O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco realizou no fim do mês de abril uma cirurgia inédita no mundo: o tratamento de Leandro Araújo, um paciente com 31 anos de idade que, desde que nasceu, nunca havia aberto a boca por conta de uma anquilose óssea mandibular (rigidez na articulação temporomandibular que impede a realização de movimentos). A doença origina problemas na mastigação, fonação, deglutição e principalmente na higiene bucal.

A novidade do procedimento realizado no HC é justamente o caso do paciente em si, já que a cirurgia de anquilose óssea não é um procedimento novo na unidade hospitalar. O chefe do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do HC e professor da UFPE, Ricardo Eugenio Varela Ayres de Melo, foi o responsável pela cirurgia. Satisfeito com o resultado, ele explicou que não é comum encontrar pacientes com anquilose óssea unilateral e ainda mais com uma nos dois lados da articulação da mandíbula (como foi o caso de Leandro).

“Geralmente, a anquilose aparece, quando na fase adulta, depois de um acidente, um trauma. Já noutros casos, quando existe desde o nascimento, é feita a cirurgia logo na infância. O que tem de novo neste caso de Leandro é que ele nasceu com o problema e até hoje nunca tinha sido tratado”, disse o cirurgião do HC/UFPE.

Leandro, aos 9 e 13 anos, passou por duas cirurgias em outro hospital do Recife, no entanto, elas foram sem sucesso. Ao iniciar os procedimentos, os profissionais desistiram ao perceber que não teriam condições de modificar a situação encontrada, e, com isso, Leandro permaneceu com a doença intacta, sem nenhuma melhoria.

No São João do ano passado, Leandro caiu e quebrou um dente. Foi a um dentista que o encaminhou para o cirurgião buco-maxilo Ricardo Eugenio Varela Ayres de Melo. A partir daí, o caso começou a ser estudado pelo professor, foram feitos vários exames até a cirurgia. O procedimento, realizado no HC, teve duração de onze horas, e contou com a participação das estudantes do curso de Odontologia da UFPE Janaína Freitas, Marianna Marques, Marcela Fernandes e Sheyliane Barbosa, e mais quatro anestesistas, chefiados pelo anestesiologista Jaime Marques Neto.  O objetivo do grupo é publicar um artigo cientifico nas revistas internacionais sobre o tema.

Doze dias após a cirurgia, Leandro teve alta. Iniciou a fisioterapia com a especialista Milena Melo e está se recuperando além do esperado. Já abre a boca, fala e está comendo alimentos sólidos. “Ninguém está acreditando que eu consegui abrir a boca. Nunca tinha mostrado a minha língua nem comido carnes em toda a minha vida. Depois da cirurgia, fui até a um churrasco. Pode-se dizer que renasci”, falou Leandro. Ele pretende, a partir de agora, voltar a estudar e trabalhar. “Deixei a escola na terceira série. Tinha vergonha, e as crianças ficavam tirando brincadeira comigo”, relembra.

Leandro fala sobre a sua história de vida com naturalidade e espera que o caso dele sirva de estímulo para que outras pessoas que têm o mesmo problema acreditem que é possível mudar.

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Leandro Araújo

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Ascom UFPE