UFRJ aprova cotas sociais para o vestibular

Decisão quanto ao número de vagas reservadas e ao valor da renda per capita só sairá na próxima semana

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aprovou ontem a adoção de cotas sociais para alunos oriundos de escolas públicas já para o vestibular deste ano, em decisão do Conselho Universitário (Consuni), a mais alta instância de decisão da instituição.

O número de vagas destinadas às ações afirmativas e a renda máxima necessária para concorrer pelo sistema só serão decididos em uma sessão extraordinária do Consuni, na próxima quinta-feira (dia 19).

Também foi aprovada a adesão parcial da universidade ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC), que utiliza o Enem como fase única para ocupar vagas de cerca de 40 instituições públicas do país, com a reser va de 50% dos lugares. A outra metade será oferecida pelo vestibular tradicional, sendo as duas fases discursivas.

Em entrevista exclusiva à Megazine, em maio, o reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, defendeu a entrada da instituição no sistema e criticou duramente o modelo do vestibular, chamado por ele de “sistema perverso criado para excluir a juventude do acesso à educação superior”.

A proposta original apresentada pela reitoria prevê que 20% das vagas destinadas ao Sisu sejam reservadas para estudantes egressos de escolas públicas e que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. Assim, 10% do total de vagas oferecidas no vestibular da instituição ficariam reservadas para o sistema de ações afirmativas.

Um dos motivos para que a definição dos detalhes ficasse para a semana que vem foi a falta de consenso em torno da reserva de vagas. Os representantes dos estudantes e técnicos administrativos consideraram tímida a proposta da reitoria. Já o decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), Marcelo Corrêa e Castro, defendeu a reserva de 20% do total de vagas para o sistema de ações afirmativas.

O estudo apresentado pela presidente da Comissão de Acesso do Conselho de Ensino e Graduação (CEG), Ana Maria Ribeiro, antes do início da sessão, mostrou que 6,29% dos alunos oriundos da rede pública estadual conseguiram entrar na universidade no último vestibular, contra 12,32% de quem estudou em escola particular e 17,31% da rede pública federal.

Professor defende exclusão de alunos de escolas federais O ótimo índice de aprovação das escolas federais fez com que o professor do Instituto de Economia, Marcelo Paixão, propusesse que as cotas fossem restritas a alunos da rede estadual. De acordo com Paixão, 20% dos estudantes da UFRJ já atendem ao perfil proposto pela reitoria. Assim, qualquer cota que abrangesse menos de 20% do total oferecido no vestibular não surtiria qualquer efeito.

As discussões sobre a adoção de ações afirmativas na UFRJ tiveram início em maio, quando foi colocada em votação uma proposta de Paixão que previa a abertura do debate dentro da universidade. O professor defendia cotas raciais como melhor forma de democratizar o acesso ao ensino superior. O reitor Aloísio Teixeira, entretanto, nunca demonstrou simpatia pelo critério, pois acredita que a substituição do vestibular tradicional pelo Enem é mais eficaz e atingiria mais estudantes.