UFOB – Trote universitário nos faz voltar à Idade Média

O trote universitário tem origem medieval e é identificado como uma espécie de “rito de passagem” realizado por meio de violências física e psíquica. Surgiu juntamente com as universidades tradicionais, por volta do século XV, em grande parte dos países europeus. Registros encontrados no livro “Manuale Scholarium” (1480) descrevem a relação entre os estudantes já matriculados e os novatos, relatando situações de graves agressões, como ser forçado a beber urina, a confessar seus atos sexuais, ser tratado como animal, chamado de “bicho do mato”e “criatura horrenda”. Quem não se submetesse aos abusos, sofria intensa violência física.

No século XIX, começam os relatos desse tipo de ação no Brasil. Calouros chamados de bichos pelos veteranos, sendo recebidos por meio de um ritual de extrema violência e gozação; músicas de humilhação aos ingressantes; descaracterização do corpo do calouro; obrigação de ser submisso e silenciado; embriaguez forçada; dentre outras violações. Esta tradição sobrevive até a atualidade e é justificada como um processo de integração entre calouros e veteranos no ensino superior.

Apesar de ter se modificado ao longo do tempo, o trote ainda é uma prática que age sobre o corpo e atinge o estado psicológico de quem é submetido a ele. Na UFOB, ainda não é proibido pelo Regimento Interno, como já ocorre em algumas universidades, mas é desaconselhado pela instituição. Por isso, a Pró-Reitoria de Graduação e Ações Afirmativas (Prograf), em parceria com a Assessoria de Comunicação, desenvolveu uma campanha de sensibilização sobre a prática de violência na chegada dos novos estudantes. O objetivo é coibir práticas humilhantes ou agressivas contra calouros, oferecendo um canal de denúncia para quem presenciar ou for vítima dessas ações.

As peças publicitárias (disponíveis aqui) alertam que atitudes de opressão, humilhação e submissão não são formas de recepcionar e incluir os calouros à vida acadêmica, e podem acarretar sentimentos de medo, vergonha, exclusão e isolamento. A campanha pretende mostrar que o trote violento causa traumas psicológicos permanentes aos estudantes que, após passar pela pressão do ENEM e horas de estudos (o que por si só pode ser considerado um “ritual de passagem” para a vida adulta), ainda têm que enfrentar coação, agressão física, moral ou outras formas de constrangimento que podem acarretar risco à saúde ou à sua integridade física.  

As denúncias devem ser encaminhadas para o e-mail ouvidoria@ufob.edu.br ou feitas no E-ouv, pelo site https://sistema.ouvidorias.gov.br/ e não é preciso revelar a sua identidade.