UFOPA – Metade dos pesquisadores brasileiros são mulheres

Na Ufopa elas ocupam quase 50% das cadeiras de docentes

De acordo com informações divulgadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com base no último censo do IBGE, o número de mulheres atuando na área da pesquisa científica vem crescendo nos últimos dez anos e já quase se iguala ao de homens. Em 1995, 60% dos pesquisadores eram do sexo masculino. Em 2010, dos 128 mil e seiscentos pesquisadores cadastrados na base de dados do CNPq, a metade é formada por mulheres.

Na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), por exemplo, atuam 387 professores, desses 148 são mulheres, ou seja, elas ocupam 45% das cadeiras docentes na instituição. Uma delas pertence à pesquisadora Kariane Mendes, do Instituto de Saúde Coletiva (Isco). Aos 34 anos, é pós-doutora em Desenvolvimento Tecnológico de Medicamentos e Cosméticos feitos a partir da manteiga de frutos amazônicos. Está aguardando a patente de um gel vaginal que desenvolveu a partir da manteiga de Astrocaryum murumuru, o murumuru. Será a primeira patente solicitada pela Ufopa. Desenvolver produtos para o público feminino não foi um acaso na vida da pesquisadora, assumidamente feminista.

“Tratar das questões da mulher, pra mim, faz muito sentido pelo exemplo que tive da minha mãe, professora, ela teve de criar três filhos sozinha. E também, em função das lacunas que existem na questão da saúde da mulher”. Ela explica o que a levou a desenvolver um gel vaginal à base de murumuru. “Trabalhar com medicamentos voltados para DST’s é uma satisfação muito grande, uma vez que os tratamentos que existem ainda são ineficazes por conta da inconveniência do uso pela mulher por no mínimo sete dias, esses produtos escorrem, causando desconforto. Para mim, poder melhorar essa terapia no sentido de agregar valor às matérias-primas da Amazônia, reduzindo o tempo de tratamento e tornando-o mais eficaz, é de imenso valor científico e pessoal”.

O papel da mulher vem mudando ao longo das décadas nos mais diversos setores. É o que comprovam as pesquisas que a antropóloga Luciana Carvalho, do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), vem desenvolvendo na região da Calha Norte, em municípios como Almeirim, Alenquer, Oriximiná Monte Alegre, entre outros. Ela ressalta duas importantes variáveis. “Do ponto vista político, as mulheres têm tomado à frente de muitas organizações de moradores e até do grupo profissional do qual fazem parte, como por exemplo, mulheres que estão à frente de associações de castanheiras, intercomunitárias, mulheres quilombolas organizadas em grupos formais e informais. Isso demonstra uma participação política das mulheres, cada vez maior”.

Por outro lado, a pesquisadora ressalta que existe um movimento de retorno dessas mulheres às atividades domésticas. “Na prática das atividades extrativista propriamente ditas, percebemos uma queda da presença da mulher em função dos cuidados da casa e dos filhos, sobretudo dos filhos que estão em idade escolar. Percebemos uma mudança no padrão de trabalho e vida em relação ao que tínhamos há 20 ou 30 anos”. Ou seja, as mulheres estão deixando as atividades extrativistas para acompanhar os filhos que estão cada vez mais frequentando a escola.

Lenne Santos – Universidade Federal do Oeste do Pará

Foto: Lenne Santos – UFOPA