UFRA – Famílias ribeirinhas são beneficiadas com tecnologias sociais

Graças a um projeto da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), a partir de agosto deste ano, 15 novas famílias da Ilha das Onças, localizada em Barcarena (PA), terão condições de melhorar sua qualidade de vida. Através do projeto “Promovendo a Sociobiodiversidade: Restauração Ambiental com Geração de Renda em Comunidades Ribeirinhas na Amazônia Oriental”, estão sendo implantados 15 Banheiros Ecológicos Ribeirinhos (BER) e 15 cisternas de captação de água da chuva.

Ambas as tecnologias sociais foram desenvolvidas pela equipe do projeto, que existe há sete anos, mas até então possuía apenas um protótipo do banheiro, posteriormente replicada por outro morador, e 15 cisternas implantadas, todos na Comunidade de Furo Grande. A implantação dos novos banheiros e cisternas representa uma nova etapa do projeto, que agora também está sendo expandido para as comunidades de Furo Conceição e Furo Samaúma.

A implantação está sendo feita com recursos da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Pará (SECTET). “A ideia é transformar essas 15 famílias, com quem a gente já vem trabalhando desde 2011, em modelo para que isso vire uma política pública. Esse é o nosso objetivo atual porque é a solução de água e saneamento para o meio rural para toda a Amazônia. É um sistema barato e que funciona”, afirma a coordenadora do projeto, Professora Vania Neu.

A instalação está sendo executada ao longo do mês de julho pela equipe do Laboratório de Hidrobiogeoquímica da Ufra, com participação de estudantes dos cursos de Engenharia Ambiental e Energias Renováveis e Engenharia de Pesca, e com ajuda dos próprios moradores das comunidades. O projeto também conta com a colaboração dos professores da Ufra Leandro Meyer e Gilmara Teles, além de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Embrapa. A previsão é que as tecnologias sejam entregues em agosto.

Um dos bolsistas que participam da implantação é Ian Rodrigues Brito, aluno do 5º semestre de Engenharia Ambiental. “Eu tinha uma experiência muito acadêmica, trabalhando com aumento da eficiência de cisternas, fazendo simulações de reservatório. Mas poder estar lá, montar banheiro, montar cisterna e conversar com as famílias traz uma visão totalmente nova. Quando estamos no computador, mexendo com dados, não conseguimos perceber a dimensão do projeto e a importância dele. Na primeira casa onde instalamos não havia cisterna, por exemplo. Agora, a água da chuva vai para o reservatório e chega na torneira da casa. Isso para a gente parece algo banal, mas não é uma realidade para todo mundo. É muito gratificante ver a felicidade das pessoas”, conta.

Sobre o projeto – Distante apenas 30 minutos de Belém, a Ilha das Onças apresentava diversas dificuldades. Inicialmente, o projeto da Ufra tinha como objetivo trabalhar com a melipolinicultura, com a reintrodução de abelhas na ilha como alternativa de renda e aumento da produtividade dos açaizais. No entanto, a equipe se deparou com outros problemas na comunidade, principalmente relacionados a saneamento básico a falta de água potável. A partir daí, o projeto expandiu as frentes de trabalho, incluindo artesanato e educação, e desenvolveu o sistema de captação de água da chuva, uma tecnologia que utiliza calhas no telhado e dispensa a necessidade de bombas d’água e energia elétrica, e também o Banheiro Ecológico Ribeirinho, tecnologia desenvolvida para áreas sujeitas a alagamentos que utiliza serragem, cinzas ou folhagem para transformação dos dejetos em adubo orgânico.

Reconhecimento – Desde então, o projeto já foi vencedor de diversas premiações: Prêmio Santander Universidade Solidária, Prêmio da Agência Nacional das Águas (ANA), na categoria “Ensino, e Prêmio Samuel Benchimol. “Além disso, conseguimos certificar o banheiro como tecnologia social do Banco do Brasil, o que foi um grande avanço porque hoje ele pode ser replicado por qualquer um”, diz a coordenadora do projeto. Graças a essa certificação, uma organização não-governamental de São Paulo replicou 90 banheiros no estado do Amazonas. Pela editora da Universidade (EDUFRA), também foi lançado em 2016 o livro “Sustentabilidade e Sociobiodiversidade na Amazônia: integrando ensino, pesquisa e extensão na Região Insular de Belém”.

Nesta nova etapa, além de dobrar o número de cisternas e melhorar o seu funcionamento em relação ao sistema inicial, é a primeira vez que diversas famílias da Ilha das Onças recebem o banheiro. “Cada família está fazendo o banheiro ao seu jeito, e esse é o legal das tecnologias sociais. Cada um adapta à sua realidade, e vamos sempre melhorando de acordo com a realidade local”, conta a professora Vania Neu.

Ela informa que já há perspectivas para ampliar ainda mais a atuação do projeto. “Temos duas parcerias internacionais com o Reino Unido. A gente quer expandir o sistema e as pesquisas porque nossa ideia é cada vez aperfeiçoar mais o trabalho. Também submetemos esse projeto ao edital da Petrobrás para implantação de mais 15 de cada tecnologia”, diz.