UFSB completa cinco anos de criação

A comunidade acadêmica da Universidade Federal do Sul da Bahia celebra hoje cinco anos de criação, pela Lei 12.818, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 5 de junho de 2013. Conforme o Plano Orientador da UFSB, elaborado pelo Conselho Universitário Matriz e por contribuições de consultoras e consultores, “em 8 de maio de 2013, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 12/2013, incorporando o PL 2207/2011, que propunha o estabelecimento de uma nova instituição federal de ensino superior da Região Sul do Estado da Bahia.”

A Lei 12.818 formalizou o desejo antigo de diversos atores dos Territórios Extremo Sul, Litoral Sul e Costa do Descobrimento de ter uma instituição federal de ensino superior público e gratuito instalada nas regiões Sul e Extremo Sul da Bahia, o que foi favorecido pelo projeto de interiorização das Universidades e Institutos de formação básica e superior, técnica e tecnológica, dos governos federais, entre os anos 2003 e 2016.

Conforme a atual reitora da UFSB, professora Joana Angélica Guimarães da Luz, em setembro de 2011, a professora Dora Leal Rosa, reitora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), instituição tutora da UFSB durante seu processo de implantação, nomeou uma comissão, composta pelos professores Luiz Rogério Bastos Leal (Vice-Reitor da UFBA), Joana Angélica Guimarães da Luz (ex-diretora do Campus da UFBA em Barreiras), Dirceu Martins (pró-reitor de Assistência Estudantil da UFBA), Eduardo Mota (diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA) e Marcelo Embiruçu (Pró-Reitor de Pesquisa da UFBA).

Nos meses de outubro a dezembro de 2011, a comissão realizou quatro audiências públicas para dialogar com as comunidades locais sobre as expectativas em cada um dos três municípios onde seriam instalados os campi da nova Universidade. A primeira foi realizada em Teixeira de Freitas, onde havia forte demanda para a implantação de cursos da área de Saúde. A segunda audiência ocorreu em Porto Seguro, onde ficou evidente a carência nas áreas ambiental e de Ciências Sociais Aplicadas. O terceiro encontro foi realizado em Itabuna, onde havia a necessidade de cursos nas áreas de Ciência e Tecnologia, Ciência para a qual o professor Naomar Monteiro de Almeida Filho, que seria reitor pro tempore da UFSB até outubro de 2017, foi convidado a participar como membro da comissão. No ano de 2012 e em parte de 2013, houve diversas audiências públicas em quase todos os municípios das regiões Sul e Extremo Sul, destinadas à socialização da minuta do Plano Orientador e ao debate sobre a implantação dos Colégios Universitários (Rede CUNI).

A reitora conta que o primeiro semestre de 2014 foi dedicado à realização de concursos e organização dos espaços físicos para o início das aulas das primeiras turmas. A primeira entrada de estudantes para formar o corpo discente das sedes ocorreu pelo SISU e a seleção para a rede CUNI se deu por meio de edital próprio, tendo sido selecionados 1.080 alunos, distribuídos nos três campi e em oito CUNI. Em 8 de setembro de 2014 iniciaram-se as atividades letivas da UFSB.

Em setembro de 2017 teve início o processo eleitoral para consulta sobre a nova gestão. A professora Joana Angélica Guimarães da Luz e o professor Francisco Mesquita formaram a chapa eleita para conduzir a UFSB entre 2018 e 2021. “O próximo passo para sedimentar ainda mais os processos democráticos no interior da Universidade será a realização de pré-congressos em cada campus (previstos para o mês de julho de 2018) e do Congresso da UFSB (previsto para outubro deste ano), espaço de interlocução entre os membros da comunidade universitária para dialogar sobre as principais demandas, que estão sendo apresentadas por representantes de todos os segmentos desde fevereiro, em reuniões com a Reitoria”, explicou a professora Joana Guimarães.

Quanto à estrutura da Universidade, o Plano Orientador, aprovado pelo Conselho Universitário em fevereiro de 2014, estabelece um modelo de ciclos, com o primeiro deles ofertado nos Institutos de Humanidades Artes e Ciências (IHACs), que abrigam quatro Bacharelados Interdisciplinares (BIs) e cinco Licenciaturas Interdisciplinares (LIs). O segundo ciclo tem lugar nos Centros de Formação (CFs), havendo dois em Itabuna (CF em Tecno-Ciências e Inovação e CF em Tecnologias Agroflorestais), três em Porto Seguro (CF em Ciências Humanas e Sociais, CF em Artes e CF em Ciências Ambientais) e um em Teixeira de Freitas (CF em Ciências da Saúde). Hoje, estão em atividade os cursos de segundo ciclo de Antropologia, Artes do Corpo em Cena, Ciências Biológicas, Direito, Engenharia Florestal, Engenharia de Sustentabilidade, Engenharia Agrícola e Ambiental, História, Medicina, Oceanologia, Psicologia e Som, Imagem e Movimento. No total, entre primeiro e segundo ciclos, são 3.541 estudantes regulares, conforme informação da Diretoria de Percursos Acadêmicos (DPA).

Gabriela Purificação Moura, estudante de Medicina no Campus Paulo Freire, conta um pouco de sua relação com a Universidade: “Iniciei minha vida acadêmica na UFSB em 2014. Ingressei pela Área Básica de Ingresso (ABI), migrei para o BI em Saúde e, hoje, curso Medicina em uma Universidade Pública e gratuita na minha cidade, o que me apresenta uma perspectiva de futuro antes impensável, qualidade de vida e possibilidade de contagiar outras pessoas com a oportunidade que tive. Como garota negra moradora de um bairro popular, vim de uma trajetória de ensino trilhada em instituições públicas (escola municipal, estadual, IFBaiano) e estava maravilhada com a possibilidade de cursar o nível superior numa universidade pública, federal e na minha cidade. Pela minha história, avalio que a presença da UFSB numa cidade no interior da Bahia como Teixeira de Freitas representa a possibilidade de acesso ao nível superior para muitos estudantes de Ensino Médio público. Hoje, conheço pessoas como eu que já se inscreveram no ENEM para tentar uma vaga na UFSB. Além disso, moradores da região têm a possibilidade de conhecer o que é uma universidade pelos projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos, e estudantes universitários como eu podem atuar em seus bairros, suas comunidades, alinhando conhecimento teórico ao prático, levando o universo acadêmico para a comunidade e vice-versa.”

O terceiro ciclo compreende as pós-graduações. Na modalidade stricto sensu, a instituição oferece vagas nos Programas de Pós-Graduação Acadêmicos em Ciências e Tecnologias Ambientais e em Estado e Sociedade. Há dois Programas de Pós-Graduação Profissionais, um em Ensino e Relações Étnico-Raciais, outro em Saúde da Família. Na modalidade lato sensu (especialização), a UFSB oferece o curso de Saúde Coletiva. Integram o corpo discente desses cursos 181 estudantes. André Almeida, professor da rede pública de ensino básico, militante, secretário de Imprensa da APLB (Sindicato dos/as Trabalhadores/as em Educação do Estado da Bahia) e aluno do PPGER, entende que “as trabalhadoras e trabalhadores que entram no campo acadêmico devem ter por princípio se apropriar do conhecimento teórico-metodológico para responder as demandas locais, pois não se muda o que se desconhece. Por isso, a Universidade não pode fazer ciência para atender a classe dominante, mas deve priorizar os projetos populares para que mulheres, crianças, grupos LGBTs, camponesas e camponeses, movimentos sociais, sindicais e outros segmentos sejam não apenas ouvidos, mas estejam presentes na Universidade e a instituição também esteja presente em espaços populares. Essa é a diferença da UFSB. Nesses cinco anos de vida, os impactos da Universidade são visíveis, pois, dentro de seus muros, percebemos que as trabalhadoras e os trabalhadores não entram como objetos de estudo, mas como sujeitos que fazem a sua História e, assim, mesmo em condições que não escolheram e contras as quais se levantam, de posse do saber científico, podem compreender melhor a realidade e atuar de forma significativa sobre ela.”

Traço definidor da UFSB é a responsabilidade com a inclusão e a permanência de estudantes, pois tem como um de seus compromissos acadêmicos e políticos o acolhimento, no nível superior e na pós-graduação, de pessoas em situação de vulnerabilidade nos territórios onde se situam seus campi. Por isso, a Universidade aderiu ao sistema de cotas em todos os níveis, tendo aprovado sua política de ações afirmativas para inclusão social das pessoas negras, indígenas, trans e que tenham cursado Ensino Médio em escolas públicas. 75% de vagas do SISU e 85% dos Colégios Universitários são reservadas às cotas. A permanência de estudantes tem sido garantida, até o momento, com bolsas de apoio à permanência e diversas modalidades de auxílio.

Eva Dayane Góes, técnica em Assuntos Educacionais do Campus Jorge Amado e mestranda do PPG em Estado e Sociedade da UFSB, avalia que “com um projeto inovador, a UFB foi pensada para trazer mais oportunidades para a população do Sul e Extremo Sul baianos. Os CUNIs são uma proposta real de expansão universitária, que busca incluir aqueles que sempre estiveram à margem do ensino superior brasileiro. A UFSB colabora com o desenvolvimento econômico e acadêmico da região e precisa persistir com o plano de oferecer uma educação libertadora e de qualidade, promovendo a inclusão social, principalmente através das parcerias com a população local, dando oportunidade às minorias e sedimentando um novo caminho para a educação brasileira”. Eva completa sua leitura dos cinco anos de atuação da Universidade desejando “Vida longa à UFSB!”