UFPR – Conhecimento traduzido: promove internacionalização de pesquisas brasileiras sobre Covid-19

 

O Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (Capa) traduz artigos científicos relacionados à pandemia

A disseminação do conhecimento científico tem uma limitação: o idioma. Durante a pandemia do novo coronavírus, pesquisadores do mundo inteiro e de diferentes áreas juntaram esforços para enfrentar o problema. Porém, para que as pesquisas tenham alcance internacional precisam estar em inglês. Para promover a internacionalização da ciência produzida no Brasil, o Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica (Capa) da Universidade Federal do Paraná está traduzindo artigos sobre a Covid-19 de todo o país desde o início da pandemia.

“A gente investe nesse aspecto da internacionalização, de divulgar os diálogos que acontecem aqui na nossa ciência. Isso faz com que sejam criadas redes de cooperação entre pesquisadores do mundo inteiro, o que atrai pesquisadores para a nossa Universidade”, comenta Natalia Junghans, estudante de Letras e tradutora do Capa.

Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica está traduzindo artigos sobre a Covid-19 do país desde o início da pandemia. Ilustração: Gustavo Conti/Agência Escola UFPR

 

Normalmente os editais do Capa são voltados para o público interno da UFPR, mas como esse é um momento atípico, a chamada que ficou aberta entre abril e novembro foi para todo território nacional para disseminar as pesquisas que podem contribuir internacionalmente com a pandemia. O centro de escrita está aceitando artigos sobre a Covid-19 agora em seu fluxo habitual de trabalho, dentro dos editais comuns.

“O objetivo é divulgar o conhecimento de forma emergencial para compartilhar com o mundo resultados relevantes do Brasil. Os pesquisadores estão pensando em como suas áreas da ciência têm espaço para estudar o tema”, explica Ron Martinez, diretor do Capa e professor do Programa de Pós-graduação em Letras da UFPR .

Pesquisa analisa escrita

acadêmica em inglês

Ron Martinez também é colaborador da Agência UFPR Internacional e professor da disciplina transversal de Escrita Acadêmica em Inglês da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) e sua preocupação com a internacionalização vai além da tradução. O pesquisador analisou o gênero de escrita do artigo científico em diversas áreas e fez um levantamento sobre os motivos que levam à rejeição dos artigos nas revistas científicas.

“Os problemas mais comuns estão na introdução, falta de clareza e transparência no método, falhas na análise estatística e não saber discutir seus resultados de forma coesa. Ensino na minha disciplina formas de destacar melhor os objetivos e a contribuição da pesquisa. Isso perpassa todas as áreas do conhecimento”.

O processo de tradução do

conhecimento científico

Antes de pensar em traduzir o artigo, é preciso avaliar a qualidade da escrita no idioma original. Essa é uma das preocupações do Capa, o primeiro centro de escrita do Brasil. Natalia Bittencourt Junghans é estudante de Letras-Inglês na modalidade de licenciatura e bolsista no Capa. Ela explica que o trabalho de tradução do centro de escrita vai além de transpor as palavras para outro idioma e que é preciso uma conversa constante com os pesquisadores para trabalhar o texto.

Para Natalia Bittencourt Junghans, bolsista no Capa, o trabalho de tradução do centro de escrita vai além de transpor as palavras para outro idioma. Foto: Divulgação

“Os autores ficam mergulhados nos próprios textos e às vezes não percebem que uma informação que é básica para eles não está presente no texto. Nós conseguimos dar essa visão externa do que precisa estar no texto. As coisas que a gente pensa para conversar com os autores ali antes de fazer a tradução são válidas igualmente para o texto em português”, explica a tradutora.

 

Após esse primeiro momento de conversa com os autores para ajustar o texto em português é que se vai para a tradução de fato. Nesse aspecto, o trabalho do centro de escrita da UFPR não se resume à transposição do artigo para o inglês, existe uma preocupação com as convenções linguísticas de cada idioma. Além disso, o Capa oferece assessoria para auxiliar no processo.

Fluxo de tradução e reuniões da equipe do Capa online durante a pandemia de Covid-19. Foto: Divulgação

“É uma questão estratégica as pessoas terem consciência de que precisam usar recursos diferentes a depender do público que querem atingir. Nós queremos que os autores tenham consciência dessas diferenças quando escrevem em inglês ou quando quiserem publicar em uma revista internacional”, explica Thais Deschamps, tradutora voluntária no Capa e doutoranda em Letras na UFPR.

Disciplina de pós-graduação

promove internacionalização

O professor Ron Martinez também está à frente de outra iniciativa para promover a internacionalização da Universidade: a disciplina transversal de Escrita Acadêmica em Inglês. A disciplina da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) da UFPR ocorre anualmente e teve a primeira turma aberta em 2017. Neste ano, as aulas foram de forma remota com cerca de 900 estudantes e professores de mestrado e doutorado da UFPR e de sete universidades estaduais do Paraná.

Para incentivar a escrita em inglês, o professor propõe como atividade a produção de pelo menos a introdução de um artigo e que os alunos façam análises linguísticas de textos de suas áreas. “O processo que eu ensino não são somente fórmulas e receitas, mas também pegar artigos das suas áreas específicas e fazer análise linguística. Os pesquisadores começam a criar um olhar diferente sobre a escrita acadêmica que tem uma certa sequência e maneira de construir que é esperada”, relata Ron.

Bianca Dezordi é uma dessas alunas que fizeram a disciplina em 2020 e visam a internacionalização de suas pesquisas. Mestranda em Educação Física na Universidade Estadual de Maringá, Bianca estuda as habilidades para a vida, como controle emocional e autoestima, que são aprendidas por atletas no contexto esportivo e podem ser utilizadas para enfrentar o contexto da pandemia.

Para ela, cursar a disciplina foi importante para compreender as convenções da escrita acadêmica e que o inglês é essencial para o alcance das pesquisas. “Aprendemos questões gerais que conseguimos aplicar em qualquer área estudada. Além disso, pensando na divulgação, em como outras pessoas podem ter acesso ao trabalho”.