá seu registro acadêmico cancelado e perderá o direito à vaga.

O registro acadêmico presencial prossegue na segunda-feira (26), quando devem ser atendidos 1.099 calouros, e na terça-feira (27), com previsão de 1.248 atendimentos.

Manifestação

Cerca de 20 estudantes fizeram, no início da tarde desta sexta-feira, um ato contra as fraudes na autodeclaração de cotistas étnico-raciais. O protesto foi organizado pela União de Negros e Negras pela Igualdade de Minas Gerais. “Aproveitamos a matrícula para fazer esse alerta: as cotas de negros são para negros, que são discriminados pela sociedade. Isso precisa ser respeitado. Se a pessoa pensa em se concorrer pelas cotas, mas não se identifica como negro, ela deve se inscrever em outra modalidade”, defendeu Alexandre Braga, presidente da entidade. A TV UFMG acompanhou o protesto.

Alegria na fila

Durante as tardes dos três dias de registro acadêmico presencial, o programa Expresso 104,5, da Rádio UFMG Educativa, será transmitido diretamente da “fila da alegria” – apelido dado pela emissora para a fila que os calouros formam à espera da efetivação da matrícula.

O programa prevê interação com os novos estudantes e seus familiares, com atrações como quiz sobre a UFMG, sugestão de músicas para a programação da rádio durante o mês de março e dicas de leitura.
Na atividade, também serão fornecidas informações sobre a instituição e apresentados os mecanismos de assistência estudantil. Os entrevistados nas três tardes de programação serão, respectivamente, a diretora do DRCA, Daniele Zárate, e os professores Rodrigo Ednilson e Adriana Valladão.