UFRGS integra pesquisa que investigará fatores de risco para contaminação da covid-19 em Porto Alegre

Objetivo da pesquisa “Avaliação da Covid-19 na Comunidade” é comparar hábitos comportamentais para ampliar a compreensão e criar evidências sobre fatores de risco de contaminação na cidade

A Prefeitura de Porto Alegre divulgou em transmissão online, na manhã desta terça-feira, 14, dados preliminares da primeira etapa da pesquisa Avaliação da Covid-19 na Comunidade de Porto Alegre (ACC-POA), realizada em parceria entre a UFRGS, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e governos municipal e estadual. O objetivo é comparar hábitos comportamentais, como a adesão ao isolamento social, entre pessoas infectadas e não contaminadas para ampliar a compreensão e criar evidências sobre fatores de risco de contaminação da doença em Porto Alegre.

Na primeira fase, que deve ser concluída no início de agosto, serão consultados 450 porto-alegrenses que testaram positivo para a doença –  formando o chamado grupo de casos –, e indivíduos não infectados pelo novo coronavírus, selecionados entre os participantes do estudo Epicovid-RS da UFPel – que compõem o chamado grupo-controle. Hoje, Porto Alegre tem 4,8 mil casos confirmados da doença e um total de 174 óbitos ocasionados pela covid-19.

Segundo o prefeito Nelson Marchezan Júnior, a pesquisa pode trazer mais respostas e gerar conhecimento em um momento em que o mundo todo busca evidências para correlacionar dados e criar alternativas de combate à pandemia. “A pesquisa vai nos ajudar a pensar como enfrentar o crescimento de contaminação e o consequente avanço na ocupação de leitos de UTI em uma sociedade que já está um pouco saturada do isolamento”, disse ele.

Os dados preliminares apontam que, no grupo-controle, o percentual autodeclarado de adesão ao distanciamento social é maior entre pessoas com mais de 60 anos, chegando a 90% na faixa etária dos 70-79. Somente 60% dos jovens entre 18 e 29 anos, porém, afirmam estar seguindo as recomendações para restringir a circulação de pessoas na Capital.

De acordo com o secretário municipal adjunto de Saúde, Natan Katz, os resultados também vão oferecer apoio à tomada de decisões no combate à pandemia. “Chama a atenção o fato de haver muitos casos entre os jovens e os níveis de isolamento maiores entre a população idosa. Essa realidade fragiliza o discurso do isolamento vertical, já que pessoas com maior risco já ficam em casa, mas os vetores de transmissão continuam sendo as pessoas mais jovens”, explica.

Segundo o coordenador da pesquisa e professor da UFRGS, Marcelo Gonçalves, os resultados da ACC-POA “serão relevantes para políticas públicas tanto de Porto Alegre quanto do Estado e do país, agregando também ao que está sendo feito mundialmente”, avalia. Até o momento, o grupo de pesquisadores de várias instituições já entrevistou cerca de 200 pessoas infectadas e trabalha com informações de 951 não contaminadas. Também participam do estudo uma equipe de estudantes voluntários.

A identificação da mudança comportamental dos indivíduos para atender às recomendações de distanciamento social, uso de máscara e lavagem de mãos é realizada em metodologia pioneira, de acordo com Gonçalves. “É o primeiro [estudo] no país a avaliar de forma mais individualizada como se deu a contaminação, para entender os desfechos e saber se há associação entre a contaminação pelo vírus e a adesão ou não às medidas de distanciamento social”, define o professor.

O coordenador de campo da pesquisa ACC-POA, Rodrigo Tólio, explicou que os 450 participantes foram selecionados por sorteio e já começaram a ser contatados por telefone. As entrevistas são realizadas das 8h às 21h de segunda a sexta-feira, e das 9h às 16h nos sábados. Tólio enfatizou que todas as pessoas com casos confirmados em Porto Alegre podem tirar dúvidas sobre o levantamento pelo (51) 3308-5950 (WhatsApp ou ligação). “Reforço o apelo para que as pessoas com diagnóstico positivo para coronavírus atendam o telefone para contribuir com a pesquisa. Nosso objetivo é finalizar a primeira fase sobre distanciamento em cerca de três semanas”, alerta.

Para o professor titular da Faculdade de Medicina da UFRGS, pesquisador e colaborador do projeto Bruce Duncan, o estudo pode apontar caminhos sobre como a sociedade pode colaborar para mitigar os efeitos da pandemia. “Não podemos minimizar com remédios porque são poucos e só servem para casos graves. Então precisamos buscar iniciativas na comunidade, na vizinhança, entre amigos e familiares, para estimular as pessoas a se darem conta de que este é um momento crítico, e a adesão ao isolamento é muito importante. O objetivo do estudo é mostrar para o nosso quintal a importância disso”, conclui.

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Texto: Vanessa Sampaio/PMPA